06/08/2019 17:35
Tereza Cristina teme que críticas a agrotóxicos gerem guerra comercial
Fala da ministra ocorreu durante café da manhã com jornalistas
A ministra da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, disse hoje (6) que as críticas que vêm sendo feitas às autorizações dadas por sua pasta para o registro de agrotóxicos no país estão se transformando em “guerra política”, no âmbito nacional, com potencial de resultar, no âmbito internacional, em “guerra comercial”.
Em café da manhã com jornalistas, Tereza Cristina disse que as autorizações concedidas para uso de novos agrotóxicos são um “risco calculado” similar ao que ocorre em outros países. “Ninguém está colocando veneno no prato do consumidor brasileiro”, afirmou a ministra.
“O Brasil é o único país que tem uma lei segundo a qual não se pode aprovar nenhum registro mais tóxico ou igual ao que já existe no mercado [de agrotóxicos]”, disse Tereza Cristina em um café da manhã oferecido a jornalistas.
A ministra abriu o encontro criticando artigos e matérias jornalísticas que abordaram o assunto. “Estamos incomodados com o fato de o tema ser transformado, aqui dentro, em guerra política e, lá fora, em guerra comercial”, disse a ministra.
“Tenho preocupação com o fato de passarmos imagens que resultarão em questionamentos no exterior. Se há, aqui dentro, dúvidas, por que lá fora não haveria?”, acrescentou, ao defender “unidade, não de pensamento, mas nos números” que são publicizados .
Segundo ela, dos 262 produtos registrados recentemente, apenas sete são novos. Os demais seriam genéricos ou equivalentes aos já existentes no mercado. “Nós não liberamos agrotóxicos. Nós concedemos registros para a produção industrial de formulados. E nem sempre a indústria coloca à venda, porque nem sempre há interesse. Prova disso é que 48% dos produtos formulados autorizados não foram comercializados”.
Para ajudá-la a embasar cientificamente suas argumentações, a ministra contou com a ajuda de alguns pesquisadores e especialistas do setor.
Também em tom crítico a matérias jornalísticas, o pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Caio Carbonari citou informações que considera sem sentido de que o Brasil seria o país que mais usa defensivos agrícolas.
“Não faz sentido essa comparação [em termos absolutos] assim como não faria sentido dizer que São Paulo [a maior cidade do país] tem número maior de acidentes de trânsito do que [uma cidade de muito menor porte como] Boitucatu”, disse Carbonari.
De acordo com o pesquisador, a comparação deveria ser feita levando em conta o volume de defensivo aplicado por área, e não em termos absolutos. “Se normalizarmos os dados dessa forma, cairíamos para a sétima posição, atrás de Japão, Coreia, Alemanha, Itália, França e Reino Unido. E, se for por tonelada produzida, cairíamos para 13º lugar.”
Além do mais, é inadequado comparar a agricultura de países de clima tropical com a países de clima temperado, onde a baixa temperatura dificulta a ocorrência de determinadas pragas, acrescentou.
Carbonari argumentou que, dos 32 novos ingredientes que, há cerca de um mês, estavam na fila para registro no Brasil, 29 já são usados em países como os integrantes da União Europeia (que usa 16 dos 32 novos ingredientes a serem analisados pelas autoridades brasileiras), Estados Unidos (19 dos 32), Canadá (19), Austrália (18), Japão (17) e Argentina (15).