16/01/2019 08:53
Menina de 8 anos morta após lutar contra leucemia deixa carta à voluntária: obrigada por vir me ver
Júlia, 8, vivia em uma instituição após ter sido abandonada pelos pais
“Obrigada por vir me ver”, escreveu Júlia, 8, à voluntária Gabriella Pereira, 23, em um diário entregue por uma enfermeira a ela após sua morte. A menina de 8 anos tinha leucemia e estava em uma instituição para adoção em Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo, após ter sido abondonada pelos pais.
O caso foi relatado por Gabriella em sua página em uma rede social na última quinta-feira (10), um dia após a morte da menina, causando grande comoção - a publicação teve mais de 35 mil curtidas e 19 mil compartilhamentos.
“Só faço aqui um pedido às mães que colocam crianças no mundo e abandonam. Vocês não fazem ideia do que é uma criança crescer sem ter um apoio fixo”, escreveu.
Gabriella, que é bancária, afirma que conheceu Júlia há dois anos em um “abrigo de crianças abandonadas” entre os trabalhos sociais nos quais atua. “Desde então, não era mais um trabalho, era amor”, disse ela.
Ela a visitava toda semana e estava presente em datas importantes como Dia das Crianças, Natal e aniversário. “As outras crianças tinham sempre alguém que as visitava, mas ela tinha apenas eu. Sua irmã foi adotada quando tinha meses, mas a Júlia estava com 8 e lutava pela cura da leucemia todos os dias”.
"De dezembro pra cá, parei de ir tão frequentemente, pois não tinha tanta estrutura emocional para vê-la cada vez mais debilitada", afirma.
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A voluntária tentava realizar todos os desejos da menina, que, inclusive, registrou em seu diário. “Obrigada por me dar o videogame que pedi (...). Obrigada pela sandália de salto, por trazer aquele lanche que eu vi na TV, obrigada por vir me ver no meu aniversário e trazer sorvete de morango”.
Gabriella conta que o primeiro pedido de Júlia foi que queria ter cabelo. "Então cortei o meu e doei para ela", diz. Seu cabelo estava na cintura.
Júlia escreve no diário que tentou localizá-la quando estava partindo, mas não conseguiu. Quando Gabriella chegou, foram lhes entregue seu diário e seu batom, a pedido de Júlia.
“A única coisa que tive acesso”, disse Gabriela. “Mesmo com todas as dificuldades que ela passou em 8 anos de vida, ainda me deixou uma mensagem me apoiando com a sua partida”, completou.
Leia abaixo a carta de Júlia para Gabriella:
"Tia Gabriela eu estou com muita dor e já quero ir morar com o papai do céu, por isso pedi para a tia Marta escrever essa carta na agenda da Branca de Neve que você me deu.
Pedi pra tia te ligar porque estou com saudades, mais não conseguimos falar com você, ligamos no Banco que você trabalha mais existe muitos e não sei o número do seu trabalho, não sei se agente te esperar na visita do Domingo. Quero pedir obrigado por me conhecer por vim me ver e por me dar o video game que te pedi, eu sabia que era muito caro e pra comprar o video game precisa vender uma casa, mesmo assim você me deu, obrigada pela sandália de salto que me deu, e por trazer aquele lanche que eu sempre vi na TV, obrigada por vim me ver no meu aniversário e trazer o sorvete de morango.
Você é a minha melhor amiga e eu queria que você fosse a minha mãe, pedi para o papai do céu me fazer sarar, porque ai você ia arrumar os documentos e me adotar, você disse que ia ser difícil mais eu ia pedir para o juiz deixar você ser a minha mãe, e ele ia deixar, porque você já é grande e até dirige um carro.
Quando eu crescer quero ser bonita igual você! Também quero dizer na sua carta que eu amei que colocou bexigas no meu aniversario e levou até brigadeiro.
Tia Gabi eu te amo e estou pintando as bolinhas do calendario igual você disse e só falta duas fileiras para o dia do seu aniversário, mais estou muito doente e com dor, por isso se eu for morar com o papai do céu, não fica triste, porque eu te amo e só você é a minha melhor amiga.
Jullia"