Cidades

03/07/2019 16:51

"Willian me chamava de tia, comia aqui", lembra mãe de rapaz assassinado em lava-jato

Hoje, o TJ-MS decretou que os assassinos de Wesner sejam levados a júri popular

03/07/2019 às 16:51 | Atualizado 04/07/2019 às 11:02 Nathalia Pelzl
Wesley Ortiz

Foi divulgada, na edição do Diário Oficial desta quarta-feira (3), a decisão do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), que determina que Thiago Giovanni Demarco Sena e William Henrique Larrea, 23 e 33 anos, sejam levados a júri popular pela morte de Wesner Moreira da Silva, violentado em um lava-jato em Campo Grande.

Hoje, dois anos e seis meses do crime, que aconteceu em fevereiro de 2017, a mãe, Marisilva Moreira, disse em entrevista ao TopMídiaNews que essa foi uma das melhores notícias que poderia receber, já que o último pedido de Wesner foi o de "justiça".

“Desde o primeiro dia, pois ele pediu dentro do hospital: ‘mãe, quero justiça, quero que eles paguem o que eles fizeram comigo’”, conta emocionada.

Os desembargadores da 2ª Turma Criminal decidiram que há provas e indícios suficientes de autoria para os acusados serem levados a júri.

Marisilva relata que a dor ainda é muito grande, sendo mais difícil de aceitar, pois Willian conhecia Wesner desde pequeno e vivia dentro da casa da família.

“Willian me chamava de tia, ele comia aqui, bebia café. Isso dói, ele conhecia o Wesner desde que ele tinha nascido, isso foi o que mais surpreendeu a gente. Ele entrava dentro de casa e saía, eu fazia bolo, quando o filho dele ficava doente, quem ficava lá era meu marido, ficava até duas, três horas da madrugada. Eu nunca imaginei, nunca passou pela minha cabeça, esse monstro que ele se tornou, fui realmente conhecer ele aquele dia”, diz entre lágrimas.

O crime

No dia 3 de fevereiro de 2017, Thiago Giovanni Demarco Sena e Willian Henrique Larrea seguraram Wesner e enfiaram a mangueira de um compressor no ânus da vítima.

O fato causou ferimentos graves no adolescente, que chegou a ficar uma semana internado em um hospital, mas não resistiu às complicações do ferimento e morreu.

A Justiça determinou que os acusados Willian Henrique Larrea e Thiago Giovani Demarco terão que pagar um valor mensal à família de Wesner no valor de R$ 636.

Júri

A data e as qualificadoras do crime devem ser definidas pelo juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri, Carlos Alberto Garcete. Não há prazo para essa nova determinação.

Em 2018, o juiz Carlos Garcete derrubou a tese do MPE (Ministério Público Estadual) de homicídio qualificado. Como argumento, Garcete alegou não haver provas mínimas no processo mostrando que os acusados tinham consciência que a conduta poderia causar a morte de Wesner.

O juiz defendeu ainda que as brincadeiras eram comuns entre os acusados, sendo que até a própria vítima também teria feito o uso da mangueira em outro funcionário, conforme os autos.

Outro fato apontado pelo magistrado foi a questão do depoimento contraditório de Wesner, que teria informado a introdução da mangueira por cima da roupa, diferente do resultado dos laudos.

No entanto, o Ministério Público recorreu, e por isso os dois serão levados a júri popular.