Polícia

26/04/2022 09:30

Policiais são presos por extorquir vítimas de roubo de caminhão em Ponta Porã

Vítimas são moradoras do estado de Santa Catarina e tiveram que pagar R$ 5 mil para terem o bem de volta

26/04/2022 às 09:30 | Atualizado 26/04/2022 às 09:31 Antonio Bispo
Policiais estavam lotados na 2ª delegacia de PCMS - Arquivo/Sejusp

Quatro policiais civis lotados na 2ª delegacia de Polícia Civil de Ponta Porã foram presos, nessa segunda-feira (25), acusados de extorquirem um casal vítima de furto de caminhão, exigindo que eles pagassem uma quantia em dinheiro para ter o bem de volta.

Conforme ocorrência, o caminhão Scania P340 foi roubado no dia 5 de abril, na cidade de Queimados (RJ).

Entretanto, no dia seguinte, durante fiscalização na rodovia, policiais rodoviários federais tiveram êxito em recuperarem o veículo na cidade de Ponta Porã, distante 334 quilômetros de Campo Grande.

Os agentes federais entregarem o bem furtado na delegacia da cidade e entraram em contato com as vítimas para avisarem sobre o ocorrido.

Dessa forma, o casal, morador da estado de Santa Catarina, se deslocou até Mato Grosso do Sul para reaver o caminhão. Ao pararem em um posto policial no estado do Paraná, foram informados para que entrassem em contato com uma escrivã aposentada da Polícia Civil, que auxiliaria na restituição do bem.

Ao falarem com a mulher por WhatsApp, foram informados que deveriam procurar um escrivão em específico da 2ª delegacia de Polícia Civil.

Quando chegaram na unidade policial, foram recepcionados por outro homem e, posteriormente, no período vespertino, pelo escrivão indicado pela mulher, bem como por um investigador de polícia, também aposentado.

Na ocasião, os policiais disseram às vítimas que liberariam a carreta mediante pagamento de "um agrado" para o delegado de polícia.

Com isso, o casal informou que tinha apenas R$ 300, pois havia gastado o restante com a viagem até MS. Receberam como resposta de um dos policiais, que com o valor não levariam "nem as chaves do caminhão".

Um dos acusados saiu da sala e disse que iria conversar com o delegado. Quando retornou, afirmou que a autoridade policial havia exigido a quantia de R$ 20 mil.

Sem terem o que fazer, as vítimas disseram que tudo o que tinham naquele momento era R$ 4 mil, que seriam utilizados para pagar as despesas da viagem de volta e aquisição de alguns itens da carreta necessários para o deslocamento.

O escrivão continuou achando baixo o valor. A vítima, acuada, disse que tinha mais R$ 1 mil na conta, sendo orientada a fazer transferência via Pix na conta dele, e deixar o restante em espécie na mesa.

Enquanto aguardavam o encaminhamento para receberem de volta o veículo, observaram que outros servidores desfilavam pela delegacia com caixas de cerveja, carnes e utensílios utilizados para churrascos, levando-os a entender que aquilo era fruto do dinheiro pago por eles.

Ao receberem o caminhão, notaram a falta de diversos itens dos veículos que antes estavam ali, quando os PRFs enviaram foto do bem recuperado na rodovia.

Quando retornaram para Santa Catarina, receberam uma mensagem no celular de um dos acusados, com os dizeres "qualquer pessoa que nunca cometeu um erro, nunca tentou nada de novo", o que interpretaram como uma ameaça com o fim de manterem o silêncio sobre os fatos.

As vítimas denunciaram os acusados e equipes de investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado - GAECO passaram a investigar o caso.

Após quebra de sigilo bancário, foi possível observar que cinco dias após a data dos fatos, o suspeito depositou R$ 3,3 mil em sua conta, valor condizente com a vantagem ilícita.

Assim, foi solicitado a prisão temporária dos quatro acusados. O delegado não é alvo da investigação. Todos passarão por audiência de custódia nesta terça-feira (26).