27/01/2022 17:06
Adolescente cuidava do irmão e era ameaçado para não denunciar assassinato da mãe
Francielle Guimarães Alcântara, 36 anos, foi torturada e morta no Portal Caiobá
Adolescente de 17 anos, filho de Francielle Guimarães Alcântara, 36 anos, sofria violência psicológica e era ameaçado pelo pai para esconder que a mãe estava sendo torturada, no Portal Caiobá, em Campo Grande. Ele também era responsável pelos cuidados do irmão, de 1 ano e 8 meses.
“Contra ela foi violência física e psicológica. Contra o adolescente de 17 anos, violência psicológica com ameaça para que mantivesse aqui em sigilo, não conversasse com terceiros. Com relação ao bebê, foi uma ameaça assim: ‘faz essa criança parar de chorar senão eu vou utilizar os meus meios’. Segundo consta, era o adolescente que fazia tudo na casa, quem limpava, cozinhava, dava banho na criança”, conta o delegado Camilo Kettenhuber, da 6° Delegacia de Polícia.
Francielle morreu após ficar quase um mês sendo torturada pelo marido, Adailton Freixeira da Silva, 46 anos. O corpo da vítima foi encontrado na última terça-feira (25). Segundo o delegado, o caso chegou a ser registrado como morte natural pelo médico que atendeu a ocorrência, mas o laudo foi revisto pela perícia policial.
“Não foi morte natural. Existem sinais de lesões que indicam agressões por todo o corpo, inclusive é compatível com tortura. Ela tem lesão provocada por faca nas costas. O cabelo está cortado bem baixinho, lesões na cabeça, dente quebrado, unhas quebradas, hematomas pelo corpo, as nádegas dela ficaram na gordura viva, não tinha mais pele nem epiderme. Ela usava bandagens para se vestir e sentar”, detalha Camilo.
O marido Adailton Freixeira teria dito aos filhos e à equipe do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) que a mulher tinha problemas psicológicos e fazia tratamento. “Ele disse que ela tomou remédio, tinha comprimido na boca dela e, em razão disso, ela acabou morrendo. Ele queria induzir ao erro que ela teve uma parada cardíaca e veio a óbito”, explica o investigador.
O caso chocou não apenas os médicos legistas, mas também a equipe policial. Com 11 anos de carreira, Kettenhuber diz que nunca se deparou com um crime assim. “Eu nunca lidei com um caso tão ruim”.
A tortura teria começado no dia 1° de janeiro. Conforme a investigação, o acusado alegou às vítimas que a mulher merecia sofrer por suposto relacionamento extraconjugal, que teria gerado a criança menor. Logo após a morte de Francielle, ele fugiu em uma motocicleta Honda CB 300 preta.
O caso, apesar de ter sido investigado pela 6° DP, foi encaminhado para a DEAM (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), por se tratar de um feminicídio. Adailton deve ser indiciado por feminicídio, cárcere privado e tortura qualificada pela morte.