12/07/2019 14:33
Traficantes que destruíram terreiro de candomblé diziam ser 'bandidos de Jesus'
Criminosos deram um ultimato: o espaço não deve abrir mais e ser esvaziado até hoje à tarde
Os criminosos que invadiram e destruíram o terreiro de candomblé no Parque Paulista, em Duque de Caxias, na Baixada, nesta quinta-feira, se intitularam "bandidos de Jesus" e deram um ultimato: o espaço não deve abrir mais e ser esvaziado até hoje à tarde. No momento do ataque, a mãe de santo líder do terreiro, uma idosa de 85 anos, estava presente e sofreu várias ameaças sob a mira de uma arma.
Segundo um parente da mãe de santo, que prefere o anonimato temendo represálias, a senhora está a base de remédios e se refugiou na casa de familiares fora do estado do Rio. "Tocaram a campanhia, entraram e começaram a quebrar tudo e ameaçaram, xingaram ela. Uma senhora de 85 anos, com uma arma na cara, é uma falta de respeito", disse.
Os "bandidos de Jesus" são apontados como traficantes que tomaram conta do Parque Paulista, ligados à facção Terceiro Comando Puro (TCP). Foi a primeira vez que o terreiro, há mais de 50 anos no bairro, sofreu um ataque, apesar das ameaças já existirem. "Eles já fecharam três, quatro espaços religiosos. Estamos ali há 52 anos e nunca passamos por situação parecida. Não vamos voltar, a segurança dela (mãe de santo) em primeiro lugar", contou o familiar.
O caso foi registrado por uma integrante do terreiro na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI) na manhã desta sexta-feira. A especializada faz diligências para apurar as circunstâncias e os responsáveis pelo ataque. A investigação corre sob sigilo.
Líder religioso faz duras críticas à Witzel
O babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), disse que após o registro na DECRADI vai auxiliar os membros do terreiro no encaminhamento do caso no Ministério Público do Rio (MPRJ). O líder religioso fez duras críticas ao governo do estado que, segundo ele, não tem adotado as medidas prometidas durante reunião com o CCIR e o Ministério Público Federal (MPF).
"O mais triste é a inércia das autoridades. Conversei com o governador Witzel para fazermos uma agenda, mas até hoje nada foi feito. Acertamos fazer uma reunião num espaço que poderia ser o TJ e convocar líderes de várias religiões junto com o secretário de Segurança para pensarmos uma estratégia em conjunto, mas nada foi feito. Está na hora do governador chamar para si essa responsabilidade. Se fosse uma igreja cristã ou uma sinagoga, a solução seria imediata", criticou.