08/03/2021 15:14
Jornalistas dos EUA associam Eduardo Bolsonaro à invasão do Capitólio
Eles alegam que o filho do presidente brasileiro participou de reuniões para o planejamento do protesto a favor de Donald Trump
Dois jornais investigativos dos Estados Unidos associam o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) à invasão do Capitólio, dia 6 de janeiro, por militantes que se recusavam a aceitar a derrota de Donald Trump nas urnas. Ele teria sido o único estrangeiro a participar do “conselho de guerra” do ex-presidente.
Eduardo é citado na lista das pessoas que se encontraram com o empresário Michael J. Lindell, um dos mais próximos conselheiros de Trump e investigado por incentivar a tentativa de golpe.
As reportagens foram publicadas por Olivia Little, da Media Matters, e de Seth Abramson, do Proof. Os jornalistas alegam que o deputado participou de reuniões com o grupo "conspirador" entre os dias 4 e 5 de janeiro, tomando como ponto de partida live transmitida por Lindell, que disse ter se reunido na véspera com o filho de Jair Bolsonaro.
No dia, o filho do presidente brasileiro mostrou uma foto ao lado do conselheiro pró-Trump, identificado pelo deputado como um "ex-drogado" que virou um grande empresário. A foto foi publicada nos stories do Instagram por volta das 18h do dia 6, quando o grupo que invadiu o Congresso estava se retirando do prédio.
O problema da teoria, segundo o Congresso em Foco, é que há indício de que a foto não tenha sido tirada naquele momento. No vídeo citado acima, gravado pela manhã, Michael Lindell aparece com terno azul, gravata listrada e broche de cruz – roupas diferentes da foto postada minutos antes pelo parlamentar brasileiro. É a mesma roupa que ele usa em uma live à tarde, já no momento da invasão.
É o mesmo traje usado por ele, na sequência, em uma entrevista ao canal de TV Newsmax, dada pouco depois da live, o que indica que ele não estava com Eduardo na hora em que o filho do presidente divulgou a reunião com ele. O vídeo da live foi publicado no Twitter, em versão traduzida, pelo jornalista brasileiro Samuel Pancher.
De acordo com reportagem de Olivia Little, o encontro entre eles ocorreu no dia 5, em uma reunião com a participação de ao menos outras 20 pessoas na residência particular do então presidente, no qual foi discutida a invasão.
O conselheiro do ex-presidente é apontado como financiador da usina de contestações do resultado da eleição nos Estados Unidos e é processado por espalhar fake news contra o presidente Joe Biden durante a campanha. Por causa das mentiras que disseminou, ele foi banido do Twitter, segundo o Congresso em Foco.
Escritor e colunista da revista Newsweek e passagem pela CNN, BBC e CBS, Abramson afirma que essas duas dezenas de pessoas tramaram a revolta na capital americana. Entre os 22 nomes apontados pela reportagem, estão Lindell, Eduardo, os dois filhos mais velhos de Donald Trump, empresários, senadores e ex-assessores do republicano.
Eduardo registrou a viagem aos EUA no Instagram. Na terça-feira (5), o parlamentar foi recebido na Casa Branca a convite da filha de Trump e conselheira política do pai, Ivanka Trump. "Ocasião para reforçar os laços entre os nossos países e para uma agradável conversa", ressaltou o parlamentar, acompanhado de sua esposa, a psicóloga Heloísa Bolsonaro, e sua filha recém-nascida, Georgia Bolsonaro.
No dia seguinte à invasão do Capitólio, novamente acompanhado da esposa e da filha, o "zero-três" foi até a sede do CPAC, sigla em inglês para "Comitê de Ação Política Conservadora". Na pauta do encontro com o CEO da cúpula, Matt Schlapp, detalhes para a segunda edição da Cúpula no Brasil, que deve ocorrer ainda neste ano. O governo brasileiro não condenou a invasão ao Capitólio.