Seca prolongada, altas temperaturas, baixa umidade relativa do ar e até atos criminosos. Seja qual fosse o problema, o Pantanal não conseguiu se recuperar totalmente do estrago de 2020 e viveu cenários de terror também em 2021.
Embora o número de devastação tenha sido em menor escala do que o ano passado, 2021 não foi tão tranquilo para os sul-mato-grossenses.
Acima da média histórica, por exemplo, o Pantanal do lado de cá perdeu 261,8 mil hectares. Nem mesmo o reforço de militares do Corpo de Bombeiros e a árdua sequência de trabalhos exaustivos evitou a tragédia.
O trabalho era difícil, com vários obstáculos para o combate às chamas. Em setembro deste ano, um redemoinho de fogo assustou os militares que atuavam em Corumbá.
Na região do Paraguai-Mirim, ao norte da cidade pantaneira, o fenômeno fez com que os militares se afastassem devido à velocidade do redemoinho.
Especialistas disseram que o fenômeno é raro. A explicação é que as chamas adquiriram velocidade e criaram um vórtice vertical, formando uma espécie de tornado de fogo. O fenômeno é criado pelo excesso de calor e a baixa umidade relativa do ar
Animais mendigando comida
A sequência de eventos adversos no Pantanal sul-mato-grossense, no ano passado e neste ano, resultaram em animais implorando por comida, água e sem habitat.
É fato que o cenário com chamas foi menor que o ano passado, mas a demora em recuperar os habitats, a falta de alimentos e a terrível seca castigaram de maneira cruel os animais que vivem na região.
A adaptação dos animais foi elogiada pelos especialistas e veterinários que, após os incêndios, conseguiram buscar alimentos e moradia em outra área do bioma, menos atingida pelos efeitos climáticos.
Mas a mudança de hábitos e o pedido por comida é muito triste. O presidente da Fundação Ecotrópica, Ilvanio Martins, destacou em uma entrevista para a BBC Brasil que, em uma de suas visitas no mês passado, notou animais debilitados e perambulando.
Macaquinhos imploravam por comida para turistas e moradores
(Foto: Chico Ferreira via Fundação Ecotrópica /BBC Brasil)
Com isso, animais 'furtando' alimentos de cozinhas e restaurantes viraram cenas comuns. Outros animais não tiveram alternativas a não ser apelar para alimentos que não faziam parte do seu cardápio.
"Vimos macacos e periquitos comendo manga verde, que não seria parte da dieta deles", disse Martins, que reparou que os macaquinhos estendem a pata para os humanos, como forma de pedir comida diante da escassez e a seca.
Pantanal perdeu sua água com queimadas
Como já é de conhecimento regional, nacional e até mundial, Mato Grosso do Sul passou a ser evidência nos noticiários em relação ao Pantanal - por vezes, não por sua imensa beleza, mas muito pelas chamas que devastaram áreas e prejudicaram o habitat dos animais.
A deterioração de um dos biomas mais impressionantes do país passou a ser refletido na perca da superfície da água. Com a recente onda de queimadas, ano após ano, uma pesquisa apontou que a região perdeu 57% de sua água desde 1985.
Nas décadas passadas, o estado contava com mais de 1,3 milhão de hectares cobertos por água, mas já em 2020, esse número foi reduzido para menos da metade. Segundo a pesquisa, atualmente o estado vive com 589 mil hectares de superfície de água. A tendência é que esse número diminua ainda mais neste ano.