25/03/2019 07:00
Lá como cá: trama que Michel Temer usava é ‘similar’ a que prendeu Puccinelli em MS
Parceiros políticos, ex-presidente e ex-governador, em períodos distintos, foram parar na cadeia, por corrupção
Estremeceu o cenário político, em Brasília, a prisão do ex-presidente da República, Michel Temer (MDB), determinada pela Justiça Federal, na quinta-feira (21). Encarcerado por corrupção, o episódio deixou alguns parlamentares consternados. No entanto, outra ala de congressistas viu a prisão como exemplar, já que havia indícios de que o ex-presidente era envolvido em tramoias, há tempos.
Em 20 de julho do ano passado, em Campo Grande (MS), uma prisão efetuada pela Polícia Federal também dividiu a opinião de políticos: a do ex-governador André Puccinelli, outro emedebista histórico.
Nas duas capturas, o ex-ministro da Secretaria do governo de Temer, Carlos Marun, amigo de Puccinelli, protestou contra os juízes que determinaram as punições.
Para Marun, a prisão de Puccinelli foi um “equívoco” e uma “medida extrema”.
A mesma impressão que ele teve agora na prisão de Michel. “Caso de exibicionismo judiciário”, disparou Marun.
De lado a interpretação do ex-ministro e as críticas de políticos ligados a Puccinelli e Temer, é certo afirmar, ao menos diante das denúncias conduzidas pelo MPF (Ministério Público), Polícia Federal e reforçadas por informações fornecidas pela Controladoria Geral da União e Receita Federal, tanto um quanto o outro encrencarem-se com a Justiça por meio de empreiteiras.
Michel, por exemplo, canalizava o dinheiro da corrupção pela Argelan, construtora cujo dono seria João Baptista Lima, o conhecido coronel Lima, amigo do ex-presidente por mais de duas décadas. O histórico da influência dessa empresa é narrado nas 46 páginas do mandado assinado pelo juiz federal da 7ª Vara Federal Criminal, as quais o TopMidiaNews teve acesso, que pôs na prisão Michel Miguel Elias Temer Lulia.
Puccinelli, segundo investigação do MPF, norteava recursos tirados do poder público de maneira fraudulenta pela Proteco, empreiteira do amigo, o empresário João Amorim.
Engrenagem em questão é contada em ao menos 100 páginas, a do mandado de prisão de Puccinelli, assinada pelo juiz da 3ª Vara Federal de Campo Grande, Bruno Cezar da Cunha Teixeira.
Trechos dos mandados
“Cabe relembrar que, segundo o MPF, a inserção da ARGEPLAN, do CORONEL LIMA, na formação da AF CONSULT DO BRASIL teve como objetivo garantir, por meio da intervenção de OTHON PINHEIRO, a vitória da AF CONSULT LTD na licitação internacional e, em contrapartida, verter dinheiro de propina para MICHEL TEMER, por meio do seu operador financeiro”, diz trecho do mandado de prisão contra Temer.
Já do lado de cá, em Mato Grosso do Sul, João Amorim, amigo de Puccinelli, segundo investigação da PF, além fraudar licitações e superfaturar obras, o empreiteiro dono da Proteco também cobrava propina de construtora que vencia concorrências em MS.
Relatório e mais trechos
No relatório da Lama Asfáltica, operação que derrubou o esquema criado no período de governo de Puccinelli (2007-2014), o de desvio de recursos públicos, aparece um diálogo telefônico captado com autorização judicial. Na conversa, Amorim e Antônio Petrin falam sobre empresa que havia vencido licitação para a pavimentação asfáltica de trecho da MS-040, estrada que liga Campo Grande à cidade de Santa Rita do Pardo.
Ainda conforme o relatório, a PF suspeita que Petrin, cuja empreiteira faturou perto de R$ 90 milhões para asfaltar a rodovia, presenteava integrantes da trama. A Encalso foi quem construiu o condomínio Damha, em Campo Grande, um dos pedaços mais caros da cidade. Lá, por exemplo, mora Edson Giroto, ex-secretário de Obras da então gestão de Puccinelli.
Giroto, que foi flagrado pela PF conversando com o dono da Encalso, em Presidente Prudente, construiu uma mansão no Damha, avaliada pelos investigadores do caso em R$ 7 milhões.
Giroto e Amorim foram presos em maio do ano passado e tentam até hoje convencer a Justiça que deveriam ficar soltos.
Puccinelli foi preso ano passado e solto quatro meses depois.
Veja aqui trecho de um dos mandados que cita tal negociação, assinado pelo juiz federal em Campo Grande, Bruno Cézar.
"ANDRÉ PUCCINELLI foi Governador do Estado de Mato Grosso do Sul...No exercício desse cargo, e ao lado de EDSON GIROTO e JOÃO AMORIM. No exercício desse cargo, e ao lado de EDSON GIROTO e JOÃO AMORIM, participou da articulação e da coordenação do amplo esquema criminoso descoberto pelos investigadores. Mantinha contato permanente com a PROTECO, pessoalmente ou através de interpostas pessoas. Sob seu comando e de EDSON GIROTO, foram firmados diversos contratos fraudulentos que beneficiaram a PROTECO".
Segue o mandado, "durante a primeira etapa das investigações presididas pela POLÍCIA FEDERAL, apuraram-se elementos de prova evidenciando que EDSON GIROTO e JOÃO AMORIM articularam recebimentos de propina por parte de representante da empresa ENCALSO CONSTRUÇÕES LTDA., decorrentes das obras de pavimentação da MS-040. (...) análise do material apreendido na sede da PROTECO demonstrou que a ENCALSO CONSTRUÇÕES locou ficticiamente máquinas das empresas de JOÃO AMORIM (PROTECO e ASE PARTICIPAÇÕES), reforçando os indicativos de pagamentos de propina".