13/09/2022 12:24
Colecionador de armas que matou ex-mulher e filho era estudante de medicina na fronteira
Ezequiel Lemos Ramos, de 39 anos, obrigava mulher a pagar o curso e já tinha sido preso em Ponta Porã
O CAC (colecionador de armas, atirador desportivo e caçador) Ezequiel Lemos Ramos, de 39 anos, que matou a tiros a ex-mulher e o filho caçula, em frente a uma escola na Zona Leste de São Paulo, nessa segunda-feira (12), era estudante de medicina e morava em Ponta Porã-MS.
Conforme o G1, o criminoso estava no quarto ano do curso de medicina em uma faculdade de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia localizada na fronteira com MS. A vítima Michelli Nicolich era quem pagava as contas da casa e até a faculdade de Ezequiel. O casal morou em Ponta Porã por cinco anos, até Ezequiel espancar Michelli e ameaçá-la de morte há cerca de quatro meses.
A mulher fugiu com os filhos para São Paulo, mas foi encontrada e morta ontem.
Agressão em Ponta Porã
Em maio deste ano, Michelli ainda morava em MS e acionou a Polícia Militar. Conforme o registro policial, o suspeito bateu na vítima durante uma discussão por ciúme, ele deu um soco no rosto dela, sacou uma pistola e teria ameaçado atirar contra a cabeça da vítima.
Michelli contou à polícia que estava desconfiada que o marido pudesse estar traindo ela, e o confrontou, mas foi ameaçada.
“Vou ficar longe de você pra não dar um tiro na sua cara, para eu não ser preso; assim é fácil morrer, não preciso pagar pistoleiro, eu mesmo faço”, ameaçou Ezequiel.
Ainda conforme o registro policial, na delegacia ele voltou a ameaçar a vítima dizendo “Você é louca de fazer BO, se você abrir a boca e fazer BO você vai ver”.
Ezequiel tinha documentos para ter um fuzil, uma pistola e uma espingarda. Já naquela época, a delegada que atendeu o caso, Marianne Cristine de Sousa, alertou a Justiça sobre o risco em deixar Ezequiel responder em liberdade.
(Ezequiel foi preso após ameaças, mas Justiça de MS o soltou. Foto: DAM/MS/g1)
“O acusado, com fácil acesso às armas de fogo e um verdadeiro arsenal, poderia a qualquer momento ceifar com a vida de sua companheira e de seus dois filhos menores, de modo que é notório que o mesmo poderá continuar delinquindo no decorrer da persecução penal caso mantido em liberdade, tendo em vista notícias fornecidas pela vítima de que o autor já matou cerca de três pessoas e continuou impune, mudando de cidade”.
No depoimento na DAM de Ponta Porã, Michelli avisou que voltaria para São Paulo, onde nasceu e revelou ser ela quem pagava as contas da casa e até a faculdade do marido. Afirmou ainda que tinha medo de que Ezequiel saísse da cadeia e “concluísse as ameaças”.
A delegada então pediu medidas protetivas para a vítima, além de reforçar a necessidade de manter o homem preso. No documento, listou que Ezequiel não deveria se aproximar da mulher ou da família dela, nem manter qualquer tipo de contato com eles, deveria também se afastar de casa e ter a posse da ama suspensa.
Liberado pela justiça de MS
A defesa de Ezequiel pediu a liberdade do acusado, e 1 de junho, a Justiça concedeu. O juiz considerou os documentos de CAC e o fato de Ezequiel ser réu primário.
Ezequiel não podia sair da cidade sem autorização e deveria usar tornozeleira eletrônica por 180 dias. Porém, ele ficou com o aparelho de monitoramento até o dia 13 de julho.
O caso
Nessa segunda-feira (12), o colecionador de armas perseguiu a ex-mulher que estava com os dois filhos dentro do carro, e toda a cena foi gravada por câmera de segurança. Ezequiel perseguiu a ex-mulher a pé pela avenida Rodolfo Pirani, no Parque São Rafael atirando. O Fiat Uno branco das vítimas chegou a bater num poste perto da escola infantil O Rei Leão, onde as crianças estudavam.
Em seguida, ele chegou mais próximo ao carro e continuou a efetuar os disparos com uma carabina. Dentro do veículo estavam Michelli Nicolich, de 37 anos, e dois filhos do ex-casal, de 2 e 5 anos.
Além da mulher, o menino mais novo, Luiz Inácio Nicolich Lemos, também foi atingido pelos disparos. Os dois chegaram a ser socorridos, sendo levados para hospitais da região, mas não resistiram aos ferimentos e morreram. O garoto mais velho sobreviveu. Ele não teria sido atingido pelos tiros.
Ezequiel foi detido em flagrante por um policial militar de folga e sem uniforme que passava pelo local. O homem se rendeu e já estava desarmado. Ele foi levado ao 49º Distrito Policial (DP), São Mateus, onde foi indiciado pelos crimes de duplo homicídio doloso qualificado por feminicídio e emboscada e tentativa de homicídio.