Geral

10/01/2019 19:00

Sem placa de titânio para cirurgia, hospital dá alta e diz para paciente recorrer à Justiça

Hospital Universitário informou que está sem o aparelho há pelo menos 3 anos; caso foi levado ao MPF

10/01/2019 às 19:00 | Atualizado 11/01/2019 às 09:35 Celso Bejarano
Reprodução/Facebook

A manicure Larissa Fernanda Oliveira da Silva, 22 anos, num dia chuvoso, caiu em uma rua esburacada do bairro Nova Lima, em Campo Grande. Isso há 20 dias. Desde então, ela vive o que pode se chamar de via-sacra por uma cirurgia. 

Se não fizer tal procedimento, ela pode perder em até 60% o movimento de um dos braços. 

Depois de implorar por atendimento, a manicure, que ficou 14 dias internada em um hospital da cidade, recebeu a seguinte orientação de uma médica: 'volte para a casa, contrate um advogado, recorra à Justiça, consiga uma liminar [decisão judicial provisória], daí retorne aqui que vamos operá-la'.

Episódio acima ocorreu no Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian).

Larissa contou que no dia 22 de dezembro saiu do trabalho e voltava para a casa numa bicicleta. Ao atravessar perto de um buraco, caiu no chão e machucou o ombro esquerdo.

Ela disse que soube depois ter quebrado o úmero, um osso longo e maior do membro superior responsável pelas articulações que envolvem o ombro e o cotovelo.

A partir daí, já perto do Natal, Larissa, casada e mãe de uma filha de um ano e oito meses, passou a enfrentar a via-sacra pelo atendimento médico.

Ela narrou ter ido até a unidade de atendimento do conjunto Nova Bahia e, de lá, seguiu para o CEM (Centro Especializado Municipal), onde fez raio-x no lugar machucado.

“Primeiro disseram-me que o ombro tinha sido trincado, mas que eu teria de enfrentar uma cirurgia. Até não me preocupei e soube lá [CEM] que teria que aguardar uma vaga em algum hospital”, disse a manicure.

Nos dias seguintes, 23, 24 e 25, a manicure disse ter enfrentado dores frequentes e retornou ao CEM porque o medicamento que tomava em nada aliviava sua aflição.

Dia 27, já seis há cinco dias do tombo que sofrera, ela recebeu uma ligação telefônica e, no diálogo, soube que deveria ir até o Hospital Universitário, onde seria submetida à cirurgia.

Ocorre que, por quatro dias, a manicure afirmou ter ficado no corredor do HU, até seguir para um quarto, onde ficou internada por dez sem que o procedimento fosse feito.

Ontem, quarta-feira, dia 9, a paciente foi chamada por uma médica que avisou que o hospital não tinha placa de titânio, uma barra de metal usada para imobilizar segmentos fraturados.

“Larissa, olha, você terá que entrar com ação judicial contra o Estado para conseguir a placa, vamos dar sua alta para você correr atrás”, foi o que a especialista disse, segundo a manicure.

Larissa Fernanda soube que a placa custa entre R$ 2,5 a R$ 10 mil. No entanto, ainda que ela tivesse dinheiro para comprar o aparato, o HU não poderia efetuar a operação.

O HU só usaria o material se o poder público comprasse a placa pela tabela do SUS (Sistema Único de Saúde), cujo preço pago giro em torno de R$ 290.

A manicure disse ao TopMidiaNews, na manhã desta quinta-feira (10), que segue a orientação do HU e buscou ajuda de um advogado para ver se consegue o aparelho por meio judicial.

O QUE O HOSPITAL DIZ

O HU, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou a história narrada pela manicure.

Informou que o hospital está sem a placa de titânio há pelo menos três anos. O HU, disse a assessoria, tenta adquirir o aparato por meio do pregão eletrônico, mas a oferta não atrai empresas fornecedoras.

Uma das razões da fuga das empresas tem a ver com o preço ofertado pelo hospital. Por regra, o SUS paga R$ 290 pela placa, nada mais.

A assessoria informou ainda que o HU tentou emprestar a placa da Santa Casa, maior hospital da cidade, mas o pedido foi negado.

A direção do hospital comunicou o caso da manicure ao MPF (Ministério Público Federal) por meio de relatório, mas ainda não obteve resposta.

Ou seja, a Santa Casa, hospital também mantido por recurso público, recusou o envio da placa para o HU. O motivo seria o alto número de pacientes na fila que também precisa da chamada placa de titânio.