Desde os tempos do velho Mato Grosso a bovinocultura dá as cartas por aqui. Hoje 39 anos após a criação de Mato Grosso do Sul, o setor lidera a economia do Estado e deve permanecer assim por muitas décadas.
Porém, a implantação do setor florestal, na região leste de MS dá novo desenho e diversifica a economia regional, e já em 2017 deve ser o maior produtor de celulose do País.
(Plantação de eucalipto mudou cenário e economia da região leste de MS - Foto: Fibria)
A força do boi
O rebanho de MS ocupa atualmente a quarta posição no ranking dos estados brasileiros com 19 milhões de cabeças. Chegou a ser o segundo maior do Brasil, com pico de 23 milhões, perdendo apenas para o Mato Grosso. A rusticidade do gado nelore fez ele se adaptar em terras Guaicurus, e junto com clima e solo propícios ajudou a construir também a cultura e identidade de um povo.
(Pecuária de corte é uma das atividades mais antigas de Mato Grosso do Sul - Foto: Nelore MS)
O melhoramento genético do rebanho contribui, e muito para o fortalecimento da pecuária em Mato Grosso do Sul. O Estado tem hoje 12 milhões de cabeças sendo avaliadas no PMGZ (Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos) da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), em Uberaba-MG, referência internacional.
A abertura do exigente mercado norte-americano para a carne in natura (carne crua) do Brasil fortalece o setor e dois frigoríficos habilitados para enviar carne crua para a terra do Tio Sam estão aqui no MS. Em 2015, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio, MS foi o 5 maior exportador de carne bovina com 128,1 mil toneladas embarcadas. O faturamento chegou a R$ 1,8 bilhão.
Novos caminhos
Quem segue pela BR-262 de Campo Grande até Três Lagoas, vai perceber que, em vez do tradicional pasto repleto de bois como paisagem, haverá plantações gigantescas de eucalipto, nos dois lados da pista. A imagem representa um investimento feito desde 2009 que culminou no crescimento econômico do Estado. Atualmente são 920 mil hectares plantados na região.
Corumbá, que tem o maior rebanho bovino do Estado, com 1,71 milhões de cabeças, segundo o IBGE, é a capital da pecuária no Estado, Camapuã é a capital nacional do bezerro de qualidade e agora Três Lagoas figura, desde 2009, como a capital mundial da celulose, tendo duas grandes indústrias: a Fibria e a Eldorado.
Em 2009, quando começaram as operações nas indústrias de celulose, o produto foi o terceiro item mais exportado em Mato Grosso do Sul, com 59,9 mil toneladas. Já no primeiro semestre de 2015, o volume enviado para outros mercados foi de 1,21 milhões de toneladas, o que rendeu receita de US$ 227,1 milhões.
A Fibria, aliás, está construindo uma nova linha de produção em Três Lagoas, com investimento estimado em R$ 7,7 bilhões. Se concluído, a capacidade de produção da empresa vai passar de 1,28 milhões de toneladas, produzida entre abril de 2015 e junho deste ano, para 7 milhões de toneladas/ano. A cidade deve se recuperar do fechamento da fábrica de fertilizantes da Petrobras e gerar mais de 40 mil empregos até o fim de 2017.
(unidade da Fibria em Três Lagoas deve produzir 7 milhões de toneladas de celulose- Foto: Fibria)
A Eldorado Celulose não deixou por menos e também realiza investimentos na ordem de R$ 8 bilhões. Em 2015, aos olhos do governado Reinaldo Azambuja, lançou a pedra fundamental na nova unidade na cidade, que quando pronta, deverá produzir até 4 milhões de toneladas de celulose por ano.
(Eldorado Celulose está investindo R$ 8 bilhões em unidade de produção de Três Lagoas - Foto: Região News)
Economia local
A construção da unidade contará com 60 fornecedores locais, o que aquece mais a economia. Segundo a Fibria, os reflexos já podem ser observados na rede hoteleira, no mercado imobiliário e alimentação. Outro exemplo são as transportadoras que precisam de mão de obra, manutenção e peças. Segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Três Lagoas, Atílio D'agosto a demanda deve aumentar e o comércio varejista já vai sentir os reflexos, quando chegar o pico da construção da unidade. "Diretamente e indiretamente, muitas empresas serão beneficiadas com a geração de emprego e renda, pois a população passa a investir muito mais nas lojas da cidade'', garantiu.
(Comércio de Três Lagoas sentiu os efeitos positivos da instalação de grandes indústrias na região - Foto: Prefeitura TL)
Ainda segundo a Fibria a loja Romera, localizada em Três Lagoas, também registrou aumento nas vendas. "Fornecemos móveis e eletrodomésticos para o Projeto Horizonte 2, o que deu um grande fôlego no ganho econômico da empresa, que antes sentia a crise. Com isso, aumentamos o número de funcionário que possibilitou aperfeiçoar ainda mais nosso atendimento. Outro fator muito positivo é que reformamos a loja, um desejo antigo que conseguimos realizar graças à parceria com a Fibria", diz o gerente da Romera, Danilo Ramos.
Boi e floresta juntos
Apesar da crise econômica que assola o País, o crescimento econômico no Brasil na última década, o aumento do consumo das classes até então menos favorecidas e maior demanda dos países emergentes vai demandar maior produção, tanto de carne bovina quanto de madeira e papel. É nesse cenário que a ILPF (Integração Lavoura Pecuária e Floresta) surge aos olhos dos produtores como forma de aumentar a produtividade e preservar o meio ambiente.
O sistema, também chamado de silvipastoril proporciona cultivar uma pastagem em meio a floresta, garantindo conforto térmico ao rebanho, preservação do meio ambiente e o duplo rendimento, já que se produz carne e madeira em um mesmo local.
(Pecuária e silvicultura integradas trazem maior produtividade ao produtor - Foto: Embrapa Gado de Corte)
Bioenergia
O cultivo de floretas, além de extremamente rentável é ambientalmente correto. Ainda mais quando a madeira é utilizada para a produção de energia elétrica. É a chamada 'bioenergia'. A Fíbria, por exemplo,em um de seus processos, queima os resíduos sólidos do corte da madeira em uma caldeira, gerando vapor capaz de mover uma turbina. O negócio é tão rentável, que a empresa vende o excedente produzido para o Sistema Elétrico Nacional. Também é possível aproveitar os resíduos do processo para a produção de biocombustível.