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De 'geral do progresso' a 'setor bob', morte em confronto expôs organização do crime em MS
Aderso fazia parte do alto comando da organização criminosa, ocupando papel de liderança sobre os faccionados
Aderso Pereira Rodrigues Junior, de 34 anos, morto em confronto com o Batalhão de Choque na tarde desta segunda-feira (25), era faccionado e ocupou altos cargos dentro de facção criminosa de âmbito nacional. Uma investigação do Gaeco contra ele e demais faccionados expôs como a organização criminosa funcionava no Estado e as funções que ele ocupara.
Conforme investigação criminal do Gaeco (Núcleo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), realizado de janeiro a novembro de 2019, Aderso fazia parte do alto comando da organização criminosa, ocupando papel de liderança sobre os faccionados.
Dentro da organização criminosa, ele era conhecido pelos codinomes "Dalsim" e "Pietro" e teria passado por diversas áreas da facção. Segundo a investigação, Aderso atuou nos núcleos "Geral do Sistema", "Geral do Estado" e "Geral das Colônias".
Organização da Facção
De acordo com a apuração do Gaeco, a organização criminosa em Mato Grosso do Sul é estruturada hierarquicamente, com divisão de tarefas entre os membros, de modo que todos contribuem, mediante a prática de crimes, para o crescimento e o fortalecimento da facção.
A cúpula no estado seria formada pelo núcleo denominado "Resumo", composto por integrantes do alto escalão da facção, que têm como função supervisionar e definir os rumos da atuação da organização criminosa em Mato Grosso do Sul, adequando-a aos interesses e da liderança nacional.
Para dividir as responsabilidades, o "Resumo" ramifica-se em "Resumo Disciplinar", responsável pelo controle da disciplina; "Resumo Financeiro", que controla as finanças e contabilidade; "Resumo do Progresso", a parte do controle das atividades criminosas; "Resumo da Rifa", no controle do auxílio financeiro; e "Resumo do Cadastro", que controla os integrantes da facção.
Abaixo do "Resumo", aparece o núcleo "Geral do Sistema", a qual Aderso fez parte, relatou o Gaeco. Este núcleo lidera as atividades da organização no âmbito estadual, centralizando os assuntos envolvendo a facção.
Segundo a investigação, os integrantes deste núcleo repassam aos do "Resumo" todos os fatos que necessitam de deliberação superior, como também determinam aos quadros inferiores para a execução de atividades criminosas e normatizam condutas dos membros da facção, controlando e disciplinando os integrantes.
No nível seguinte, a fim de aproximar os líderes da facção com os demais membros e ter o controle das atividades criminosas e do proveito dos crimes, a organização estrutura-se tanto funcional como territorialmente, relata a investigação. A divisão funcional obedece à dinâmica da atuação criminosa, a fim de coordenar as funções essenciais para a existência da facção.
'Turma da Cocaína' e 'Núcleo da Maconha'
Assim, para cada atividade criminosa há um "Geral" liderando. A título de exemplo, segundo o MPMS, tem-se o núcleo "Geral do Progresso" como responsável por coordenar o tráfico de drogas, que se ramifica em setores de acordo com droga comercializada. Logo, existe o "Setor Óleo" (pasta base ou crack), o "Setor do BOB" (maconha) e o "Setor da Pura" (cocaína).
Já o núcleo "Geral da Rua" é responsável por comandar a prática de outros crimes, como roubos, latrocínios (roubos seguidos de morte) e furtos, bem como o sequestro e execução de membros de facções rivais.
Há também o núcleo "Geral das Ferramentas", apurou o Gaeco, que se responsabiliza pelas armas de fogo da organização, realizando o controle, custódia e empréstimo para o uso em atividades criminosas promovidas pela facção.
Já o núcleo "Geral do Sistema" exerce a liderança no interior do sistema penitenciário, possuindo diversas funções relacionadas ao controle e disciplina dos membros que estejam sob custódia do Estado. Neste núcleo, Aderso ocupou papel de liderança sobre os faccionados que estavam presos, controlando as atividades da organização no âmbito estadual, aponta a investigação.
De outro lado, o núcleo denominado "Disciplina da Rua" responsabiliza-se por controlar os integrantes da facção que não estão presos para que cumpram os deveres perante à organização. Durante as investigações, Aderso também teria revelado que passaria a integrar o núcleo "Geral das Colônias", responsável por liderar e controlar os membros que se encontram em regime semiaberto.
De acordo com o Gaeco, a facção se organizou territorialmente por todo o estado, criando um núcleo de poder para cada região dessa divisão territorial, denominado "Geral da Regional" e, ainda, subdivisões, que são os núcleos "Geral da Cidade", "Geral da Capital" ou "Geral das Regionais", "Geral do Interior" e "Geral das Comarcas".
Passagens desde a adolescência
As investigações permitiram a identificação de 49 integrantes, entre eles, Aderso. Com o fim das investigações, ele foi denunciado pelos crimes de integrar organização criminosa, associação para o tráfico e de obstrução da justiça.
Segundo a polícia, Aderso possuía diversas passagens criminais e havia saído da prisão há cinco meses. Ele possuía 18 passagens criminais por tentativa de homicídio, porte ilegal de arma de fogo, receptação, lesão corporal e várias por roubo, uma inclusive com restrição da liberdade da vítima, de acordo com as autoridades.
Aderso teria realizado as primeiras atividades criminosas quando era ainda adolescente, em 2007. Ele também chegou a ficar preso no PED (Presídio Estadual de Dourados), mas recebeu alvará de soltura no fim de junho deste ano.