A sequência de eventos adversos no Pantanal sul-mato-grossense no ano passado e neste ano, resultam nas imagens de animais implorando por comida, água e até habitat, destruídos ou em menor proporção diante dos efeitos causados pelo clima.
Em uma das oportunidades relatadas por ONGs e fundações que preservam o meio-ambiente, o cenário com chamas é menor que o ano passado, mas alimentos e a seca castigam fortemente os animais que vivem na região.
Para a BBC Brasil, Ilvanio Martins, presidente da Fundação Ecotrópica afirmou que "o fogo pode estar menos intenso, mas a fome e a seca estão mais presentes", relatando o atual cenário. A fundação, inclusive, gerencia quatro reservas ambientais e uma delas foi consumida pelas queimadas no ano passado.
"A fome não é tão escandalosa quanto o fogo, mas seu efeito é ainda mais devastador. Ela é severa e silenciosa. E afeta toda a cadeia (ecológica). A árvore que queimou não floriu; as que floriram não germinaram tantas sementes, e daí conseguem alimentar uma quantidade menor de pássaros e roedores", relata Martins.
A adaptação dos animais foi elogiada pelos especialistas e veterinários que após os incêndios, conseguiram buscar alimentos e moradia em outra área do bioma, menos atingida pelos efeitos climáticos.
Contudo, Jorge Salomão, veterinário da organização Ampara Animal Silvestre no Pantanal, explicou que o cenário da seca deste ano complicou muito, por isso, os animais estão procurando alternativas de garantirem sua refeição.
"O que complicou muito, neste ano, foi a seca. Então os animais saíram de uma situação crítica e emendarem na seca mais intensa dos últimos dez anos".
A mudança de hábitos e o pedido por comida também foi vista por quem está acompanhando de perto o cenário. Ainda para a BBC Brasil, Ilvanio Martins que em uma de suas visitas no mês passado ao bioma notou com animais debilitados e perambulando.
"Quando esses animais não encontram a água que antes estava ali, eles se desorientam", diz. Além disso, nos pontos em que a água deixou de fluir com a mesma intensidade de antes, os peixes não conseguiram se reproduzir no mesmo volume, ele explica. Portanto, deixaram de ser fonte de alimentos para as aves.
Com isso, cenas comuns como animais 'furtando' alimentos de cozinhas e restaurantes. Outros animais não tiveram alternativas a não apelar para alimentos que não faziam parte do seu cardápio.
"Vimos macacos e periquitos comendo manga verde, que não seria parte da dieta deles", disse Martins, que reparou que os macaquinhos estendem a pata para os humanos, como forma de pedir comida diante da escassez e a seca.
"Teve essa mudança de comportamento, mas acho que ela se deve muito ao assistencialismo feito no ano passado (para minimizar os danos dos incêndios). Os primatas aprendem muito rápido, passaram a pegar comida da mão da gente. Mas eu acho que é uma alteração comportamental mais por eles terem perdido o medo de se aproximar do que pela dificuldade (em conseguir comida)", explicou Salomão.
O zootecnista Thiago Graça também notou mudanças de hábito "absurdas e não naturais" dos animais por culpa da escassez.
Ao verem a comida ofertada pelos humanos, "os animais chegam com uma voracidade alarmante, com o desespero da fome", diz Graça, técnico da organização GRAD (Grupo de Resgate de Animais em Desastres).
"O Pantanal perdeu muita árvore frutífera, muito material verde e muita fauna também. Não é natural eles se aproximarem tanto da gente."