Aretha Franklin morreu nesta quinta-feira aos 76 anos, às 9h50 (8h50 no horário de Brasília) em sua casa, em Detroit. A assessora da cantora, Gwendolyn Quinn, confirmou a informação à agência Associated Press. Ao longo da semana, familiares confirmaram que Aretha estava “gravemente doente”. O motivo da morte foi câncer de pâncreas.
“Em um dos momentos mais tristes de nossas vidas, não temos palavras apropriadas para expressar a dor em nossos corações. Perdemos nossa matriarca, a rocha da nossa família”, diz o comunicado divulgado pela família.
A cantora foi diagnosticada com a doença em 2010, o que a levou a se afastar dos palcos por um período. Sua última performance pública aconteceu na Filadélfia, em agosto de 2017.
Apelidada de rainha da soul music, Aretha Franklin é considerada uma das melhores vozes da história da música, referência para outros nomes que surgiriam na indústria, como Whitney Houston, Beyoncé e Adele. Ao longo de sua trajetória, ela soma 18 estatuetas no Grammy, torna-se a primeira mulher a entrar para o cobiçado Rock & Roll Hall of Fame, em 1987, e recebe a Medalha Presidencial da Liberdade – a maior condecoração para um civil americano – das mãos do então presidente George W. Bush, em 2005.
Trajetória de uma diva
Aretha nasce em 1943 em Memphis, no Tennessee, e se muda com a família, aos 4 anos de idade, para Detroit. Filha de um pastor batista e ativista pelos direitos civis dos negros nos EUA, Aretha é influenciada pela música cristã e começa a cantar na igreja ainda na infância. É com o apoio do pai que ela lança seu primeiro disco, um álbum religioso batizado de Songs of Faith, em 1956.
A carreira fora das paredes do templo acontece rápido. Ela é disputada por gravadoras e assina seu primeiro contrato com a Columbia Records, em 1961, onde trabalha com o produtor John Hammond, um apaixonado por jazz. É no gênero que ele encaixa Aretha em seus primeiros anos de carreira, resultando em canções como Today I Sing the Blues e Won’t Be Long.
Ela muda de gravadora em 1967 e vai para a Atlantic Records, onde começa a lapidar seu estilo no R&B e soul. É na casa que Aretha emplaca seu primeiro hit na Billboard, a canção I Never Loved a Man the Way I Love You.
No mesmo ano, a cantora lança Respect, seu hit absoluto, que atinge o topo das paradas e ainda se torna um hino entre os que lutavam pelos direitos civis dos negros e, particularmente, entre as mulheres.
Os anos de 1967 e 68 são frutíferos e Aretha emplaca diversas canções nas paradas de sucesso. Entram para as mais ouvidas as faixas, Baby I Love You, (You Make Me Feel Like) A Natural Woman, Chain Of Fools, (Sweet Sweet Baby) Since You’ve Been Gone, Think, The House That Jack Built e a indefectível I Say a Little Prayer.
Entre 1968 e 75, oito vezes seguidas, Aretha ganha o Grammy de melhor performance vocal feminina de R&B — categoria que ela ainda conquista mais cinco vezes ao longo da carreira. No total, leva 18 estatuetas na premiação, além de três prêmios honorários por sua obra.
O auge leva a cantora, nos anos seguintes, a ter mais liberdade para experimentar, flertando com o pop e o dance, e apostando em parcerias com artistas mais jovens. Ela canta ao lado de nomes como George Michael e Michael Jackson, produz a bela A Rose Is Still a Rose, com Lauryn Hill, e encabeça a comitiva de musas no clássico especial VH1 Divas Live, com Mariah Carey, Celine Dion, Gloria Estefan, Carole King e Shania Twain.
Ao mesmo tempo em que circula pelo que há de novo na indústria musical, ela também se sente confortável para retornar às origens do gospel, com destaque para o disco One Lord, One Faith, One Baptism (1987) e a faixa Never Gonna Break My Faith, parceria com Mary J. Blige, em 2007.
No total, entre discos de inéditas, coletâneas e regravações, Aretha lança 39 discos. Sendo o mais recente sua homenagem a outras divas Aretha Franklin Sings the Great Diva Classics, em 2014, no qual faz cover desde Etta James e Barbra Streisand, até Adele.
Para além de belas gravações, Aretha se estabelece como uma grande artista do palco. Canta para a rainha Elizabeth II no Royal Albert Hall em Londres, em 1980, na posse dos presidentes Bill Clinton, em 1993, e Barack Obama, em 2009, e para o papa Francisco, em 2015.
Em uma de suas recentes e marcantes apresentações, Aretha sobe ao palco do Prêmio Kennedy para homenagear Carole King. No teatro, logo ao lado de Carole estava ninguém menos do que Obama, acompanhado da mulher Michelle. Em certo momento, é possível ver uma lágrima furtiva nos olhos do ex-presidente americano.