Com 7 e 11 anos, os filhos de Pâmela de Oliveira da Silva, morta após ter partes do seu corpo queimado pelo marido Damião de Oliveira da Silva, foram orientados a ficarem longe do pai.
Elas passaram por um tratamento psicológico intensivo após o feminicídio da mãe, em Rochedo - a 83 quilômetros de Campo Grande.
Os filhos do casal iniciaram o tratamento em setembro do ano passado, realizando a última sessão em março deste ano. Na oportunidade, a psicóloga escreveu em seu lado que as crianças trouxeram seus medos em relação ao risco de um novo contato com o genitor.
Tanto a menina, como o menino, afirmaram que voltaram a se lembrar com mais constância dos fatos vivenciados com o agressor, e pesadelos onde o mesmo se aproxima e retomam a convivência.
A psicóloga explicou que as crianças tiveram aumento da angústia e sintomas de ansiedade, indicando que a possibilidade de um novo contato com Damião poderia prejudicar o desenvolvimento deles após o tratamento.
As crianças relataram no decorrer das sessões diversas situações de agressão praticadas pelo genitor contra mãe e contra eles também. Os relatos eram envoltos de emoções, medo e angústia com o passado 'sombrio'.
O filho mais novo chegou a apresentar um comportamento mais reativo, com alguns indícios de agressividade e impulsividade, conforme descrito pela psicóloga. Diferente da menina, que mostrava um comportamento introspectivo, lembrando os acontecimentos de forma lenta e com expressões de tristeza e medo.
Inclusive, na última sessão, a filha de Pâmela verbalizou sobre o sentimento de culpa pelas agressões sofridas pela mãe, justificando que ela, como irmã mais velha, "poderia ter entrado em contato com os órgãos competentes e evitado a tragédia".
O menino também se sentiu confortável ao dizer que ainda tinha lembranças da tentativa de buscar ajuda para a mãe nas agressões, mas que sempre foi impedido por Damião.
"Assim, considerado que é de fundamental importância para o sucesso do tratamento e segurança das crianças, bem como para o pleno desenvolvimento emocional de ambos, que o genitor continue afastado das mesmas, sem nenhuma possibilidade de contato, mesmo que visual, e que seja assegurado a elas, que estarão protegidas e amparadas na residência da tia materna", dizia o trecho do laudo, feito pela psicóloga.
O caso
Damião Souza Rocha, de 36 anos, forjou que a esposa tenha tentado se matar ao dizer que ela teria colocado fogo em si própria. Dessa forma, ele foi denunciado pelo crime de feminicídio.
O caso aconteceu no dia 21 de julho do ano passado, na cidade de Rochedo. Conforme consta no documento apresentado, após longos meses de investigação, o acusado teria iniciado uma discussão com sua esposa por questões que envolviam à separação do casal.
Em determinado momento, houve uma trégua na briga e a mulher ficou na varanda da residência acompanhada dos filhos, quando notou o retorno de Damião na posse de um galão de gasolina e mesmo na frente dos filhos, ele questionou a mulher: "prefere aqui, ou no quarto?", se referindo a atear fogo na vítima.
Logo após o questionamento, o marido obrigou que Pâmela entrasse no quarto do casal, jogou gasolina sobre seu corpo e ateou fogo nela, sem qualquer possibilidade de defesa da mulher. Na denúncia, os filhos apontaram que ouviram a mãe dizer "não faz isso", e após alguns minutos, visualizaram a cena do fogo do colchão e a mulher em chamas.
Pâmela morreu no dia 22 de agosto, após ficar vários dias internada na Santa Casa. O laudo necroscópico apontou que a vítima apresentou queimaduras de 2° e 3° em 80% do corpo, além de ferimento de 4° grau na mão esquerda.
"Infere-se que o crime foi praticado contra mulher por razões da condição do sexo feminino, no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher, por questões referentes ao convívio do casal, sendo, ainda, narradas as agressões que a genitora sofria", diz parte da denúncia.
Assim, ele foi denunciado por feminicídio qualificado, com emprego de fogo, embosca que dificultou defesa da vítima. O Ministério Público finaliza pedindo também uma indenização em favor dos descendentes da vítima.