As adolescentes que atraíram o jovem Matheus Silva Cruz, 23 anos, para a morte já haviam manifestado vontade de cometer infrações, dias antes da emboscada. A reportagem teve acesso ao trecho de uma live, de 27 de janeiro, feita por uma das meninas suspeitas de preparar uma armadilha para o vendedor. Nas imagens, é possível ver quando uma das menores infratoras diz querer “meter um assalto”.
A reportagem decidiu borrar as imagens e distorcer voz das garotas, porque o Estatuto da Criança e do Adolescente veda que menores de 18 anos sejam identificados em reportagens. No vídeo, as meninas brincam com a possibilidade de cometer crimes. Em 5 minutos de live, as adolescentes infratoras chegam a convidar quem estava assistindo para participar.
No relato, uma delas se vangloria de ter assaltado um supermercado recentemente. Nos comentários, quem assiste à live exalta as falas. “Os coroa [sic] o alvo”, destaca um. Elas são chamadas de “criminosas” e “periculosas” por outros que acompanhavam a publicação.
A jovem que está filmando aparenta gostar dessas menções e, em seguida, afirma: “Eu sou perigosa”.
Em outro trecho, uma das meninas informa que está cheia de drogas nos seios, e a outra responde: “Peitinho caro”. Já em outro momento, elas falam que vão roubar uma casa e que “tem de ser ligeiro e esperto”.
Crime
Juntas, as meninas são investigadas por preparar uma emboscada para o vendedor Matheus Silva. No domingo (18/2), ele teria sido atraído para o local onde foi espancado, uma distribuidora no Setor O, em Ceilândia, por uma das adolescentes que entrou em contato com ele pelo Instagram, segundo as investigações.
No dia combinado para o encontro amoroso, a jovem chegou ao local marcado acompanhada por outra adolescente. De lá, os três seguiram para a distribuidora, onde os comparsas das jovens aguardavam a vítima.
Matheus foi espancado no estabelecimento, antes de ser colocado à força no próprio carro e levado para o Incra 9, em Ceilândia, onde teria sido agredido novamente, com um pedaço de pau, e ficado com a cabeça parcialmente esmagada.
O corpo dele foi encontrado, na manhã de terça-feira (20/2), coberto por folhas e com uma calça enrolada na cabeça. O jovem estava desaparecido havia dois dias.
Quatro adolescentes investigados
O caso é investigado como latrocínio – roubo seguido de morte –, pois os envolvidos levaram celular, uniforme e outros pertences de Matheus, além do som e da bateria do carro do vendedor.
Delegado-chefe da 24ª Delegacia de Polícia (Setor O), Pedro Luís de Moraes, afirmou que sete pessoas estão envolvidas na morte do vendedor. Quatro delas são adolescentes.
“[Ele] caiu no golpe por meio do Instagram. Apuramos que ele tinha marcado um encontro amoroso com as jovens e, assim, foi atraído para o local [do crime]”, comentou o investigador.
Para o delegado, os envolvidos na morte devem responder por atos infracionais análogos aos crimes de latrocínio, ocultação de cadáver, corrupção de menores e organização criminosa. Dois adolescentes estão detidos, e a PCDF ainda procura por outros dois.