Interior

13/05/2021 17:00

Indígenas acusam hospital de negligência em morte de mãe e bebê

A mulher e o bebê morreram no dia 13 de março, em Aquidauana

13/05/2021 às 17:00 | Atualizado 13/05/2021 às 14:04 Dany Nascimento
Ruth tinha 38 anos e aguardava ansiosa pela chegada do filho - Arquivo Pessoal

Revoltados com a morte da terena Ruthe Luiz Mendes, 38 anos, da Aldeia Ipegue, um grupo de indígenas realiza um manifesto amanhã (14), às 15 horas, na frente do Hospital Regional de Aquidauana. 

Ela, que estava grávida de oito meses, morreu no dia 13 de março. O bebê morreu primeiro e a indígena veio a óbito após ficar com o filho morto na barriga. 

O esposo dela, Elciney Ciney, afirma que a mulher deu entrada no local sangrando. 

“Ela estava com sangramento e fortes contrações. Foi atendida pelo médico de plantão, orientada que seria encaminhada para Campo Grande porque o hospital não estava preparado para fazer o parto prematuro. Ela fez deslocamento de placenta e isso só confirmava por ultrassom. O médico falou que não sabia manusear o equipamento e não tinha operador no local. Fez protocolos na paciente, detectou que o bebê já não tinha mais batimentos cardíacos”, disse o esposo.

Segundo o pai, após constatar a morte do bebê, o médico disse que era necessário realizar um ultrassom. 

“No outro dia realizou exame, ficou com bebê morto até às 9 horas do outro dia. Com a chegada do técnico de ultrassom, constatou que houve deslocamento do cordão umbilical, seguido de sangramento, que resultou em um coágulo. Ela deveria passar com urgência por uma cesária, para retirada do bebê. A partir daí ficou tudo mal explicado, o que poderia ser um nascimento prematuro se transformou em verdadeira tragédia na vida da nossa família”, afirma o marido. 

Dionédison Terena, 43 anos, colaborador da mobilização, disse que os terenas querem justiça, já que outras mulheres correm o risco de passar pela mesma situação na cidade. 

“Hoje, o sentimento é que não podemos aceitar que o hospital não tenha técnico de plantão para esse ultrassom, outras pessoas correm risco de morte. É violência obstétrica, foi isso que causou a morte dela e do bebê. Isso acontece muito, principalmente com pacientes indígenas, ocorre muito. Geralmente, as pessoas não têm coragem de se manifestar, o medo toma conta, vamos fazer diferente, vamos cobrar, amanhã faremos a manifestação com apoio de vários movimentos, cobrando justiça”, finaliza o colaborador. 

Outro lado

Em nota, o Hospital Regional Doutor Estácio Muniz destacou que tem prestado todos os esclarecimentos às autoridades que investigam os fatos. 

Além disso, a unidade pontuou que foi aberto um procedimento administrativo onde o médico foi afastado e não faz mais parte da escala médica desta Unidade Hospitalar. 

“O Hospital já se manifestou junto a Polícia Civil, onde há inquérito policial que apura os fatos, também se manifestou na Defensoria Pública, junto ao Comitê de Mortalidade Infantil do município e também ao Ministério Público Estadual e ao Ministério Público Federal”, finalizou a instituição.