A morte, a pauladas e envenenamento, de um cachorro no mercado Carrefour, que chocou o Brasil, tem significado muito mais profundo, e demonstra o uso da agressão como resolução de problemas de forma endêmica em nossa sociedade. A opinião é do psicólogo e neurocientista Ricardo Tiosso Panassiol, de Campo Grande.
O animal foi brutalmente morto na unidade do mercado de Osasco (SP), mas a revolta se alastrou por todo o País. “O uso da agressão para a resolução do problema pode ter várias origens e é endêmico na nossa sociedade. Em geral, indica um histórico da pessoa com o uso da violência como principal forma de resolver problemas e uma dificuldade em apresentar comportamentos empáticos”, afirma o neurocientista, mestre no tema pela Universidade de São Paulo.
O crime teria sido cometido pelos seguranças da unidade, e é investigado se houve ‘ordem superior’ no caso (leia aqui). “O histórico do uso da violência pode ter vindo de uma vida moldada em um contexto violento, com pessoas que serviriam de modelo fazendo uso de tal medida na resolução de conflitos”, explica Tiosso.
O profissional ainda ressalta que o contexto social tem influência preponderante em casos como esses. “Muito provavelmente ele não mataria o animal, mas há a questão das tais ordens superiores, o medo de perder o emprego, e a própria condição social e familiar, onde muitas vezes a violência é apresentada como solução pra tudo”, diz.
“Com as informações que temos e pelo triste resultado da violenta morte do animal, temos indícios de uma pessoa que tem dificuldades em ser empática e adotar rotas pacíficas na resolução do problema”, argumenta o psicólogo. Ele ainda vai além: ‘a morte do animal acaba evidenciando um contexto cultural muito maior, no qual a precariedade do nosso processo de aprendizagem cria pessoas com sérias dificuldades emocionais’.
TRANSTORNO?
Porém, Ricardo Tiosso faz questão de esclarecer que a violência contra o animal não necessariamente significa um transtorno do agressor, pelo ponto de vista psicológico.
"O conceito de transtornos de personalidade é bem complexo e seu diagnóstico demanda teses muito refinados que passaram por rigorosos processos de validação. Assim, é muito difícil afirmar que a pessoa que agride um animal apresenta transtornos de personalidade ou desvios de caráter sem uma abordagem mais profunda da história. Esse tipo de avaliação demanda sempre um cuidado muito grande, ainda mais no contexto de comoção que a agressão do cachorro pelo segurança do Carrefour causou”, explica.