A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) destacou, em seu relatório sobre a violência na profissão, o episódio em que a jornalista Rayani Santa Cruz, do site TopMídiaNews, foi atacada pelo deputado Loester Trutis (PSL) após matéria apontando contradições no suposto atentado ao início de 2020. Meses depois, a Polícia Federal concluiu que o parlamentar teria forjado o atentado.
Conforme a Fenaj, em 2020, houve uma verdadeira explosão da violência contra jornalistas e contra a imprensa de modo geral. Foram registrados 428 episódios, 105,77% a mais do que em 2019. A descredibilização da imprensa, como no ano anterior, foi a violência mais frequente: 152 casos, o que representa 35,51% do total.
No caso da jornalista do TopMídiaNews, o ataque do deputado não prosperou, já que houve a plena divulgação do caso em todos os veículos de imprensa, inclusive, com a prisão do parlamentar em operação da Polícia Federal.
“A jornalista Rayani Santa Cruz, repórter do site Topmidianews, foi agredida verbalmente pelo deputado federal Loester Trutis (PSL), após publicar reportagem apontando contradições entre publicação do deputado em rede social e pronunciamento na Câmara dos Deputados sobre atentado que teria sofrido. Loester acusou a jornalista de deturpar os fatos e usou argumentos machistas e misóginos para desqualificar o trabalho de Rayani. Chegou a publicar: “tem outra jornalista tentando dar o furo”. Em novembro, a Polícia Federal finalizou inquérito que investigou o atentado e a conclusão foi de que o ataque foi forjado pelo deputado”, diz o relatório, que possui centenas de casos de ataques de políticos e de pessoas comuns a jornalistas.
Na época da publicação, o Sindjor (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MS) emitiu nota de repúdio sobre o caso e prestou solidariedade à jornalista. O parlamentar em questão fez outras agressões virtuais diretas aos profissionais da comunicação, mas nem todos foram contabilizadas.
Tendência
Segundo a Fenaj, as agressões verbais/ataques virtuais cresceram 280% em 2020, em comparação com o ano anterior.
Rayani afirma que, neste caso em específico, os desdobramentos sobre o atentado fake mostram que os jornalistas sul-mato-grossenses, apesar de todas as dificuldades no ambiente de trabalho, agressões e estresse do dia a dia, estão no caminho certo.
“O relatório da Fenaj só afirma o que vivemos no exercício da profissão. Somos cobrados o tempo todo, recebemos xingamentos de haters e ainda tem casos, como o citado, que querem nos desmoralizar seja por ser mulher, por posicionamento político ou mesmo pelo teor da matéria. Não é um caminho fácil e chega a nos atingir emocionalmente, mas é o que temos de enfrentar atualmente. Espero que o cenário mude, pois, quando existe algo que levanta dúvidas, é o nosso papel fazer o confronto.”
Relatório
A Fenaji aponta que o presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, foi o principal agressor. Sozinho foi responsável por 175 casos (40,89% do total). A postura do presidente da República, serviu de incentivo para que seus auxiliares e apoiadores também adotassem a violência contra jornalistas como prática.
Agressão física
Em Campo Grande, também foi registrado o caso dos jornalistas Bruna Marques e Paulo Francis, respectivamente repórter e repórter fotográfico do jornal Campo Grande News. “Eles foram agredidos pelo comerciante Davi Cornélio, dono de mercado na Avenida Guaicurus, Vila Santa Eugênio. A equipe estava na calçada em frente ao mercado, conversando com uma pessoa que saiu do estabelecimento. O comerciante saiu à porta e, bastante irritado, exigiu a saída dos profissionais do lugar. Como eles estavam no passeio público e não dentro do estabelecimento privado, continuaram com a entrevista. O comerciante passou a xingá-los de “vagabundos” e “fdp”. acusar de não deixar “as pessoas trabalharem”. Paulo Francis tentou argumentar que não estavam na loja e estavam desenvolvendo reportagem que sequer tinha a ver com o estabelecimento. As agressões verbais continuaram e Bruna começou a filmar o comerciante com seu celular. Então, ele a agrediu com um tapa que atingiu seu braço”.
Centro-oeste
O Centro-Oeste foi a região brasileira com maior número de atentados à liberdade de imprensa no de ano de 2020 e registrou 130 casos de violência, totalizando 48,55% do total. O Distrito Federal foi a unidade federativa campeã em números de casos, com 120 ocorrências (43,48%).
A Fenaj enxerga os números do relatório com preocupação e é urgente uma mudança comportamental. “Com grande preocupação, a Federação alerta para o crescimento significativo do número de ocorrências, em relação ao ano anterior. Esse crescimento evidencia a institucionalização do desrespeito ao princípio constitucional da liberdade de imprensa, por meio da Presidência da República, e a disseminação de uma cultura da violência para a relação cidadãos/veículos de comunicação/jornalistas.”
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