26/02/2019 09:30
‘Besta-fera’ presa por matar idosa dava nó em pingo d'água e aplicou golpes até em delegacia
Ficha criminal de Pamela Carvalho: 10 processos de 2010 para cá; ela mentia ser policial, trapaceava viúvas e ameaçava matar desafetos
Pâmela Ortiz de Carvalho, 36 anos, presa na tarde desta segunda-feira (25), em Campo Grande, por ter matado Dirce Santoro Guimarães Lima, aposentada de 79 anos, era foragida da Justiça desde o ano passado. Havia contra ela mandados de prisão emitidos por casos distintos por um juiz e uma juíza da cidade.
Há quase duas décadas, a assassina confessa agia na cidade como uma espécie de besta-fera, expressão usada, em sentido figurado, para apontar pessoas tidas como desumanas e sanguinárias.
Ela trapaceava idosas viúvas e pensionistas, emitia cheques roubados e sem fundo, gabava-se ao dizer sem ser que era investigadora da Polícia Civil e ainda ameaçava de morte desafetos.
ESTÁGIO DA DERF
Como “estagiária voluntária”, ela roubou talões de cheques que tinham sido apreendidos e deveriam ser incinerados, de dentro da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos), onde cumpria expediente, e aplicava calotes na praça.
Pâmela disse ter matado a aposentada para se livrar de uma dívida de R$ 1 mil, soma que havia gastado por meio do cartão de crédito da vítima. Dirce, que morava no bairro Santo Antônio, tinha sumido no sábado e seu corpo foi achado na segunda-feira à tarde.
À polícia, a capturada disse ter se desentendido com a idosa e matado-a com um golpe na cabeça (saiba mais sobre o crime logo abaixo).
Dona de uma extensa ficha criminal – somente em Campo Grande, de 2010 para cá, período de oito anos – Pâmela foi processada por dez vezes. Enquanto correram e ainda correm os processos a ré nunca foi achado pelo oficial de Justiça.
Mulher atuou como estagiária voluntária na delegacia - Foto: Deivid Correia
Sempre que ia notificá-la, o servidor judiciários ficava sabendo que tinha se mudado.
A vida na bandidagem de Pâmela, conforme consulta feita pelo TopMidiaNews no site do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), em julho de 2010, por furto.
Denunciada pela Defensoria Pública e o Ministério Público de MS, o nome de Pâmela aparece como ré em dez processos que correm em varas criminais e cíveis de Campo Grande.
Umas das mais ousadas ações de Pâmela ocorreu em 2015, dentro de uma delegacia da Polícia Civil, a Derf, justa a que combate roubos e furtos na cidade.
Lá, mesmo já processada por furto e ameaça, ela, segundo ação penal pública que segue 2ª Vara Criminal Residual de Campo Grande, “estagiou voluntariamente”.
A missão de Pâmela na delegacia, que durou de janeiro a agosto de 2015, era juntar documentos que haviam sido apreendidos pelos policiais para que fosse incinerado. No período do estágio, ela roubou três talões de cheques que deveriam ser queimados, dois do então HSBC e outro do banco Real.
Não é dito no processo se o estágio era mantido por Pâmela cursar Direito, ou não. Num dos processos, é citado que ela seria “estudante”, apenas.
O GOLPE
Em julho daquele ano, foi até a delegacia o microempresário Juarez Antônio Ribeiro e Silva, um vendedor de sapatos, velho conhecido dos policiais da Derf.
Já na recepção, Juarez conversou com Pâmela, que disse a ele que era investigadora, não estagiária.
O microempresário afirmou em depoimento que sempre vendia sapatos aos policiais. Pâmela interessou-se num dos calçados e também pediu ao vendedor, que entregou a mercadoria três semanas depois.
“Vou comprar um but para chutar a boca dos vagabundos”, disse Pâmela ao vendedor, meio de firmar o propósito de que ela agia nas operações policiais. O vendedor disse ter acreditado.
Na entrega do sapato, Pâmela pagou a conta com um cheque do HSBC no valor de R$ 295. Aparecia como correntista Carlos Vieira Camilo, que seria marido da então estagiária.
O cheque voltou, o vendedor não encontrou mais Pâmela e, por orientação dos próprios policiais da Derf, denunciou o caso.
Pâmela, depois disso emitiu mais cheques do HSBC para pagar contas no salão de beleza que frequentava, na Avenida Júlio de Castilho, no Lar dos Trabalhadores.
A polícia descobriu depois que Carlos Camilo, então com 51 anos de idade, cumpria pena desde 2012 por tráfico de droga. Ele havia sido preso na cidade de Chapadão do Sul e, em 2015, cumpria pena em regime semiaberto, em Campo Grande.
Chamado para depor, ele disse que três talões de cheques seus tinha sumido desde 2012 e que nunca ouvira falar o nome de Pâmela.
A estagiária foi denunciada também pela Defensoria Pública por alugar e não pagar aluguéis a duas viúvas. Além de não pagar a mensalidade, Pâmela, embora combinado, não pagava o IPTU e saia dos imóveis sem fazer reparos nem quitava contas de água e luz.
Idosa foi encontrada morta ontem - Foto: Wesley Ortiz
A AMEAÇA
Noutro processo que corre na 4ª Vara do Juizado Especial Cível e Criminal, Pâmela virou ré por ter ameaçado a matar o amante.
É dito no processo que ela foi até o conjunto Moreninhas entrou numa casa e lá, armada com revólver, ameaçava a mulher do amante.
“Eu vim aqui para tirar a limpo porque estou ficando com o seu marido e hoje eu quero resolver. Se seu marido for atrás de mim eu vou dar um tiro nele e você se considera viúva”, diz trecho do processo.
A intimidação fez com que a mulher se separasse do marido e recorresse à polícia.
Ela disse que Pâmela havia dito que era policial civil e, descobrira que realmente era a amante de seu marido.
PRISÃO
Pelo roubo dos cheques na Derf, o MP-MS pediu a prisão de Pâmela, no dia 6 de novembro de 2018. Como ela nunca fora achada para se defender em juízo, a juíza May Melke Amaral Siravegna, determinou o encarceramento de Pâmela no dia 27 de novembro do ano passado.
Em junho de 2018, o juiz Wilson Leite Corrêa, também já havia decretado a prisão de Pâmela por ela ter sido condenada por ter comprado um telefone em nome de uma conhecida e não pagado.
A pena, de um ano, foi ignorada pela ré, que não apareceu nem para se defender, daí o pedido de prisão.