Política

01/04/2021 13:00

Ditadura vira “contrarrevolução” na boca de Ovando; políticos de MS repudiam comemorações

O período foi marcado por abusos, tortura, mortes e desaparecimentos; deputado eleito no regime democrático comemorou data em que o Exército depôs presidente

01/04/2021 às 13:00 | Atualizado 01/04/2021 às 16:22 Diana Christie
Deputado federal Luiz Ovando eleito pelo regime democrático também comemora regime militar - Reprodução Instagram

O deputado federal e bolsonarista Luiz Ovando (PSL) fez vídeo comemorando a data de 31 de março de 1964, quando foi instaurado o regime militar no Brasil. O período, que durou de 1964 até 1985, foi marcado por abusos, centenas de casos de tortura, mortes, desaparecimentos e censura pelo Estado brasileiro, mas se transformou em uma espécie de "glorificação" na era Bolsonaro.

Ovando disse que era criança, mas sentiu-se aliviado ao saber que o país “estava se livrando dos comunistas”. “Hoje, ao contrário do que se diz, comemora-se a contrarrevolução de 1964. A ‘Marcha da Família com Deus pela Liberdade’ teve participação da sociedade civil organizada. Acompanhei tudo. Ninguém me contou. Eu estava lá. É sobre isso que trato neste vídeo.”

O deputado, que foi eleito à Câmara Federal graças ao regime democrático, afirma que o Exército  “salvou a nação”. Lembrando que, ontem, fez 57 anos que o ex-presidente João Goulart foi deposto pelo Exército para a instauração de uma ditadura militar que durou 21 anos.

“Nos libertou da maior tragédia política e social do século XX. Alicerçada das mais enganadoras experiências ideológicas e denominada comunismo. Ninguém me contou, eu estava lá. Menino de 14 anos, ao ir para escola pela manhã, como fazia todos os dias, deparei-me com a presença dos militares nas ruas. Perguntei a um militar o que era aquilo e prontamente ele me respondeu: é para te proteger dos comunistas! Senti-me aliviado porque vivia assombrado pela possibilidade do nosso país se transformar em ditadura do proletariado marxista e lenista.” 

Luta pela democracia

Por sua vez, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta falou sobre a luta histórica do Brasil pela democracia e sobre a grande manifestação de 1980 com as Diretas Já!
“A luta pela democracia é uma marca do povo brasileiro. Iniciou lá nas Diretas Já! E caminhou com a constituição cidadã, por um país em construção democrática. No dia de hoje, mais do que nunca temos de saber zelar pela democracia. Por isso manifesto pela pró-democracia e por todos aqueles que sabem que esse é um caminho seguro.”

Ditadura Nunca Mais

Já o deputado federal Dagoberto Nogueira do PDT foi enfático e entrou no manifesto da #DitaduraNuncaMais, que entrou entre os assuntos mais comentados do país ontem. “Foi ditadura. Houve tortura. A Terra é redonda. Nunca foi uma gripezinha. Simples e direto assim! Parafraseando meu líder @cirogomes porque foi a melhor postagem de hoje.”

O deputado Vander Loubet (PT) afirmou que a data deve servir como reflexão sobre a história do país e sobre a importância da democracia. “Como filho de militar tenho enorme respeito e admiração pelas nossas Forças Armadas, porém acredito ser um grande equívoco qualquer comemoração sobre essa data. #DitaduraNuncaMais.”

Como é sabido, o deputado Fábio Trad (PSD) que é completamente contra quaisquer situações que coloquem a democracia em risco, também repudiou as comemorações. “Hoje é dia de glorificar os torturados, não os torturadores. É dia de bendizer os presos políticos, não os seus algozes. Hoje é dia de louvar a memória dos exilados, dos desterrados e dos degredados. É o dia em que a memória nega a saudade, mas reafirma a luta pela democracia.”