25/05/2021 09:34
Pessoas com Alzheimer têm risco 3 vezes maior de sofrer casos graves de covid
Estudos já mostraram que pacientes com Covid-19 desenvolvem sequelas neurológicas com frequência, um percentual que pode chegar a 60%
O mal de Alzheimer, de todas as comorbidades da Covid-19, causa risco de agravamento de significativo.
Conforme um estudo de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Butantan, o risco de pessoas com esses distúrbios neurológicos sofrerem casos graves ou morrerem de Covid-19 chega a ser três vezes maior.
“Ficamos realmente impressionados com o peso das demências sobre o agravamento da Covid-19. Sozinhas, elas têm mais impacto do que doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade, consideradas as comorbidades mais importantes para o agravamento da Covid”, destaca Sergio Ferreira, um especialista em doenças neurológicas e professor dos Institutos de Biofísica e de Bioquímica Médica da UFRJ.
O nome do estudo publicado na revista científica Alzheimer’s & Dementia é autoexplicativo: “Dementia is an age-independent risk factor for severity and death in Covid-19 in patients” (Demência é um fator de risco independente para a severidade e morte na Covid-19).
Numerosos estudos já mostraram que pacientes com Covid-19 desenvolvem sequelas neurológicas com frequência, um percentual que pode chegar a 60%, em diferentes graus de gravidade.
Conforme a nova pesquisa, pessoas que já têm doenças neurológicas como demência acabam tendo um agravamento da Covid-19.
O estudo se baseou em análise epidemiológica. Foram analisados dados do UK Biobank. Trata-se de um projeto que há 15 anos acompanha 500 mil voluntários no Reino Unido, com exames de saúde periódicos.
“É um grave problema de saúde pública. Mais de um milhão e meio de pessoas sofrem de demências no Brasil. É preciso garantir que elas sejam vacinadas. Mesmo que tenham que ser vacinadas em casa”, ressalta Ferreira.
Estima-se que 40% das pessoas acima dos 85 anos sofram de demência, e o Alzheimer representa 70% dos casos. No mundo são 35 milhões de pessoas, mais de um milhão das quais no Brasil.
Ainda assim, há poucos recursos para os doentes. O último remédio licenciado é de 2003 e oferece ação muito limitada. Na melhor das hipóteses, retarda por um ano o declínio do cérebro.
Conforme a pesquisa, os mecanismos pelos quais o cérebro pode ser afetado na Covid-19 permanecem em aberto.
Uma possibilidade é que a inflamação que acomete todo o corpo provoque uma série de efeitos nocivos no cérebro.
O pesquisador explica que existem indícios de que o coronavírus possa também acometer o sistema nervoso central, mas isso não explica todos os tipos de distúrbios observados.
Todavia, se sabe que o cérebro com mal de Alzheimer é um cérebro com inflamação. E a Covid-19 também provoca inflamação.
“Não desvendamos todos os mecanismos da Covid-19, mas sabemos que ela afeta o cérebro e que pessoas com distúrbios prévios são mais vulneráveis e precisam ser protegidas. Vacinação de todos é imprescindível”, enfatiza o cientista.