05/08/2021 10:38
Operação Magia Negra prende quatro suspeitos de morte de criança em ritual espiritual
Todos serão indiciados pelo crime de homicídio qualificado pelo meio cruel
A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Miranda, com apoio da 1ª Delegacia de Aquidauana, realizou hoje (5), uma operação policial denominada “Operação Magia Negra”.
Os policiais cumpriram mandados de prisão de indivíduos envolvidos na morte de uma criança de 9 meses, em um ritual espiritual em aldeia indígena, em fevereiro deste ano.
De acordo com a polícia, foram presos os pais da criança e os dois curandeiros sendo: E.M.S. (33), C.P.J.S. (34), G.P.J. (33) e F.J. (30).
Todos serão indiciados pelo crime de homicídio qualificado pelo meio cruel.
O mandado de prisão foi expedido após o trabalho de investigação feito pela Polícia Civil e após a representação pela prisão preventiva dos autores por parte da autoridade policial. Conforme o delegado responsável pelo caso, Pedro Henrique Pillar Cunha, as investigações terão continuidade, no intuito de identificar outros envolvidos.
O caso
Em fevereiro de 2021, chegou ao conhecimento da unidade policial de Miranda que uma criança indígena de nove meses tinha dado entrada no Hospital Regional já em óbito.
A criança apresentava diversas lesões e queimaduras pelo corpo, todas circuladas com uma tinta vermelha e cobertas por uma espécie de pó preto e possuía um terço com cruz de maneira envolto em seu pescoço.
O Setor de Investigações Gerais (S.I.G.) da Delegacia de Polícia de Miranda, iniciou investigações no intuito de apurar os fatos. Averiguou-se que a criança foi levada ao hospital pelos pais e outros parentes, que alegaram apenas que o bebê estava com “sapinho”.
A mãe, aparentando tranquilidade, chegou ao hospital fingindo que a criança ainda estava viva. No entanto, no momento da triagem, a enfermeira constatou que a criança estava em óbito há pelo menos 40 minutos.
Os funcionários e médicos do hospital informaram que não existia nenhum indício de “sapinho” na criança. O fato que causou estranheza é que, após a notícia do óbito, os pais e parentes reagiram com extrema frieza, sem reação compatível com o falecimento de um filho, levantando suspeitas de que já sabiam que a criança estava morta.
O laudo necroscópico concluiu que a criança faleceu de septicemia (infecção generalizada), provavelmente decorrente da lesão na inguinal.
Apurações preliminares apontam que diante da proximidade da data dos fatos com festas religiosas típicas que envolvem sacrifícios e consagrações a entidades, bem como a presença da tinta vermelha e pó preto envolvendo a criança, levantou-se a linha de investigação sugestiva da prática de ritual espiritual com a criança.
Os pais da criança deram informações contraditórias sobre as lesões e incompatíveis sob o ponto de vista médico, chegando a relatar que os ferimentos surgiram no mesmo dia e “do nada”.
Após aprofundamento nas investigações, os genitores confessaram que levaram seu filho de 9 meses a uma dupla de curandeiros locais.
A criança foi submetida a procedimentos espirituais durante 4 dias seguidos, num local chamado “santuário”, onde existiam a presença de diversas imagens de entidades religiosas. Informaram que as lesões no corpo surgiram após os rituais e que a mancha de pó preto e tinta vermelha também são oriundas destes procedimentos, que duravam aproximadamente 1 hora.
Um dos curandeiros também informou que fizeram os referidos procedimentos ritualísticos (simpatias) com a criança, para promover sua “cura”. Relatou que, de fato, realizaram as queimaduras de cigarro e cinzas de cigarro quentes, invocando entidades espirituais neste ato.
A caneta vermelha era consagrada a entes espirituais e era utilizada para circular as lesões. Após o quarto dia de rituais, a criança começou a apresentar febre e inchaço abdominal, sendo levada a outra “curandeira”, que reside em aldeia no município de Miranda.
Segundo relatos, esta curandeira seria conhecida por realizar rituais satânicos e magia negra. Na residência desta curandeira, a criança foi levada a um quarto, onde teriam diversas imagens de entidades religiosas, sendo que entoaram cânticos, invocando tais entidades, bem como passaram óleo com sementes pretas.
Após isso, a curandeira informou que o “santo” lhe disse que “não era mais com ele” e deveriam levar a criança ao médico, o que foi feito. No entanto, a criança já estava morta.