Campo Grande

29/03/2019 16:23

Para MP, assassino de Mayara tentou induzir laudo psiquiátrico e agiu por completo sangue frio

Julgamento de autor confesso é marcado por ânimos exaltados e ataques, mas promotora não tem dúvidas quanto a crueldade do crime

29/03/2019 às 16:23 | Atualizado 29/03/2019 às 16:25 Amanda Amaral e Nathalia Pelzl
André de Abreu

O Ministério Público Estadual classifica o comportamento de Luís Bastos, assassino confesso da musicista Mayara Amaral, como manipulador e de extrema frieza. A afirmação da promotora Aline Lopes é uma resposta às declarações da defesa do acusado, em dia de seu julgamento no Fórum de Campo Grande.

Para o MPMS, a alegação da defesa técnica sobre o autor não ter plena capacidade psiquiátrica e que agiu por violenta emoção não devem ser consideradas pelo júri popular.  A promotora mostrou exemplos de casos conhecidos em que psicopatas cometeram crimes graves e diz que em nada diminui a culpa e frieza de Bastos ao matar e calcular os passos seguintes para tentar se safar de qualquer responsabilidade.

“É o ditado ‘uma imagem fala mais que mil palavras’, o corpo jogado fora do porta-malas é o retrato do desprezo, serviu para a relação e a hora que não serviu mais, o menosprezo. [...] Ele se mostra bonzinho, mas se for contrariado se transforma e somente o uso da droga não seria suficiente para cometer o crime, e sim o distúrbio da personalidade, psicopatia”, alega a promotora. 

Para a acusação, Luís é totalmente capaz de entender que matar uma pessoa é errado e que manipulou a perícia que o classificou como semi-imputável. Ainda, mostrou entrevista da psiquiatra e escritora Ana Beatriz Silva, em que ela aponta que o psicopata é uma forma de existir,  em que a pessoa traz com ela a maldade em sua personalidade.

Defesa

Exaltado, o advogado de defesa Conrado Passos refuta todas as alegações e seguia na tentativa de convencer o júri de sete pessoas a se comoverem com as motivações do assassino. Uma delas, seria a raiva causada por discussão após Luís ter sido informado que foi contaminado com doença sexualmente transmissível pela vítima.

Chorando, o pai de Mayara, entregou exames médicos na promotoria e o documento anexado ao processo. Nele, é confirmado que a filha não tinha sífilis ou qualquer outra doença.

Passos insiste na falta de discernimento do cliente. "Ninguém está pedindo imputabilidade, estamos querendo semi-imputabilidade, ela [promotora] está distorcendo os fatos, virou comentarista de atestado médico. Está aqui o laudo. Foi embasado na entrevista, ela está querendo induzir vossa excelência ao erro”, disse ao juiz.

Aos gritos, seguiu acusando as justificativas da acusação do Ministério Público. “Ela quer insinuar que a perita é picareta, aí é demais. Ela aceitou o laudo na primeira etapa, todos aceitaram, agora na segunda etapa vem tentar com um golpe de mágica distorcer os fatos. Olha aqui esse laudo, então vou engolir, rasgar, não é possível, uma pessoa afirma que serve depois muda de ideia", disse.

Ainda fez deboche com a promotora, dizendo que talvez ela tenha passado apenas pela faculdade, “talvez não tenha nem a OAB, por isso provavelmente está na promotoria, já que OAB é mais difícil. [...] O laudo é perfeito, não tem contradição”, afirmou.

O advogado reforçou sua tese de que houve provocação por parte da Mayara e defende que o caso deva ser tratado como homicídio simples, descartando todas as qualificadoras que podem aumentar a pena de Bastos.