Lembrança

24/07/2023 07:00

Para suportar a saudade, jovem guarda caderno de receitas de mãe falecida em Campo Grande

Caderno tem imenso valor sentimental e foi saída para filha vencer o luto

24/07/2023 às 07:00 | Atualizado 22/07/2023 às 11:04 Dayane Medina
Recepção da família no dia que voltou do hospital - Arquivo pessoal

Cinco anos após perder a mãe para o câncer, em Campo Grande, Nayara Borges, 28 anos, guarda a melhor lembrança que podeira ter, o caderno de receitas da dona Rosa.

O bem material foi saída para filha vencer o luto e a depressão e hoje ela busca alguém para ajudá-la a recuperar e encadernar o caderno.

Ninguém está preparado para perder um familiar, e Nayara passou longos anos de dor, angústia e sofrimento pela morte precoce da mãe, vítima de câncer no seio.

Tudo começou no ano de 2016, quando Rosalina Alves Fogaça descobriu o câncer. Natural de Cascavel, a mãe de família conheceu marido em Campo Grande, casou e viveu maior parte da sua vida aqui.

De família paranaense, Rosa adorava cozinhar e preparar as melhores receitas em família, sua marca registrada era seu tempero e sua dedicação em preparar o alimento da família.

Mesmo sendo uma cozinheira de mão-cheia, Rosa tinha seu caderninho de estimação onde anotada todas as receitas, livro esse que Nayara guarda com muito amor.

"Ela sabia todas aquelas receitas de cor, mas por algum motivo parecia que ela precisava deixar aquilo para nós, foi quando ela descobriu o câncer e em um ano faleceu", conta a filha.

Rosa descobriu o câncer em 2016 e no dia 2 e novembro daquele ano retirou o nódulo. "Ela voltou para casa alegre, fizemos uma bela recepção, mas um ano depois ela faleceu", detalha Nayara.

Mesmo com o tratamento, o câncer voltou agressivo e se alastrou pelos pulmões, aos 46 anos, a mãos de fada da família faleceu no dia 4 de novembro de 2017, um dia antes de fazer aniversário.

A dor da família foi enterrar Rosalina no dia mais feliz da vida dela. A perda abalou Nayara que entrou em depressão e só viu forças para sair do escuro assim que descobriu a gravidez.

"Minha filha hoje tem cinco meses, é o amor da minha vida, eu estava em depressão e só sai quando descobri que estava grávida dela, uma menina. Deus permitiu que minha mãe fosse, mas me deu uma menina para me fazer companhia", diz emocionada.

Enxergando a vida de outra forma, dando a família a verdadeira importância do amor, Nayara resolveu resgatar o caderninho da mãe e o reformar, para que ele seja passado a sua filha e ela tenha uma lembrança viva da avó que não conheceu.

"Eu quero poder passar isso para minha filha e manter minha mãe viva entre nós, ali está a letra dela, as receitas dela, quero usar e deixar para minha filha usar", explica.

A jovem, que trabalha em uma Emei, diz que as crianças atuais não tem contato com objetos, álbum fotográfico, ou bens materiais de seus entes. E por conta da tecnologia tirar isso das crianças, pretende deixar o presente a filha.

"Vivemos em um mundo onde a tecnologia nos tira esse laço de guardar lembranças fora do celular, e eu quero que ela tenha um livro com receitas e fotos da avó, espaço para dedicatória, quero criar um memorial, encapar, encadernar e passar isso dentro da nossa família", detalha a jovem.

Nayara publicou o caderno de receitas nas redes sociais e busca quem faça todo o processo de reconstrução do jeito que ela sonhou. 

"Vou envelopar as páginas igual fazemos com documentos, para garantir que nada aconteça e perca o conteúdo das receitas, vou acrescentar fotos da minha mãe, deixar espaço para que eu possa escrever nele e deixar recados a minha filha e espaço para que ela faça o mesmo quando atingir a idade. Quero ensiná-la a valorização da família e importância de mantê-los vivos dentro e nós".