A administradora Marcia Fernanda de Mello Concha conta que, diante do ‘aperto financeiro’, decidiu se tornar motorista de aplicativo nas horas vagas. No entanto, apesar de conseguir uma boa renda, conta que mulheres precisam aprender com as dificuldades do dia a dia.
“O campo estava escasso e a renda baixa, tipo eles querem pagar R$ 1.200, onde e como sobreviveremos com isso? Vim do Mato Grosso, onde trabalhava no financeiro e administrativo de uma empresa. Trabalhar como motorista de aplicativo foi uma alternativa”, conta.
A aposentada Thania Sehn, 58 anos, também viu na profissão uma forma de aumentar sua renda.
“Precisava aumentar minha renda, então pesquisei por algum tempo, conversando com os motoristas de aplicativo, resolvi começar e deu certo. Já estou há um ano e meio na área. O trabalho noturno para nós mulheres é um pouco mais complicado, porém superamos. Eu trabalho à noite também”, comenta.
Preconceito e cliente ‘folgado’
Elas contam que piadas e constrangimentos ligados à questão da direção fazem parte da rotina, e que muitos duvidam que uma mulher possa ser uma boa motorista.
“Na minha opinião, a maior dificuldade é o preconceito do homem quando uma mulher está na direção. Tipo, ele fica cuidando semáforo, 'olha a moto', 'você tem que virar na próxima rua' e etc”, pontua Thania.
Já Márcia comenta sobre a ‘folga’ de alguns clientes, que não entendem a limitação na quantidade de transporte de passageiros.
“Têm pessoas que querem andar com cinco ou mais pessoas, crianças sem cadeirinha, ou seja, pessoa que se você fala da segurança e, claro, das multas, ficam bravas. Pessoas difíceis, difíceis mesmo”, diz entre risos.
Assédio e assaltos
Trabalhar como motorista de aplicativo também requer muita atenção, já que esses profissionais ficam muito expostos a assaltos. Para se protegerem, muitos motoristas evitam bairros considerados perigosos depois de certo horário e buscam estar sempre em contato com outros motoristas.
“Com a ajuda dos meninos grupo ‘cem destino’, eu fico mais à vontade, tipo eles estão sempre ali. Muitos assaltantes ficam de olho. Já passei um aperto em uma corrida, entraram dois jovens, com idade aparente de 16 e 17 anos, ambos dentro do carro falando que tinham armamento pesado, que estavam tirando CNH para levar os carros que outros roubavam tipo Uber. Isso da Moreninha III para a Rui Barbosa. Eu, sozinha no carro, passou uma viatura na frente e eu dei luz alta para a viatura. Duas quadras depois eles estavam ali parados cercando, parei no semáforo, pediram para desembarcar antes do local solicitado”, comenta
Thania destaca que, durante o período que atua no ramo, ainda não passou por nenhuma situação de risco, no entanto, já viu acontecer com colegas e toma cuidado dobrado.
“Não fui assaltada, só já passei alguns medos, não é fácil, você sendo mulher, pegar 1h da manhã um passageiro em um bairro qualquer e colocar dentro do seu carro. Conheço motoristas que já foram assaltadas”, destaca.
Outro fato chato que precisam lidar é o assédio. Elas destacam que muitas vezes é preciso ter jogo de cintura.
“Olha não tive problemas ainda né, mas temos muito assédio, isso sim. Mas nada que um diálogo e uma boa saída pela tangente, né?”, comenta Márcia.
Thania relata que a reclamação de assédio é comum também por parte das passageiras.
“Nunca sofri assédio não, mas muitas de passageiras contam que passam apuradas nas mãos de motoristas sem noção. Quando a gente chega para pegar a passageira mulher, ela entra dá um suspiro e fala: 'ai, que bom que é mulher'", conta.