Há um mês, dona Marisilva recebeu a pior notícia da vida. Há um mês, por volta do meio dia e meia, eles receberam a notícia da parada cardíaca que levou o caçula à morte. E Luciano também. Apegado com o irmão Wesner Moreira da Silva, ele já comemorava que o grande amigo estaria logo em casa, quando uma súbita piora no estado de saúde, tirou seu companheiro. Wesner tinha apena 17 anos, o sonho de ajudar a mãe em casa, de tirar CNH, servir o quartel e ainda comprar um carro.
O pai, em tratamento de câncer, estava com dificuldades de trabalhar. O objetivo dele era "fazer uma compra grande para a mãe", que contou que o rapaz era grato ao amigo, que tinha levado ele para trabalhar, já que o adolescente, acreditava piamente que conseguiria melhorar de vida por meio do trabalho. Mas foi no mesmo lava-jato, onde ele conseguiu o primeiro emprego, tão comemorado, que Wesner encontrou a morte.
Lá, seu patrão Thiago Giovanni Demarco Sena e o colega de trabalho Willian Larrea, pegaram uma mangueira de compressor de ar e numa sinistra atitude, chamada pelos dois de “brincadeira”, colocaram no ânus do menino. A violência foi tanta, que Wesner precisou ser submetido a uma cirurgia de emergência, teve boa parte do intestino retirada. Foram onze dias de luta na Santa Casa de Campo Grande. Todos torciam pelo menino franzino, que às vezes chorava e evitava falar do ocorrido.
Ali, começou o calvário da família, que agora, vive dias de luta e tristeza, e pior, o apoio que o advogado de Thiago afirmou que viria, nunca se tornou realidade.
“Os dias da minha mãe são só de tristeza e do meu pai”, conta Luciano. Ele que sempre conversou com a reportagem, já havia comemorado a melhora do irmão, hoje divide a revolta. “Nunca nos procuraram, nem para o acerto trabalhista, nem para nada. Nem um pedido de desculpa já que foi um acidente como ele disse né”, questiona-se.
Para o irmão, nada traria a vida de Wesner de volta, mas o sentimento é de injustiça “Sumiram, desapareceram, continuaram vivendo e nós morremos com meu irmão, meu pai e minha mãe vivem tristes”, lamenta.
Momentos alternam entre raiva e revolta
“Não tem como não sentir raiva, o pior, é que nem o gosto de sentar em frente de casa minha mãe tem mais, já que a família do Willian, que era de dentro da minha casa, trata a gente, como se nós fossemos os assassinos, não ele”, conta Luciano que nunca mais viu o vizinho, mas a família é obrigada a ver os olhares de censura da esposa, da mãe e dos irmãos de um dos acusados.
Dizem que Willian nunca mais apareceu, pelo menos ele nunca mais ou viu. “Ele sumiu, só a mãe e a mulher dele que ficam olhando, de cara feia, mas minha mãe vive triste por culpa desses desgraçados”, desabafa.
Thiago, apesar de ter prometido via seu advogado que daria assistência, sumiu. A Justiça negou o pedido de prisão dele e de Willian, e nem mesmo os incansáveis apelos e manifestações com apoio da população levam algum tipo de esperança de punição para a morte de Wesner.
Os dois seguem livres, leves e soltos após a justiça negar o pedido de prisão solicitado pela polícia. "A família que segue presa, na tristeza", diz o jovem, que chegou a pensar em vingança, mas hoje precisa cuidar da mãe.
Morte no lava-jato
O caso, ganhou repercussão nacional, quando no dia 3 de fevereiro em um Lava Jato na Capital. Foi numa sexta-feira, durante o expediente no lava jato, Thiago e Willian seguraram o jovem e com uma mangueira de compressor de ar usada na limpeza dos carros, apontaram o jato de ar para as nádegas dele. O ar entrou pelo ânus e gerou um rompimento no intestino. O rapaz foi submetido a uma cirurgia para retirada de 20 centímetros do intestino, ficou internado em estado grave. Após uma breve melhora no quadro, a vítima morreu de parada cardíaca no dia 14 de fevereiro, na Santa Casa da Capital.
Há um mês, Campo Grande chorou junto a morte de Wesner.