Em junho de 2013, Carlos Coimbra assumia a direção do Hospital do Câncer Alfredo Abrão, principal instituição no tratamento da doença em Mato Grosso do Sul. Na época, logo após o escândalo da Sangue Frio, Coimbra apostava e prometeu a entrega de um acelerador linear ao hospital e o fim da terceirização do setor.
42 meses depois, não cumpriu nada do prometido. Assim como em 2013, hoje a rede pública de Saúde do Estado segue com apenas dois aceleradores lineares – equipamento utilizado na radioterapia – um em Campo Grande e outro em Dourados. O da Capital fica justamente no Hospital do Câncer, mas é considerado ultrapassado e sem capacidade para atender a demanda de 160 pacientes ao mês.
Já em 2014, Coimbra garantiu a chegada de um novo acelerador, promessa que nunca saiu do papel. Crítico do ‘sistema anterior a Sangue Frio’, Coimbra por diversas vezes garantiu que a ‘gestão anterior’ do hospital travava a chegada do aparelho. Porém, com 46 meses à frente do hospital, o diretor não fez melhor.
Como diz o ditado popular, enquanto uns choram outros vendem lenços. E o vendedor de lenços hoje é chamado de Radius, a antiga Neorad, pivô de toda a Operação Sangue Frio. Mudou de dono duas vezes, mas manteve o domínio do atendimento em radioterapia de praticamente todo o Estado. Em 2013, deflagrada a operação da Polícia Federal, a Neorad acabou sem os contratos de terceirização com o Hospital do Câncer.
Na época, como hoje, o hospital não tinha capacidade de atender a demanda, e reencaminhava os pacientes para a Neorad, que realizava todo o tratamento. O pagamento era realizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), com verba pública. Estourado o escândalo e sem os contratos, a Neorad foi vendida e depois revendida, chegando nas mãos de um grupo de 24 médicos, que a rebatizou de Radius. Isso ainda em 2015. Dois anos depois, a terceirização não acabou e a Radius continua concentrando e dominando a radioterapia do Estado. No fim, passados praticamente quatro anos da Sangue Frio, e 46 meses de administração de Carlos Coimbra no Hospital do Câncer, a população de Mato Grosso do Sul pode dizer tranquilamente: nada mudou.
Problema com terceirizados
Atualmente, novo problema com o setor de terceirização. O Hospital contratou a empresa Intelad, de Lins (SP), que faz parte do grupo empresarial Manoel Morales, para gerir suas UTIs. Desde o final do ano passado, Hospital e empresa jogam a culpa um no outro para atraso no pagamento de funcionários.
De acordo com a Intelad, o Hospital não faz repasses. Já a instituição diz que tem como provar que está em dia e anunciou que irá reincidir o contrato.
Mudaram os donos, ações são as mesmas
O fechamento do serviço de oncologia da Santa Casa de Campo Grande, maior hospital de Mato Grosso do Sul, depois reaberto aos ‘trancos e barrancos’ é mais um indicativo de que a dependência de empresas terceirizadas para o tratamento do câncer está longe de acabar.
Enquanto isso, a Radius, ex-Neorad, pivô do escândalo da Operação “Sangue Frio”, segue como principal “ponto de apoio” das autoridades de saúde. O problema principal é na radioterapia, realizada na rede pública de saúde por cerca de 160 pessoas ao mês. Em outros tratamentos, como a quimioterapia, a demanda é parcialmente suprida pelo Hospital do Câncer Alfredo Abrão e pela Santa Casa. Isso ao custo de mortes de pacientes, como seis vítimas em 2014.
Hoje, apenas o próprio Hospital de Câncer possui acelerador linear em Campo Grande, equipamento usado para o tratamento via radioterapia. A Santa Casa não oferecia o serviço, porém era uma das instituições para as quais o Ministério da Saúde tentava encaminhar um aparelho. O fechamento do setor oncológico da Santa Casa significa um hospital a menos apto a receber um acelerador linear.
O Hospital de Câncer ainda tenta ganhar mais um aparelho, mas não tem prazo para recebê-lo, mesma situação do Hospital Regional e do Hospital Universitário. Como a capacidade de atendimento na rede pública é de, no máximo, metade do necessário, o restante da demanda é atendido em clínicas terceirizadas, com destaque para a Radius.
Radius é o novo nome da empresa Neorad, foco da Operação “Sangue Frio”, da Polícia Federal, que desmantelou suposto esquema de desvio de dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS) e de desmonte da rede pública de atendimento. Após a operação, o comando da Neorad passou de mãos, e a empresa mudou de nome. Porém, agora chamada Radius, a empresa ainda detém grande parte dos atendimentos de radioterapia pelo SUS, aproveitando o fato de os hospitais não suportarem a demanda.
Dos atuais diretores da empresa, grande parte já atendia na antiga Neorad. Hoje, o Hospital de Câncer tem capacidade para atender, no máximo, 80 pacientes de radioterapia ao mês, enquanto a demanda média gira em torno de 160 pessoas a cada 30 dias.