Alexandra Silvestre, mãe da Alice Silvestre da Silva, de 8 anos, que morreu após ser picada por uma aranha em Paraíso das Águas, afirma que houve negligência médica durante o atendimento da filha no hospital de Camapuã. Ela conta que suplicou para que a pequena fosse encaminhada em vaga zero a Campo Grande, mas o pedido foi negado.
Alice foi picada por uma aranha no dia 23 de outubro, na casa onde morava com os pais, na região de Bela Alvorada. Ela chegou a ser transferida para Campo Grande, mas morreu antes mesmo de chegar ao hospital, no dia 25.
A mãe de Alice conta que a pequena começou a passar mal durante a madrugada, com crises de vômito e diarreia. Como os sintomas, não passaram, a família resolveu buscar ajuda médica, no hospital de Camapuã. Eles chegaram na unidade às 9h, acreditando se tratar de uma virose.
"Achamos que fosse virose, apesar de ela já estar com a picada, mas nós, pais, não falamos sobre, pois, a princípio, eu achava que era furúnculo, porque Alice sempre teve no bumbum e estava igual aos que sempre deu", conta Alexandra.
No hospital, Alice foi atendida pelo médico, que a examinou e a colocou no soro, conta a mãe. No entanto, por volta das 14h, ela começou a sentir muita dor no, até então, furúnculo.
"Aí chamei as enfermeiras para chamar o médico para dar uma olhada, pois ela estava com muita dor. Elas me diziam que eu tinha que ter falado na hora que ele a examinou, mas eu respondi que estava preocupada com virose porque ela estava desidratada e que acreditava que fosse furúnculo", relata.
Luta por atendimento
A partir de então, Alexandra conta que começou a luta para que a filha conseguisse um novo atendimento. "Comecei a pedir para avisarem o médico, mas elas me davam sempre as mesmas respostas. Só por volta das 17h ou 18h que ele apareceu".
Em nova examinação, foi então constatado que os sintomas de Alice era reação a uma picada de aranha. Alexandra afirma que nesse momento, o local da picada já estava roxo.
Ela foi colocada novamente no soro, foi pedido uma transferência para Campo Grande, mas, segundo a mãe, como vaga 1, pois o quadro clínico teria sido considerado bom.
"Foi aí que pediram a vaga e nos mandaram aguardar, mas, daí para frente, a Alice só piorava. Ela estava com muita diarreia, vômito e falta de ar, mas eles diziam que estava tudo bem com ela. Foi quando começamos a suplicar para que algo fosse feito", relembra a mãe.
Conforme Alexandra, devido à falta de ação, ela chegou a gritar com o médico em um momento de desespero, para que ele a examinasse. Ele, então, teria verificado o pulmão de Alice, mas teria dito que o órgão estava limpo, com saturação boa, então precisava aguardar a vaga 1.
"Minha filha estava cada vez pior e eles diziam para aguardar a vaga 1. A gente suplicou pela vaga zero, mas o doutor disse para o meu marido que não podia pedir, pois seria só para pacientes que já estavam morrendo".
Piora do quadro
Na madrugada do outro dia (26), Alexandra conta que Alice começou a vomitar e defecar sangue, já bastante debilitada. Novamente, ela e o esposo buscaram o médico, que dormia, mas ele teria pedido para saírem do local, pois seria restrito.
Na espera angustiante pela transferência, Alexandra relata que a vaga para Alice foi negada por três vezes pelos hospitais de Campo Grande antes de ser finalmente aceita. "Acredito que eles [hospitais] não sabiam da gravidade do caso. Acredito que tinha que partir do médico informar o estado da minha filha, mas não aconteceu e ela foi transferida em vaga 1".
A família conta que precisou mobilizar amigos e conhecidos, que precisaram buscar a secretaria de saúde para que conseguissem a vaga. Foi então que ela foi encaminhada para Campo Grande, mas já era tarde.
"Infelizmente, antes mesmo de chegar em Campo Grande, a Alice teve a primeira parada cardiorrespiratória nos meus braços. Ela foi reanimada e chegou na UBS (Unidade Básica de Saúde) Nova Bahia, onde entubaram e tentaram salvar a vida dela, mas não deu", relembra a mãe, abalada.
Morte abalou comunidade
A morte abalou familiares e amigos. A Escola Municipal Kou Takahashi, onde ela cursava o 3º ano do Ensino Fundamental, chegou a declarar luto. O secretário municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Paraíso das Águas, Professor João Donizete Corsini, também manifestou pesar e informou que a rede municipal de ensino também estava em luto oficial.
O corpo de Alice foi velado no dia 26 de outubro, no Salão Comunitário Nossa Senhora de Fátima, no distrito de Bela Alvorada, em Paraíso das Águas. O sepultamento aconteceu no Cemitério Municipal de Chapadão do Sul.
Alexandra diz acreditar em negligência médica durante o atendimento. Ainda muito abalada, ela diz que desde a morte de Alice, ela e o marido não voltaram para casa. No último domingo (3), familiares realizaram a mudança do casal.
Mesmo acreditando que houve erros durante o atendimento, a família diz que não procurarão por justiça. "Eu não quero a justiça dos homens, quero apenas falar como tudo aconteceu, para outras crianças e pessoas não passarem o mesmo e para os pais ficarem mais atentos. Deus é quem vai fazer justiça para quem merecer".
"Hoje, através de Deus, tenho entendimento que era hora mesmo dela e que, de repente, até a negligência do médico foi necessária para a passagem dela. Eu acho que houve, sim, negligência, mas nada vai trazer minha Alice de volta", finalizou.
A Secretaria Municipal de Saúde de Camapuã foi procurada e questionada sobre o caso da Alice, mas não respondeu até a publicação da matéria. O espaço continua aberto para manifestação.