Moradora de Bataguassu, Joice Santos Amorim, 24 anos, estava grávida de 32 semanas e, infelizmente, por complicações na gestação, acabou perdendo o bebê.
A mulher relata ter sido vítima de negligência por parte da Prefeitura de Bataguassu, quanto ao atendimento no pronto-socorro Municipal. Além disso, o médico da vítima não teria prestado atendimento.
Tudo começou no dia 3 de janeiro, segundo Joice. Na ocasião, ela começou a sentir febre e dores de cabeça.
Preocupada e com medo de que algo acontecesse a bebê, Joice entrou em contato pelo aplicativo WhatsApp com o médico para marcar uma consulta para atendimento, mas não conseguiu agendamento, porque as mensagens, segunda ela, foram ignoradas pelo profissional, que havia deixado o número para contato de urgência.
Sem resposta, Joice decidiu procurar a unidade de saúde no dia 9 de janeiro.
"Quando chegamos lá, as enfermeiras fizeram uma triagem e demostraram preocupação com meu quadro clínico. Então, com muita dificuldade, ouviram o coração da bebê e disseram que o coração estava batendo. Logo em seguida, fui para sala de um médico”.
“Ele viu que a barriga estava endurecida e perguntou sobre a minha caderneta de gestante, e eu disse que estava com o meu médico, e que só estava passando na Santa Casa, porque ele, desde o dia 3, não me respondia. Então esse doutor me perguntou qual era meu médico e disse a ele quem era”, comenta.
“Ele fez um vídeo da minha barriga, mandou para o meu médico e pediu para que eu aguardasse... Passou uns 5 minutos, ele me chamou e disse que não tinha conseguido falar com o meu médico e me deu uma receita que tinha apenas dois remédios, para dor e vômito, e falou que eu procurasse a clínica do meu médico na segunda-feira, dia 11 de janeiro, e então fui embora para casa", conta Joice.
Ela revela que, quando chegou em casa, mandou mensagem novamente e obteve retorno. “Aí ele respondeu e disse que achava que estava tudo bem com a criança, que achava que o coração estava batendo e me pediu para ficar aguardando até segunda-feira, dia 11, na parte da tarde, que ele me atenderia se tudo corresse bem”.
Joice, então, optou por acatar o médico, já que ele havia a acompanhado durante toda gestação. “Só que, durante a noite de sábado, eu senti muita contração e dores nas costas, mas continuei em casa seguindo as orientações médicas. Já no domingo, mandei uma mensagem logo cedo dizendo que estava sentido que a minha filha não estava bem, que não mexia na minha barriga e que eu estava soltando um líquido gelatinoso, que sabia ter algo errado com a bebê”, desabafa.
Na ocasião, segundo Joice, o médico disse estar tudo bem. Diante das dores, no domingo mesmo, ela voltou ao pronto-socorro e foi atendida por outra equipe. “Essa equipe me atendeu e disse que estava tudo bem, que eu somente estava desidratada e me deixou internada tomando soro e um medicamento, mas nem se importou em fazer um toque ou chamar o especialista para dar um diagnóstico mais preciso. Quando acabou o soro, fui embora".
NOTÍCIA DO ÓBITO
Na segunda-feira (11), ela ligou na clínica do médico que fez o acompanhamento e foi informada que ele só poderia atendê-la no período da noite, às 19h.
"Às nove e meia da noite, quando eu deitei na cama para ouvir o coração da minha filha, ela já não estava viva. Mas às 18h, antes de ir para clínica, eu estava deitada na minha cama e senti quando a neném chutou por três vezes depois de três dias que ela não mexia, e essa foi a última vez", lamentou.
A jovem também informou que, no momento que era examinada, o médico questionou se os profissionais que a atenderam tinham ouvido o coração da criança, pois, segundo ele, a bebê estava morta a cinco dias.
"O doutor disse que não tinha como eu ter ouvido o coração da minha filha, e criticou os aparelhos da Santa Casa, alegando que estavam com defeitos e colocando em xeque parte da estrutura do hospital. Ele nos deu várias possibilidades que teriam ocasionado a morte da bebê, e uma delas era que pelo fato do meu marido ter pegado covid e que eu também teria sido infectada e teria afetado a criança. Mas meu teste da Covid deu negativo. No sábado e domingo, eu ouvi o coração da minha filha" contou Joice.
A jovem relata que foi proposto o parto induzido, mas que ela estava muito abalada com a notícia da morte da filha.
“Eu fui para casa com a minha criança morta na barriga porque eu não tinha cabeça nenhuma para continuar ali, eu queria tentar entender o que estava acontecendo. Na terça-feira, dia 12, voltei para clínica e fui informada que a cesárea não seria lá e sim na Santa Casa. Quando cheguei lá, eles não me deixaram ter um acompanhante então questionei e deixaram minha mãe ficar comigo. Foi constrangedor”.
No dia da cesárea foi dito que a criança estava morta de dois a três dias, contradizendo o que teria sido dito um dia antes.
O sentimento de revolta ficou maior ainda, pois, segundo Joice, o hospital não a deixou tirar nenhuma foto da filha.
“Só quem perdeu sabe a dor de uma mãe perder um filho e eu quero que seja feito justiça", finaliza a jovem que também registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil sobre o caso.
OUTRO LADO
O jornal local, Cenário MS, entrou em contato com a prefeitura de Bataguassu e também com o médico particular de Joice, porém, não deram retorno.
A Polícia Civil do município investiga o caso.