Em setembro, a China parou de importar carne do Brasil por conta de dois casos de vaca louca em frigoríficos em Minas Gerais e Mato Grosso.Porém, o brasileiro ainda não sentiu no bolso a queda do preço da carne bovina.
Conforme o G1, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), diz que as exportações de carne bovina in natura e processada recuaram 47% em volume, na comparação com novembro do ano passado. Os dados são compilados a partir das informações da Secretaria de Comércio Exterior, vinculada ao Ministério da Economia.
Com a perspectiva de queda nas vendas para a China no curto prazo, o volume de animais abatidos diminuiu. Com a demanda menor, o preço do boi gordo despencou em outubro, com a arroba cotada a R$ 255, cerca de R$ 60 menos do que no início de setembro, conforme o indicador do Cepea.
Os consumidores brasileiros, entretanto, praticamente não sentiram essa queda no bolso.
As razões
O pesquisador de pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, Thiago Bernardino de Carvalho, identifica pelo menos duas das razões que explicam porque a queda no preço dos bois praticamente não foi sentida no bolso dos consumidores.
Uma delas foi a autorização dada em outubro pelo Ministério da Agricultura para o armazenamento por até 60 dias em contêineres (e não apenas em câmaras frias, como coloca a legislação sanitária atual) do que foi produzido antes do bloqueio, em 4 de setembro.
Assim, a indústria pode manter o produto estocado e não precisou necessariamente disponibilizar o excedente para o mercado interno. Essa dinâmica ajudou a segurar os preços elevados no mercado doméstico.
No fim de novembro, a China deu o primeiro sinal de flexibilização e permitiu a exportação da carne certificada pelo menos até o dia anterior ao embargo (3 de setembro), que foi, então, embarcada para a Ásia.
De lá para cá, a indústria vem reequilibrando seus estoques, enquanto o bloqueio segue mantido.
Outro fator colocado pelo pesquisador está no último elo da cadeia, o varejo. Em sua avaliação, os açougues e supermercados aproveitaram para comprar carne mais barata em outubro para estocar para as festas — e o processo de estocagem, que envolve refrigeração, é custoso, ele pontua.
"O consumidor, se puder, não vai abrir mão da carne, do churrasco no fim do ano. Ele vai cortar outros produtos antes, e o supermercado sabe disso."
Há ainda a possibilidade de o varejo ter aproveitado parte da redução de preços pelos fornecedores para aumentar suas margens de lucro.
Essa foi a hipótese levantada em uma nota dura divulgada no fim de outubro pelo Sindicato das Indústrias de Frigoríficos de Mato Grosso (Sindifrigo-MT), que chamava de "distorção" a diferença de preços entre atacado e varejo e afirmava que ela mostrava "a ganância de um elo que não quer fazer parte de uma corrente da cadeia".
"Os balcões dos açougues e supermercados precisam se engajar na cadeia e não se apresentarem como inimigos", concluía o texto.