Autor de vídeos no Facebook com críticas a políticos de Mato Grosso do Sul, o policial civil Thiago Vargas reclama de perseguição política. Ligado ao PDT, ele foi intimado pela corregedoria da corporação a dar explicações e provar o que disse na internet, especialmente por usar o nome da instituição para atacar adversários do partido que defende.
No entanto, Vargas diz que isso não passa de suposta repressão. Segundo ele, tudo começou quando questionou, na internet, o posicionamento do deputado federal Elizeu Dionízio (PSB). Ele alega que, em um primeiro momento, Dionízio acenou que iria votar a favor da investigação contra o presidente Michel Temer (MDB), mas na votação foi favorável ao emedebista.
''Depois desse vídeo em julho de 2017, fui transferido de Campo Grande para Pedro Gomes a pedido dele [Dionízio]'', alega o policial. Ele acrescenta que o deputado teria ido até a Delegacia Geral de Polícia Civil sob o argumento de visitar a unidade e levar melhorias, mas o objetivo era prejudicar o investigador.
Ainda no ano passado, Thiago diz que se encontrou 'por acaso' com Dionízio, que pediu para o policial retirar os vídeos do ar. ''Ele [Dionízio] justificou que ainda era suplente [de Márcio Monteiro] e que se fosse contra Temer poderia perder a vaga'', destacou o policial. ''Contra a Dilma ele foi um leão, mas contra o Temer não falou nada'', critica o agente.
Vargas e pré-candidatos do PDT - Foto: Reprodução/Facebook
Tucanos na mira
Com as proximidades da eleição, em que o PDT lançou a pré-candidatura do juiz Odilon de Oliveira, o policial intensificou as críticas ao PSDB, com ataques à gestão do governador Reinaldo Azambuja. Entre os vídeos postados no Facebook, o investigador cobra promessa de campanha do tucano que iria reduzir a alíquota do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Thiago Vargas justifica que faz críticas políticas de forma pessoal e não como policial, mesmo com parecer contrário da corregedoria. Apesar de manter amizade com o pré-candidato Odilon de Oliveira, ele garante que não tem pretensões políticas até o momento nem motivação política para atacar alguns pré-candidatos.
A polêmica das postagens voltou à tona durante a recente paralisação dos caminhoneiros. Vargas diz que, com exceção de um deputado federal, os políticos não se manifestaram sobre o movimento que tomou conta do país. Nessa publicação, Vargas coloca a foto de Dionízio com a legenda ''Procurado''.
Explicações
Na última sexta-feira (1), Vargas publicou na rede social que foi comunicado que, para sair de Pedro Gomes, onde está lotado, precisa de autorização da polícia e que deverá prestar esclarecimentos para a Corregedoria da Polícia Civil.
Sobre a polêmica, ele conta que foi chamado até a Delegacia Regional em Coxim, onde foi pedido para excluir as publicações. ''Fui surpreendido com esse comunicado e até minhas férias, agendadas há muito tempo, estão canceladas. Esse povo [classe política] não aguenta críticas'', alegou o investigador.
Vargas diz não saber o que o espera no órgão corregedor e repete sofrer perseguição política. Também alega que possui o apoio do Sindicato dos Policiais Civil de Mato Grosso do Sul, mas tem receio do que pode acontecer. ''Temo até pela minha vida''.
Apesar disso, o policial promete 'intensificar as postagens'. Nesta segunda-feira (4), ao sair da corregedoria, Vargas informou que vai ao Ministério Público Estadual denunciar a suposta perseguição.
O que diz Elizeu
Do outro lado, Elizeu Dionízio diz que vai representar civil, criminal e administrativamente contra o policial. “Registrei uma denúncia na corregedoria da polícia civil contra o investigador de polícia Thiago Vargas porque, nos vídeos dele, ele faz afirmações que, ao meu ver, são injuriosas, imputando crime a mim. Se ele mesmo se identifica como investigador, usa uniforme da polícia, eu imagino que tenha documento para provar o que está falando".
"Quando ele afirma algo, imagino que ele fez uma investigação e está com o fato na mão, então para que ele preste esclarecimentos com provas, eu estou fazendo encaminhamento também ao Ministério Público, Justiça Civil, Justiça Criminal e Tribunal Regional Eleitoral porque entendo que esse movimento todo é com objetivo eleitoral, como se candidatou - e não obteve êxito - na última eleição. Ele não tem propostas e aproveita desse momento para se colocar como arauto da verdade”, diz o
O deputado destaca que “todo cidadão brasileiro tem seu direito de expressar, independente de classe, religião, raça, condição social”, no entanto “expressar o sentimento político é diferente de fazer acusação”. “Ele pode discordar de mim, ninguém é unânime, agora imputar crime não pode. Liberdade de expressar não pode ser confundido com agressão”, enfatiza.parlamentar.
Segundo Elizeu, Thiago o acusa de ser responsável pela transferência dele para Pedro Gomes, mas isso não está entre as atribuições de deputado federal. “Eu quero saber porque ele diz isso, como eu faria a transferência dele? Eu não tenho caneta para transferir alguém, servidor público é atribuição do Poder Executivo”.
Por fim, o parlamentar aponta declarações de Thiago que seriam inverdades. “Ele afirma que eu embolsei R$ 2 milhões por uma votação. Se ele acha que coloquei R$ 2 milhões no meu bolso, eu imagino que ele tenha esse documento, o extrato da transferência bancaria, um vídeo. Tem que provar. Ele é um investigador de polícia civil, faz essa função de polícia judiciária, não faz policiamento ostensivo. Eu imagino que ele tenha prova”, disparou.
Pode ou não?
Consultado pelo TopMídiaNews, o delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Marcelo Vargas Lopes, explicou que Thiago é suspeito de infringir diversas normas da Lei Complementar 114, que rege a conduta dos policiais civis.
“Ele politizou a questão, é filiado ao PDT, está apoiando candidaturas contrárias ao governo e está criticando políticos. Ele pode fazer isso, mas o problema é que ele está se identificando como policial, usando camiseta da corporação, expondo a instituição e pode responder administrativamente”, explica.
Marcelo enfatiza que o investigador “pode se manifestar, ter filiação partidária, ter opções de voto, mas não pode ofender as pessoas”. Segundo ele, “tem boletim de ocorrência feito pelo deputado Elizeu Dionízio em que ele acusa Thiago de injúria, calunia, difamação. Ele vai responder por todos os atos que praticar como pessoa física e como policial”.
De acordo com o delegado-geral, o caso ainda deve ser analisado pela corregedoria, mas o policial civil corre o risco de receber a pena de suspensão das funções.
A reportagem tentou contato com a chefe da corregedora, delegada Roseli Molina, mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria.