Política

12/04/2019 11:36

Senadora de MS leva ensaboada ao questionar 'miséria' dos povos indígenas do País

Sônia Guajajara rebateu a senadora e disparou dizendo que ela prega uma visão racista, alienada e preconceituosa dos povos indígenas

12/04/2019 às 11:36 | Atualizado 12/04/2019 às 11:38 Rodson Willyams
Reprodução / Jane de Araújo/Agência Senado

A senadora por Mato Grosso do Sul, Soraya Thronicke (PSL), levou uma 'ensaboada', nesta quinta-feira (11), da coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, durante audiência pública sobre saúde indígena na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), da Câmara Federal. 

Soraya questionava do porque que os povos indígenas, que possuem 13% do território nacional, ainda são miseráveis. "Tem dinheiro destinado, tem política pública destinada, por que eles ainda continuam miseráveis? Por que continuam miseráveis quando eles têm 13% do território nacional quando nós utilizamos 7%?".

No mesmo tom, Sônia respondeu: "infelizmente, não dá para gente escutar aqui, dos parlamentares desta Casa, de chegar aqui e pregar a sua visão racista, alienada, preconceituosa contra nós e a gente ficar calados. Porque a sua fala, senadora, a sua fala aqui retrata muito bem o pensamento que esse setor ruralista que compõem a Câmara (Federal) e o Senado tem. Que quer, a qualquer custo, flexibilizar a legislação ambiental para poder explorar os territórios".

Quanto à questão do uso do território, a senadora afirmou que a terra não era dos indígenas, mas sim da União. Em resposta, Sônia declarou: "os territórios, hoje em dia regularizados, não são nossos mesmo não, é da União sim! Mas para usufruto exclusivo dos povos indígenas. Nós temos essa responsabilidade de zelar não porque é obrigatório, mas porque é a nossa relação, porque naturalmente [nossa função] é essa. É sustentabilidade, é uso sustentável, temos esse respeito com a mãe natureza".

Sônia Guajajara durante reunião na CDH. Foto: Jane de Araújo/AgênciaSenado.

Ela ainda destacou que a visão de território dos indígenas é diferente em relação ao da senadora. "Não dá para você olhar para nós, povos indígenas, e pensar que a gente tem o mesmo entendimento de território como o seu, que é de exploração, destruição, pensando em lucro e pensando em dinheiro. Não é esse o entendimento nosso. Para nós, o território é sagrado e nós precisamos deles para existir. E vocês olham para a terra indígena e chamam de terra improdutiva, nós chamamos isso de vida". 

Ainda durante a sua fala, Soraya fez mais um questionamento: "quem usa o índio? O índio era para estar muito bem, mas quem fez isso com os índios? Por que essa política desta forma?". Novamente, Sônia respondeu: "nós temos gente no Nordeste que está lá na beira da estrada em retomadas porque as suas terras foram entregues para fazendeiros no período da Ditadura. Foi entregue pelo Estado", pontuou. 

A coordenadora ainda afirmou que os povos indígenas irão combater a forma truculenta do atual governo. "É bem mesmo a cara desse governo truculento, de querer o tempo todo aqui agora, autorizar a entrega de territórios para exploração porque não pensa na vida, só pensa em dinheiro, só pensa em lucro. Uma ganância para atender ao capitalismo. Nós vamos derramar até o último sangue, a última gota de sangue, para defender a nossa história e o nosso território. Nós não vamos entregar isso fácil, para essa ganância do agronegócio".

Ela ainda fez mais críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). "Aí vem o governo com o ministro das relações exteriores [Ernesto Araújo] dizer que é questão de marxismo, território indígenas é ideologia. Vamos parar com isso, se vocês não querem enxergar, vamos respeitar. Assumam que não respeitam e não fiquem fazendo de contas que gostam de índio, que é amiguinho de índio. Como a Damares diz, índio é meu irmão, como o Bolsonaro diz, eu sou irmão do índio. Mas que irmão é esse que quer ver o fim? Quer matar? Que quer tirar o direito de existir?" 

Por fim, Sônia lembrou que em 1.500 (chegada dos portugueses ao Brasil), a população indígena no país era de cinco milhões, hoje chega a um milhão. "Se continuar assim, mais gente vai morrer", sentencia.