16/06/2020 07:00
ASSÉDIO: alunas de escolas públicas e particulares denunciam professores na @exposedcg
Passar a mão no corpo em abraços e oferecer caronas e aulas particulares suspeitas estão entre as denúncias
Alunas e ex-alunas de escolas públicas e particulares de Campo Grande estão perdendo o medo e relatando histórias de assédio e abuso sexual, sofridos durante o período escolar no perfil @exposedcg. Entre os indicados como autores estão professores.
Em pesquisa no perfil do Twitter, 695 pessoas participaram da enquete e 68,2% disseram que já sofreram assédio por parte de algum professor. Enquanto, 31,8% afirmaram nunca ter sofrido nada.
Entre as denúncias anônimas, a maioria cita os abusos, mas não deixa explícito o nome do colégio. “Fiz meu terceiro ano em um colégio de ‘elite’, diga-se de passagem o segundo melhor do Brasil. Lá, eles têm um professor de física para o qual passam muito pano. Ele chegou a ser expulso de outro colégio porque ‘pegava as aluninhas’. Ele me secava o tempo todo e, certo dia, olhando para minha bunda, disse ao meu namorado que eu era muito areia para o caminhãozinho dele e que ele não dava conta”, diz a moça.
Segundo ela, após uma confraternização escolar, o professor ofereceu carona a duas alunas e, ao deixar à última, ‘ficou com a garota’. “Inúmeras vezes vi ele de papinho com as meninas do 1º ano, elas tinham 15 anos. Repúdio ao professor e também ao colégio que tem ciência de tudo e, quando muito, apenas chama o cara para conversar e a vida segue normalmente” citou.
Assédio e homofobia
A escola estadual Emygdio Campos Vidal também foi denunciada na conta @exposedcg. “Quero ficar no anônimo e queria dizer que na escola Emygdio também tem professores que assediam alunas. Houve reclamação da parte delas e nada foi feito. A escola finge que nada acontece para não sujar a imagem”, diz.
(Imagem: Google Street View)
A ex-aluna da escola estadual José Maria Hugo Rodrigues relatou que estudou lá em 2017, e tinha relacionamento homossexual, mas que não tinha assumido à família. Ela conta que o professor de educação física a repreendia na frente de outros alunos enquanto dava em cima das adolescentes.
“Ele vivia fazendo comentários homofóbicos e certo dia foi me dar sermão que isso [a relação] não era de Deus, e etc. Eu não aguentei e joguei um copo de água na cara dele. Fomos parar na coordenação e, no caminho, ele ameaçou de contar aos meus pais sobre minha relação. Eu não era assumida e tive que baixar a bola. A escola passou pano e ficou por isso mesmo”, contou a ex-aluna.
(Imagem: Google Street View)
Bullying e racismo
Uma das denúncias relacionadas às escolas da cidade indica abuso psicológico e bullying realizado por professores e demais alunos aos bolsistas de escola particular do centro da cidade. A ex-aluna bolsista conta que, por ter menos poder aquisitivo, por ser muito magra e pela cor de sua pele, sofreu racismo, cyberbullying, assédio moral e até apanhou em 2014, quando estudou no período noturno no colégio.
Primeiro ela cita assédio sexual e abuso do professor de matemática. “Nada nunca foi feito mesmo com provas, testemunhas e prints. Tive aula com um professor de matemática que me ofereceu ‘aula particular’ na casa dele para eu não ficar de recuperação. Eu não aceitei, e após passar da recuperação, ele me chamou em um canto e me abraçou forte passando a mão na minha bunda por várias vezes. Disse coisas pra mim que nunca vou esquecer”.
Ela cita também o professor de biologia, que gritava com alunos, fazia perguntas de teor sexual e chegou a tirar sarro do seu corpo. “Ele pediu para eu ajudá-lo e disse: é ótimo chamar uma aluna assim para fazer esse trabalho, porque alguém desse jeito não vai distrair os meninos. Não tem peito, não tem bunda, usa óculos e aparelho. Nem com reza alguém vai querer ela”.
Posicionamento
SED
Sobre as denúncias relacionadas às escolas estaduais no @exposedcg, a Secretaria de Estadual de Educação informou por meio da assessoria que: “como essas publicações possuem informações superficiais, dependemos de dados mais aprofundados. Todavia, sempre buscamos o contato com as unidades escolares para o acompanhamento por intermédio da nossa Coordenadoria de Gestão Escolar (Coges). A orientação da SED é para que esses casos sejam informados aos gestores escolares e também que os estudantes registrem as denúncias”.
Ainda segundo a SED, “de modo geral, é fundamental que o estudante mantenha esse contato com os gestores, seja para o relato de situações ocorridas dentro ou fora da sala de aula”. Conforme a SED, o último registro relacionado a casos de assédio foi em 2016 e foi arquivado por falta de provas.
Dom Bosco
O Salesiano Dom Bosco disse que acompanha as denúncias e apura a veracidade dos fatos. Confira a nota na íntegra:
O Colégio Salesiano Dom Bosco acompanha com apreensão os relatos veiculados no Twitter pela tag #exposedcg, criada na madrugada do dia 2/6. Estamos analisando as postagens e se constatada a veracidade dos fatos, serão tomadas as providências cabíveis. Os fatos trazidos ao conhecimento da coordenação são apurados e as medidas necessárias
tomadas conforme cada caso.
De antemão, antecipamos que não compactuamos com nenhuma forma de discriminação e assédio, cabendo ressaltar que, nos 90 anos dedicados à educação em Campo Grande, sempre primamos pela valorização e promoção da vida, contribuindo com a formação de milhares de crianças, adolescentes e jovens que por aqui passaram.
Assessoria de Imprensa do Colégio Salesiano Dom Bosco