Dezenove entidades se reuniram nesta segunda-feira (20) em Campo Grande para discutir estratégias que evitem receio de consumidores e importadores da carne sul-mato-grossense, após a divulgação das denúncias da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. No encontro, que aconteceu na Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) e durou mais de duas horas, as autoridades elaboraram uma carta-aberta, onde classificaram como ‘lamentáveis’ boa parte das acusações sobre a procedência da carne produzida em MS.
Assim como o governador do Estado declarou pela manhã, os participantes da reunião garantiram que a carne sempre teve 'excelência de qualidade', mas não negam que pode ter havido falha na inspeção dos trabalhos em frigoríficos para analisar riscos. A carta conjunta deve ser divulgada ainda hoje.
Presente na reunião, o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, declarou que irá a Brasília amanhã (21) para levar a carta e discutir com autoridades sobre o impacto da operação em outros países, como China e Chile, alguns dos principais importadores da carne de MS, que já sinalizaram intenção de cortar relações comerciais. “80% do que produzimos é para o mercado interno, mas é claro que já houve impacto geral. Queremos minimizar esses embargos internacionais, o governo apoia as investigações, até abrimos um canal de comunicação para denúncias. É um problema pontual, nosso sistema é seguro”, declarou.
Operação
Em investigações de esquema de corrupção para burlar a vigilância sanitária, a Polícia Federal identificou o uso de papelão e água para aumentar o peso da carne e até a aplicação de produtos cancerígenos para disfarçar carnes vencidas em frigoríficos de empresas como a BRF Brasil, que controla a Sadia e a Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas.
Essa é a maior operação já realizada na história da Polícia Federal. Estão sendo mobilizados 1,1 mil policiais no Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás, além do Distrito Federal. Apesar da presença de filiais da JBS em Mato Grosso do Sul, o estado não está na mira das investigações.
O objetivo, segundo a Folha de São Paulo, é desarticular suposta organização criminosa liderada por fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, que, com o pagamento de propina, facilitavam a produção de produtos adulterados, emitindo certificados sanitários sem fiscalização.
A investigação foi batizada de ‘Carne Fraca’ em alusão a uma expressão popular que descreve a situação dos produtos encontrados pela Polícia Federal, como carnes podres maquiadas com ácido ascórbico e reembalagem de produtos vencidos, realizada por alguns frigoríficos, e demonstra a fragilidade moral dos agentes públicos que deveriam fiscalizar os alimentos.