Enzo ficou amigo de Ruanzinho no Instagram. A notificação seria irrelevante entre milhões de crianças e adolescentes conversando nas redes. Mas os dois estão entre os maiores ídolos atuais do sertanejo e do brega-funk. A amizade pode render uma parceria imbatível em 2019.
Enzo Rabelo, 10 anos, é filho de Bruno, da dupla com Marrone, e supera o pai nas paradas sertanejas hoje. Ruanzinho, 15 anos, disputa com Bruninho, 11, o trono de reizinho do "batidão romântico" no Recife. Os ídolos da novíssima geração do pop brasileiro entram o ano em alta.
O G1 investiga nesta semana tendências do pop para 2019:
É hora de romantismo mirim? (segunda, 14)
Pop latino irá além do reggaeton? (terça, 15)
Qual é a do novo rap brasileiro? (quarta, 16)
Séries e filmes vão imitar internet? (quinta, 17)
Anos 90 são os novos anos 80? (sexta, 18)
Em comum, estes pequenos cantores têm letras super-românticas. Com pose de "bons mocinhos", cantam sobre amores difíceis: casamento, relação à distância, despedidas, namoro entre classes sociais diferentes...
O sexo não entra neste repertório. Alguns MCs mirins causaram polêmicas há alguns anos, especialmente no funk do Rio e de SP, com músicas de teor sexual. Não é o caso desses aqui. Eles passam longe dos palavrões.
“Vamos trabalhar o Bruninho como um artista voltado às crianças, com eventos à tarde e um público com idades próximas à dele. Não queremos colocá-lo na noite”, disse o empresário Rodrigo Oliveira, dono da produtora GR6, que cuida da carreira do menino.
O trabalho parece dar bons frutos - ao menos na parada semanal do YouTube Brasil:
"Tijolinho por tijolinho", de Enzo Rabelo e Zé Felipe, é a atual 8ª música mais ouvida no país. Soma 140 milhões de cliques.
"Sou favela", do MC Bruninho com Vitinho Ferrari, está em 21º, e acumula 220 milhões de views.
Bruninho também emplacou "Beijinho gostoso", com MC Livinho, em 38º lugar, com 20 milhões de views.
"Trama", de Ruanzinho com Dany Bala, está em 68º lugar, com 5 milhões de views.
A mãe de Ruanzinho, a servidora pública Michelle Lima, disse que tentava convencer o menino desde pequeno a cantar na igreja que ela frequenta no Recife, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Ele fazia vídeos na internet, mas tinha vergonha de cantar em público. Foi descoberto pelo produtor Walter Pereira e o compositor Marcos César. Eles convenceram o menino. Michelle aceitou, mas com condições: "Desde que não cante palavrão, de denegrir a imagem da mulher."
Ele seguiu a linha chamada de "batidão romântico", em que entram muitos cantores mais novos, como Ruanzinho e Bruninho. Uma das diferenças para outros artistas do brega-funk do Recife, como a também jovem MC Loma, são justamente as letras de amor.
"A gente já chegou a recusar música pesada, falando de bumbum. 'Bumbum não', eu falei. Hoje em dia tudo é sentar, quicar. Eu não sei explicar porque os meninos estão cantando essas coisas. Quando chegaram para o Ruan, a proposta já foi essa. Gostei. Não é o tipo de coisa que eu ouço, mas a música era boa", diz a mãe.
Sem palavrão, sem problema?
"Os assuntos que essas músicas pregam são relacionados à vida de adulto. Criança não namora. Ela precisa ser criança. A pessoa de 9, 11 anos, não tem capacidade emocional para lidar com isso", diz a psicóloga Renata Bento.
Como os adultos devem lidar com cantorezinhos e fãzinhos, então? "Conversar. Tentar observar a letra junto com a criança, fazer ela falar sobre isso. Sempre abrir, em vez de proibir. A partir disso, tentar construir uma capacidade crítica com ela", ela indica.
Mas o que será que causa tanto interesse nesse romantismo mirim? "É o fenômeno de a criança imitar o adulto. Adultos acham isso engraçadinho e as crianças vivem esse desejo", ela afirma.
"A pessoa começa a pensar nisso na adolescência", ela diz. Então no caso de Ruanzinho, com 15, está tudo certo? Mais ou menos... "Casamento, relação por dinheiro, são assuntos de adulto mesmo. Elas até falam de forma lúdica. Mas essas músicas têm uma conotação mais séria", Renata diz.
"Isso me parece uma questão de pseudo-amadurecimento", diz Renata. "O pseudo-amadurecimento parece bem bonitinho, mas pula etapas. As etapas que não são vividas e experimentadas vão fazer falta lá na frente."
Então, se seu filho ouve e repete juras de amor, não ache que ele sabe o que aquilo significa: "É preciso dizer: 'Você pode até brincar e de ser papai e mamãe, mas isso é ser adulto'", diz Renata.
Cuidados com a carreira
Para os pequenos cantores, há ainda a questão de entrar em uma indústria cercados de adultos. Na estrada há mais de 30 anos, Bruno, pai de Enzo, sabe o que esse mundo oferece de bom e de ruim. “Eu sei do lado negativo de tudo, mas quem nasce pra isso não tem muito jeito de segurar”, ele admite.
"A questão do show é complicada, por conta da idade", diz Michelle. "Para entrar na casa de show tem que ter alvará. Em novembro, o Ruan tinha quatro shows em Brasília. Mas foram canceladas porque o juiz da comarca não autorizou. Depende da intepretação de cada juiz", ela diz.
Mesmo assim, eles devem continuar em alta rotação em 2019 - se não em shows, ao menos nas plataformas de música na internet.
Vem aí um mini-feat?
A família de Ruanzinho vai se mudar neste ano para São Paulo, para ficar mais perto da produtora Start Music e dos novos projetos. Por enquanto, estão cuidando da transferência de escola. O pai é policial, e ele estudava em colégio militar no Recife - agora buscam outro em SP.
Um dos possíveis projetos é com... Enzo Rabelo. Foi Michelle que revelou ao G1 que eles ficaram amigos no Instagram.
"Isso veio deles mesmos. Os dois conversam no Instagram. O Enzo disse curtiu a música do Ruan, e eles começaram a conversar. E eles falaram dessa vontade de uma parceria. Como são meninos, para eles é fácil, mas vamos ver agora com os pais", diz a mãe.