há 2 anos
Bolsonaristas boicotam 'comércios petistas' em Bonito; empresários se revoltam
Alguns comerciantes sequer se manifestaram politicamente
Lista com nomes de dezenas de empresas de Bonito, circula em grupos de WhatsApp, na cidade. Mas não é para fomentar vendas e sim, segundo denunciantes, uma ação coordenada por bolsonaristas, contra empresários considerados ''petistas'', em vingança pela derrota nas eleições.
Conforme o denunciante, um dos grupos suspeitos se chama ''Resistência Bonito MS''. Assim como confirmado pela reportagem, há cerca de 30 empresas classificadas como ''petistas'' e, portanto, não merecem serem prestigiadas.
O TopMídiaNews entrou em contato com o número do grupo. Uma jovem, que disse ter 23 anos e é uma das administradoras, negou que a lista tenha circulado nesse espaço.
''Recebi só no privado e só na segunda-feira... não vi nada no grupo'', respondeu a ativista. Ela disse que no grupo foram postados somente lista de comércios que seriam de ''direitistas'' e de estabelecimentos que fecharam, na segunda-feira (1º), em protesto contra o resultado das eleições.
A jovem, que preferiu não se identificar, disse que não apoia a iniciativa.
''Minha família tem comércio. Imagina se os petistas não forem comprar lá'', refletiu.
Por respeito e a pedido dos empresários, o site não vai divulgar nomes de empresas. Ainda segundo apurado, há comércios tradicionais e mais novos, entre os ''proibidos''.
Ainda de acordo com o denunciante, há empresários que sequer são de esquerda ou se manifestaram a favor do PT.
Abrasel
Algumas mensagens – tidas como ofensivas pelo denunciante, foram publicadas em um grupo de membros da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, a Abrasel, Serra da Bodoquena.
O presidente da entidade, Silvio Trujillo, 46 anos, disse que é um dos administradores do grupo e excluiu uma postagem, que sugeria que todo comerciante ''petista'' colocasse adesivo com a estrela símbolo do partido na fachada.
''...foi prontamente rechaçada. Não temos nenhum interesse em boicote. Somos 20 mil habitantes. No ramo do turismo, somos dependentes uns dos outros, seria inviável qualquer tipo de boicote'', refletiu o gestor.
Sobre a lista com nomes de comércios a serem boicotados, Silvio disse que teve conhecimento, mas que a ideia morreu no mesmo dia.
''Não prosperou... provavelmente veio no momento de fraqueza de quem fez'', disse o dirigente, que garante que não houve prejuízo a nenhum comerciante da cidade.
Ódio
Dona do bar mais tradicional e conhecido de Bonito, uma empresária de 57 anos, disse que ficou sabendo da lista de boicote, há cerca de três ou quatro dias.
''É um absurdo. Eles estão doentes, cegos, não conseguem visualizar outra coisa a não ser prejudicar os petistas'', lamentou a comerciante. Ela destacou que não teve prejuízo até o momento, porque trabalha com turistas. Ou seja, o público local é que estaria promovendo o boicote.
''Tem comércio pequeno que está sendo prejudicado, tem lugar que não entra uma viva alma'', lamentou a empresária, estabelecida há 27 anos. Ela prefere esperar para ver se a situação vai persistir e tem medo pelo momento de tensão na sociedade.
O denunciante lamentou também o fato de pessoas que não se posicionaram na política e que podem ser prejudicadas nesta ''guerra''.
''... mas só o fato de não serem pró-Bolsonaro já é suficiente'', observou o reclamante. Ele acrescentou que a lista pode caracterizar crime contra o consumo e vai ao Ministério Público.
''É uma iniciativa de perseguição que lembra muito o que os nazistas fizeram com os judeus na época de Hitler e muito triste que isso se repita nos dias de hoje. É revoltante e inadmissível'', desabafou.
Um empresário, que segundo o denunciante, estaria fomentando a lista de boicote, conversou com a reportagem. Ele admite que circulou lista de comércios na cidade, mas que eram de ''bolsonaristas'' e ''petistas'' e que não tinham nenhuma intenção de promover boicote.
''era mais posicionamento politico mesmo'', disse o empresário, que é dono de um balneário na região.
Mais denúncia
Em São Gabriel do Oeste, uma empresária disse que foi coagida a aderir à greve de empresas, cujos donos são bolsonaristas.
''Fui ameaçada a fazer o que eles querem para não entrar na 'lista negra' e ser boicotada'', desabafou a comerciante.
A vítima destacou que os comércios são vigiados e quem não seguir as ordens, têm o nome levado ao organizador do protesto. Ela se mostrou desesperada por tamanha opressão.