Política

há 3 anos

Oposição em MS repudia ameaça de golpe enquanto bolsonaristas 'endeusam' Messias

Estadão revelou que o ministro da Defesa, Braga Neto, fez ameaças de ruptura democrática caso não haja voto impresso; Bolsonaro vem avisando há dias que não "aceita eleição sem voto auditável"

22/07/2021 às 11:00 | Atualizado 22/07/2021 às 19:13 Vinícius Squinelo
Suposta ameaça de golpe agita mundo político - Andre de Abreu/ Wesley Ortiz/ Lucas Nascimento/ Beto Barata/Carolina Antunes/ Gustavo Lima

Parlamentares oposicionistas de Mato Grosso do Sul estão preocupados com a ameaça de golpe supostamente feita pelo ministro da Defesa, Braga Neto ao gabinete do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Conforme revelado pelo Estadão, o recado para o deputado é de “que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável”. Enquanto isso, bolsonaristas fanáticos endeusam o Messias, cada vez mais.

Defensor da Constituição e da democracia, o deputado Fábio Trad (PSD) afirmou no Twitter que não admitirá chantagens.  “Com a revelação pelo Estadão da ameaça de golpe feito por Braga Netto na frente de Artur Lira, defendo o chamamento imediato do ministro à Câmara dos Deputados para se explicar sobre os fatos. Nossa Democracia não pode viver sob chantagem. A Constituição do Brasil resistirá!”

A informação do Estadão, diz que ao dar o aviso ao parlamentar, o ministro Braga Neto estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Após a visita indigesta, Lira teria procurado Jair Bolsonaro e dito que continua o apoio, mas que  não contasse com ele para qualquer ato de ruptura institucional.  Nesta ocasião, Bolsonaro garantiu ao deputado que não defenderia um golpe, mas repetiu as falas de “não sair do poder sem voto impresso” e outras que atingem a democracia em lives e a apoiadores do cercadinho. 

Cobrou o Congresso

Presidenciável, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) cobra explicação. "A imprensa livre noticia um crime contra a Democracia. Crime organizado e premeditado. Que o presidente diga a que veio! Que o General mostre a cara. Que o presidente da Câmara se levante. Que o intermediário se apresente. Que o Congresso exista. Nós estamos aqui!".

Para Trad, o presidente da Câmara deveria ter agido rápido. “No momento em que foi comunicado da intenção golpista revelada pelo meio de ameaça do ministro, o presidente da Câmara deveria ter adotado urgentes providências político-institucionais em defesa do Estado democrático de Direito. Era seu dever e responsabilidade legal.”

(Deputados Fábio e Vander cobraram explicações e repudiam quaisquer riscos de golpe. Foto: Câmara dos Deputados)

Militares fora da política

"Sobre a ameaça do Braga Netto, minha posição sobre essa e outras questões é muito clara: militar tem que cuidar das nossas Forças Armadas, da defesa das nossas fronteiras e de ações humanitárias e emergenciais em que sejam requisitadas. Ponto. Militar não tem que se meter com política", afirma o deputado federal Vander Loubet (PT), que reforça o fato de Bolsonaro ter sido eleito pelo voto das urnas eletrônicas. Ele cita que a ideia do voto impresso faz parte de um movimento para tumultuar as eleições de 2022.

"Faz parte da estratégia de criar uma narrativa para contestação em caso de derrota, afinal, todas as pesquisas mostram o Lula com ampla vantagem. Vão alegar fraude, a mesma estratégia que o Trump adotou quando perdeu nos EUA. Tenho o maior respeito pelas nossas Forças Armadas, até porque sou filho de um militar da reserva do Exército, mas se os militares querem respeito precisam saber respeitar. Essas ameaças do Braga Netto e de outros fardados só reforçam o quanto não sabem lidar com a democracia."

 A subida de tom de Braga Netto se dá justamente no momento em que a CPI da Covid passa a descobrir o envolvimento de militares nas negociações para a compra de doses de vacinas. E Loubet destaca essa situação.

"Estão acuados por conta dos casos de corrupção envolvendo generais e coronéis dentro do governo e das pesquisas eleitorais que mostram o Lula na frente em 2022. E acham que o caminho é ameaçar nossa democracia. Isso não vai nos intimidar, nossa democracia é muito mais forte que essas bravatas golpistas."

Eleições vão ocorrer

Para a senadora Simone Tebet (MDB) nada impede que ocorra eleições em 2022. "Braga Netto diz que é invenção. Verdadeiro  ou falso o episódio, com ou sem voto impresso, vai haver eleições o ano que vem.  É o que diz a Constituição. Supremo e Congresso  vão garantir que elas aconteçam."

“Escolhido de Deus?”

Em compensação, bolsonaristas como o deputado estadual Coronel David (sem partido), por exemplo, acredita que o Bolsonaro é uma espécie de ‘Messias’ e enviado de Deus. Ele dá coro ao apoio incondicional ao presidente. Ele culpa a mídia por divulgações de informações que não sejam a favor do presidente. David afirmou em vídeo no Facebook que “ninguém derrubará” Bolsonaro. 

“Nunca tivemos um Presidente tão atacado por mídias, esquerdistas, anticristãos, abortistas, etc. Mas também nunca tivemos um tão cristão, honesto e temente a Deus que a população apoiasse tanto. Ninguém derrubará aquele que o senhor levantou!”.

(Foto: Reprodução Facebook)

(Atualizada às 11h40 para acréscimo de posicionamento da senadora Simone Tebet)