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há 1 ano

Top Literário: Daisy Jones & The Six traz sinestesia, emoção e desapontamento, tudo junto

Seriado é uma adaptação do livro homônimo da autora Taylor Jenkins Reid

22/04/2023 às 13:05 | Atualizado 22/04/2023 às 12:56 Diana Christie
Daisy Jones & The Six - Divulgação/Amazon Studios

Sinestesia. Com essa palavra, eu resumiria a sensação de assistir Daisy Jones & The Six, adaptação de livro homônimo de Taylor Jenkins Reid para a Amazon Prime.

Expectadora, eu acompanhei a vida das personagens do camarote. O gosto do álcool e do cigarro está em todas as cenas. É possível sentir as texturas dos tecidos, dos cabelos e instrumentos apresentados na tela. O cheiro de noitadas sem fim acompanha até os ambientes mais limpos. E, claro, a música.

Conheci a escrita de Jenkins em Os sete maridos de Evelyn Hugo, um livro que recomendo a todos pela sensibilidade em humanizar uma estrela de cinema em uma época bem mais conservadora. O tema não é inédito (te amo, 'O Que Terá Acontecido a Baby Jane?', Henry Farrell), mas é legal ser conduzida através dos grandes segredos das celebridades. Os deuses nus.

No entanto, apesar de apaixonada pelo livro do vestido verde, senti que essa obra não era para mim neste momento e resolvi pegar o atalho chamado adaptação. O livro é melhor que o show? Não sei, mas sinto decepcionar quem acredita que uma produção audiovisual não pode superar o livro - Love, Rosie, estou falando de você. A arte se transforma em cada representação.

Costumamos ser mais apaixonados pelos livros, pois somos parte da história, vivemos os mesmos sentimentos e desafios expressos no papel para cada participante da aventura. Nos teletransportamos para dentro das páginas. Mas um filme ou uma série podem superar as expectativas, trazer rostos e atuações, elementos complementares e, neste caso específico, de Daisy Jones & The Six, também as melodias.

Confesso que achei a fórmula da autora um pouco repetitiva. Mais uma vez, ela explora os bastidores da fama, com o bom e o ruim, e faz a história se transformar sobre uma pessoa aparentemente secundária. Tem também o que eu chamo de linha de produção Nicholas Sparks: alguma doença dramática - John Green, de A Culpa é das Estrelas, também bebe dessa fonte.

Tirando essa marca d'água que alguns autores costumam imprimir, Daisy Jones & The Six foi uma experiência muito agradável. Senti a música fluindo dos compositores como as palavras surgem em minha mente na hora da escrita. Gostei das letras e até adicionei o álbum Aurora na minha playlist para ouvir mais vezes.

Chorei com a trajetória de cada um e me indignei com as escolhas incoerentes de todos. Mas não é assim a vida? Erramos, aprendemos, brigamos, perdoamos, sorrimos, choramos, amadurecemos e continuamos com escolhas ruins. Ser humano é ser falho e aceitar isso é o único caminho para tentarmos ser melhores. Sem dar spoilers, isso é tudo que eu posso falar sobre o enredo.

Em segundo lugar, falo sobre as atuações. Sam Claflin pode interpretar uma pedra, que ficarei curiosa em assistir, pois protagonizou dois dos meus filmes favoritos: Jogos Vorazes e Love, Rosie. Isso sem falar em 'Como Eu Era Antes de Você', outra adaptação literária para o cinema, que conta com Emília Clarck e pega pesado com os nossos corações. Ele fez um ótimo Billy Dunnie, o rock star, mas entregou pouco sobre o homem conflituoso, que luta contra vários vícios e emoções confusas.

Riley Keough está esplendorosa como Daisy Jones, a voz, a instabilidade, a transformação. Ela realmente é a cereja do bolo de uma banda mais ou menos, o tempero que faltava em uma comida sem sal. Nossa personagem invisível, que é a principal da história, bom, melhor eu não comentar...

Conclusões: é um ótimo drama com altas doses de nostalgia para maratonar em um fim de semana frio, com um balde de pipoca e, se possível, um microfone junto. Chá é opcional.

Por outro lado, a história me decepcionou, seja por não ser assim tão imprevisível (ao menos para quem já conhece a autora), pelas canções seguirem quase que o mesmo ritmo sempre (só lembro de Renato Russo brincando que qualquer um poderia tocar suas músicas no violão) e também porque eu odiei o final. Quanto essa parte, está tudo bem, viu? O final me deixou com raiva, mas retrata a vida. Eu não gosto, mas não significa que não acontece.

Sugestões de leituras e temas para a coluna: @dihchristie