Alguns candidatos de Campo Grande tem no plano de governo a implantação de creches noturnas para pais e responsáveis que trabalham ou estudam no período terem onde deixar os seus filhos. A proposta pode parecer interessante inicialmente, mas, tem tantos detalhes que a viabilidade pode ser difícil na Capital.
Será que uma criança nesse período consegue ter evolução no avanço educacional? Deveria mesmo ter vagas no horário noturno? Como resolver essa situação?
Em conversa com o professor o presidente da ACP (Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais em Educação), o professor Lucílio Souza Nobre foi explicado sobre as diferenças entre o termo creche e Emei (Escola Municipal de Educação Infantil).
O professor emitiu opinião como profissional de educação e disse que a principal situação é que antigamente as creches funcionavam apenas como abrigo para que os responsáveis pudessem trabalhar. A pasta que geria as instituições era a da Assistência Social. Com a mudança de nomenclatura para Ceinf (Centro de Educação Infantil) e depois Emei a pasta detentora passou a ser a Semed (Secretaria Municipal de Educação) e as crianças passaram a ter desenvolvimento pedagógico planejado de forma obrigatória. Ou seja, passou de um local para abrigar para uma escola.
O assunto é complexo. “Desconheço nenhuma formalização de projeto de implementação de creche noturna. A nomenclatura é Emei e muda a forma de trabalhar como um todo. A creche não é da educação era da pasta de Assistência Social. Os profissionais que vão atuar é de outra secretaria e é outra concepção fora da educação. De repente irão colocar um cuidador para ficar. O que fica são os questionamentos: qual o escopo desse projeto? Quem será o corpo técnico de profissionais? Da onde virá o orçamento? E como vai funcionar?”, questiona.
Lucílio também afirma que de imediato defende as escolas de educação infantil pelas atividades pedagógicas. “Tem que ter professor para dar a aula. Eu
precisaria ter conhecimento total desse projeto para emitir uma opinião. São várias questões né. Por exemplo, essa criança seria matriculada em uma escola normal durante o dia? O local funcionaria apenas para abrigar e ter cuidados mesmo? Então, é tudo isso que precisamos saber”.
Questionada sobre a viabilidade do projeto em Campo Grande, a assessoria de comunicação da Semed disse que “A secretária Municipal de Educação, Elza Fernandes, não falará sobre o plano de governo dos candidatos a prefeito de Campo Grande”.
Outros locais que houve a tentativa de implantação
Conforme a BBC Brasil, em fevereiro desse ano a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei que autoriza a Prefeitura a criar mais um turno em creches da cidade. Elas ficariam abertas até as 23h, recebendo crianças cujos pais trabalham até mais tarde. A nova lei, porém, ainda precisa da sanção do prefeito Bruno Covas (PSDB).
A cidade tem unidades conveniadas administradas por entidades privadas que recebem dinheiro da Prefeitura para educar crianças. O sistema foi adotado tanto pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT) quanto pelo atual, o tucano Bruno Covas.
O novo projeto de lei aprovado em São Paulo autoriza o período noturno nos dois modelos. Inicialmente, o programa funcionaria em caráter de testes em seis ou dez unidades de bairros mais pobres o horário começaria às 14h para crianças que fiquem até mais tarde. A partir daí, caso a procura aumente, ele poderia se expandido para outros pontos.
Segundo Secretaria Municipal da Educação, o projeto de lei ainda será analisado pelo prefeito, "que pode decidir ou não por sua sanção".
Conforme a BBC Brasil, países como Suécia contam com o serviço há décadas.
Deu errado
No Brasil, uma das pioneiras no modelo foi a cidade de Pomerode, no interior de Santa Catarina. Há alguns anos, a Prefeitura implantou uma unidade que funcionava até à meia-noite em uma área industrial, onde, em tese, haveria uma grande demanda pelo serviço. Porém, a BBC divulgou que o município decidiu encerrar as atividades da creche noturna no ano passado por falta de demanda. Havia apenas três crianças.
Segundo Jorge Luiz Buerger, secretário de Educação de Pomerode. Do ponto de vista econômico não fazia sentido pelo gasto para manter a unidade funcionando até tarde, com mais funcionários. “Preferimos investir o dinheiro em outras melhorias", diz.
O outro motivo do fechamento, explica Buerger, foi educacional: não houve ganhos pedagógicos. Na maior parte do tempo, os educadores não podiam realizar atividades, pois já era tarde e as crianças estavam cansadas.
"A gente percebeu que não era bom para as crianças. Elas estavam sendo privadas do direito à convivência familiar e comunitária no momento da noite. Também havia sempre a preocupação com a segurança: o diretor da creche, mesmo em casa, precisava ficar sempre alerta", explica Buerger.
Outro formato deu certo
No interior de São Paulo, a cidade de Botucatu também estendeu o horário de duas unidades conhecidas "creches do comércio" — na maioria, os alunos são filhos de trabalhadores do setor. Durante a semana, elas funcionam até às 18h — também são as únicas que abrem aos sábados.
"Elas também ficam abertas até às 22h em datas comemorativas, como Dia das Mães ou dos Namorados, quando o comércio na cidade fica aquecido", explica Valdir Paixão, secretário municipal de Educação de Botucatu.
Segundo ele, já houve pedidos para que as unidades funcionem até mais tarde todos os dias. "Mas nós fizemos estudos mostrando que não havia tanta demanda. Nesse ano vamos realizar uma nova pesquisa, mas, do meu ponto de vista, a creche não deveria privar as crianças do convívio com a família", diz Paixão.
Para Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas, as creches noturnas não são uma solução para o problema, pois elas atendem às demandas dos pais, não das crianças.
"A creche surgiu para suprir a necessidade das mães, que começaram a entrar no mercado de trabalho. Mas, depois, ela mudou para um perfil educacional, pois percebemos a importância da criança já receber estímulos desde pequena. Hoje, a creche não pode funcionar com um hotelzinho. Ela precisa ter um caráter educacional. Além disso, até do ponto de vista da saúde, não é bom para uma criança se deslocar de um lugar para o outro tarde da noite", diz.
Anna Maria Chiesa, consultora técnica da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, concorda que o sono e o bem-estar da criança devem ser prioridade para o poder público. "Como fica o sono de uma criança em uma creche que funciona até tarde? Nessa idade, ela precisa dormir 11 horas por noite, e mais alguns cochilos durante o dia", disse a BBC Brasil.