02/02/2019 17:34
Para assessores de Bolsonaro, Toffoli 'interferiu indevidamente' no Senado
Correligionários do presidente dizem que a situação “fugiu do controle” e poderá trazer “sequelas” ao governo em votações importantes, como a reforma da Previdência
A decisão monocrática do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, de anular a decisão que aprovou uma votação aberta para a presidência da Casa, foi vista com preocupação por interlocutores do presidente Jair Bolsonaro. Para assessores, Toffoli interferiu indevidamente no Senado mesmo havendo entendimentos anteriores de que ingerências sobre assuntos internos de outro poder não poderiam ocorrer.
Em uma sessão tumultuada ontem, os senadores aprovaram, por 50 votos a 2, que a escolha do próximo presidente da Casa seria por voto aberto. Toffoli, porém, acatou pedido do MDB e do Solidariedade para anular esta decisão e manter a votação secreta, como prevê o Regimento Interno do Senado. Os senadores retomaram a sessão na manhã deste sábado para discutir se votam de forma aberta e secreta.
Seja qual for o resultado, a avaliação dos interlocutores de Bolsonaro é que a situação "fugiu do controle" e poderá trazer "sequelas" ao governo em votações importantes, como a reforma da Previdência.
A disputa no Senado se dá principalmente entre o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que já presidiu a Casa por quatro vezes, e Davi Alcolumbre (DEM-AP), que teve apoio velado do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Neste momento, a avaliação é de que, em qualquer cenário, o governo já saiu perdendo, com o desgaste sofrido, a despeito de Bolsonaro ter pedido neutralidade de sua equipe.
Ditadura do Judiciário
Assessores que trabalham no Palácio do Planalto também dizem temer o que chama de "ditadura do Judiciário" que, "alheio aos anseios da população", "derrubou a decisão de 50 senadores eleitos pelo povo com uma canetada", em uma "clara interferência indevida em outro poder".
Além de preocupações com a forma como "a democracia está sendo tratada", na avaliação de um desses interlocutores, há um temor do que poderá acontecer na tramitação de propostas importantes para o Planalto no Congresso.