Uma festa religiosa secular foi cancelada este ano por causa da pandemia do novo coronavírus. O Comando da 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira comunicou, por meio de nota, que as celebrações em homenagem a Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Forte Coimbra, distante cerca de 100 km de Corumbá, não irá acontecer este ano.
Segundo o site Diário Corumbaense, as festividades culturais e religiosas estavam previstas para os dias 15 e 16 de julho, mas seguindo orientações de prevenção dos órgãos de saúde, não haverá nenhuma atividade para evitar o contágio das pessoas que vivem no distrito.
A história e tradição
Bicentenário, o Forte Coimbra foi palco de momentos marcantes da história de lutas, crenças e mitos registrados durante a ocupação da fronteira do extremo oeste e a fixação dos limites do Brasil com o Paraguai. À uma imagem de Nossa Senhora do Carmo, referenciada com honras militares na capela da fortificação, credita-se milagres que livraram tropas brasileiras de verdadeiros massacres.
Por mais de um século, a celebração de 16 de julho, dia da padroeira do forte, cultua a fé e mantém vivos relatos que comprovam manifestações da santa em dois episódios decisivos para a garantia da soberania brasileira naqueles confins. A festa tradicional tornou-se um produto turístico, que atrai pessoas de vários lugares do Estado, onde se cumpre promessas e graças recebidas, manifestadas nas oferendas e lembranças deixadas no manto da santa.
O Forte Coimbra foi construído em 1775, às margens do Rio Paraguai, e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) 200 anos depois. Situa-se entre morros, pouco acima onde existe o marco da tríplice fronteira – Brasil, Paraguai e Bolívia – entre os pantanais de Corumbá e Porto Murtinho. Sua construção, numa época de total fragilidade dos limites de Portugal com a Espanha, gerou polêmica, ao ser erguido em local errado. O ponto escolhido era o Fecho dos Morros, já próximo de Murtinho.
Credita-se a Nossa Senhora do Carmo milagres ocorridos durante as batalhas contra espanhóis e paraguaios, em 1801 e 1864, respectivamente. Na primeira batalha, a santa livrou a guarnição militar do forte, que contava com 110 homens, cinco canoas e três canhões, de um massacre no dia 17 de setembro de 1801, quando um exército espanhol formado por 600 homens, navios e 30 canhões, tinha ordem de ocupar o lugar na disputa pelo território com Portugal.
Após nove dias de batalha, os espanhóis venceram, mas, bateram em retirada ao verem a imagem da santa na entrada do forte. A segunda manifestação ocorreu durante a Guerra do Paraguai. No dia 28 de dezembro de 1864, a tropa paraguaia com 3,2 mil homens, 41 canhões, 11 navios e farta munição cercou o forte. Os brasileiros, com 149 homens, resistiram até o segundo dia, quando um soldado exibiu a imagem da santa na muralha do forte e os inimigos suspenderam o fogo, permitindo a fuga dos sobreviventes.
Hoje, uma imagem em concreto da santa se destaca na mesma muralha, de frente para quem sobe o Rio Paraguai, vindo dos países “inimigos”. Na capela erguida na comunidade civil que habita o forte, a imagem cultuada é a mesma trazida em 1798 pelo construtor e comandante do monumento, Ricardo Franco.