TEMA LIVRE

01/04/2021 10:50

Março das perdas, das lutas, da resistência: março, marco da tragédia

Tema Livre: artigo de uma mãe, vítima da dor do covid-19

01/04/2021 às 10:50 | Atualizado 01/04/2021 às 10:55 Por Marlene Ricardi
Gra se foi, ficam as dores e a saudades - Arquivo pessoal

Hoje eu queria falar do mês das mulheres, do mês que denunciamos os abusos, os assédio, as violências, o feminicidio. Mas hoje quero falar de uma mulher especificamente, de uma jovem mulher, PROFESSORA da rede pública estadual, tragada pela Covid, no dia quatro desse mês de março, após quinze dias de internação hospitalar.

Minha filha, Grazielly Ricardi de Souza, mulher de luta, muitas lutas. A menina denunciou o descaso com a pandemia desde as primeiras vítimas, se solidarizou, chorou, rezou e pediu em todas as suas redes sociais, CUIDEM-SE! NÃO SAIAM DE CASA!!! USEM MÁSCARAS!!!

Grazi se indignou com a necropolitica, com a destruição  do Brasil, com os desmontes, as privatizações pra enriquecer o núcleo familiar de um  governo e de uma corja que o acompanham, que desdenham das vítimas desse vírus devastador, letal e dos seus familiares.

Hoje 31 de março, é mais uma vez um marco de tragédia, destruição, aflição, corações  enlutados, famílias  inteiras combalidas, UTIS lotadas, hospitais e UPAS atendendo pacientes sem as mínimas condições de humanidade,  como aconteceu essa semana com uma professora da rede pública e, tantos outros pacientes anônimos (as), cuja dignidade parece ter sido arrancada, à partir do diagnóstico da Covid.

Minha filha, Grazi, teve atendimento hospitalar, teve respeito, teve dignidade, teve UTI, não precisou amargar nenhum dia a espera de leito/vaga em UTI. 

Entretanto, poderia não ter contraído a doença, caso houvesse prioridade nas vacinas para os professores e professoras. 

Um país que está matando seus educadores, suas educadoras, talentosas, criativas, comprometidas com seus alunos e com a profissão que escolheram, como era a minha menina. Uma PROFESSORA, competente e compromissada com seus gafanhotos (as), como chamava seus alunos.

Grazielly era bióloga, mestranda na UFGD. Daquelas biólogas apaixonadas, ativistas  que chorava e denunciava a destruição da Amazônia, do Pantanal, dos animais mortos noite e dia nas pistas/rodovias desse estado, e do país. Não tem política pública que freie,

que dê um basta nessa matança, nessa destruição de pessoas humanas, animais,  águas, plantas e ar. 

E, as que existem estão sendo desmanteladas, as leis ignoradas, ou mudadas seu teor, sua interpretação, ao bel prazer de interesses particulares.

Esse 31 de março é dia de dizer BASTA! BASTA! BASTA!!!!

Basta de Negacionismo, BASTA ao genocidio, BASTA de apologia, atos e atitudes nazistas e racistas. BASTA  dessa necropolitica predadora da vida humana e da vida do nosso planeta.
Por GRAZIELLY, por todas as Grazi (s), por todas as mães que, assim como eu, choram, pranteiam e se desesperam ao verem suas filhas e filhos sendo levadas por essa pandemia, dessa vida terrena, em tão tenra idade, com tanto a contribuir, a aprender e a ensinar. E aqui, eu  junto as poucas forças que ainda me restam, para me solidarizar, abraçar essas famílias, defender a ciência,  como a minha Grazi fazia e, agradecer: a minha filha pela oportunidade de ser sua mãe; aos médicos e médicas, enfermeiros e enfermeiras, fisioterapeutas e demais profissionais: dos serviços gerais, os/as nutricionistas, trabalhadores/as do Hospital Regional de Aquidauana, que cuidaram, trataram da minha Grazi, a minha eterna gratidão. Força, luz, saúde e sabedoria a todos e todas vocês.

Quero ressaltar que o  tratamento recebido pela Grazi,  foi tudo pelo SUS, o maior e melhor sistema de saúde pública do mundo, e que também já estão desmontando.

Por ora, fico por aqui, buscando transformar a minha tragédia pessoal em luta, em resistência, em indignação. 

Março, mês de luta e resistência, das mulheres é de todos nós: pelas vidas que estão aqui e por aquelas que perdemos, por incompetência e falta de humanidade de um governo genocida e negacionista. 

Ditadura Nunca Mais!!!!!

Marlene Ricardi
MÃE!