Oito cirurgias somente na cervical, dezesseis no total. Três vértebras quebradas, tetraparesia temporária, sete fraturas na face, quinze costelas quebradas, um pulmão perfurado, fraturas no quadril, no braço direito, um baço retirado, pneumonia e sessões de hemodiálise. Foram quase cinco meses hospitalizada.
Nilda Pereira Coelho Alaman, 43 anos, seguia de moto após deixar o trabalho quando foi atingida por um veículo que vinha na direção contrária. Ela foi arrastada por aproximadamente dez metros e o motorista do outro veículo fugiu sem prestar socorro deste acidente, ocorrido na Avenida Jerônimo de Albuquerque, bairro Nova Lima, em Campo Grande, no dia 11 de agosto do ano passado.
Esposa de um bombeiro militar que passou 20 anos da vida socorrendo vítimas de acidentes como este, agora era ela quem precisava de atendimento imediato. O 3º sargento Adriano Alaman passava a semana em Paranaíba, local para onde havia sido transferido recentemente. E foi lá, no quartel onde estava de serviço, que recebeu a notícia por meio de um telefonema do filho.
“Estava jantando, deixei o celular na mesa e fui lavar o prato. Quando voltei, tinha um monte de ligação. Uma moça me falou que ela tinha sofrido um acidente grave, que estava sendo levada pelo Samu. Mas eu não tinha noção da gravidade. Liguei para o meu filho caçula e ele não sabia de nada. Liguei para o mais velho e ele estava em estado de choque. Peguei o ônibus às 5h da manhã para Campo Grande”, relatou.
Após 123 dias de internação, Alaman conseguiu a transferência da esposa da Santa Casa para o Hospital São Julião, na saída para Cuiabá, em Campo Grande. Sobre o acidente, Nilda diz não ter lembranças. “Só lembro de estar parada no semáforo e ter arrancado com a moto depois que ele abriu. Mas do carro me arrastar e tudo mais, essas partes eu não lembro. Só sei porque os outros me contaram”, afirmou deixando evidente a amnésia traumática que sofreu.
“Outro dia estávamos no pátio do hospital e ela avistou um Monza estacionado. Ela me perguntou se tinha sido um daquele que a pegou. Eu concordei e ela começou a chorar pensando como podia ter sido arrastada embaixo daquele carro que era tão baixinho”, contou o esposo emocionado.
O motorista responsável pelo acidente foi localizado na mesma semana após investigações feitas pela família e acabou se apresentando à polícia, mas responde em liberdade. Ele alega não ter visto a motociclista. Disse que ela estava de faróis apagados e garante não ter bebido no dia do acidente. “Isso ele não iria dizer”, reclamou o marido.
Mesmo diante de toda essa situação, Alaman diz não sentir raiva do motorista. “Não desejo mal a ele, mas confesso que penso que deveria pagar pelo que fez, nem que fosse com trabalho”, reclamou. “Eu preciso tanto de Deus nesse momento que desejar mal a ele acabaria me atrapalhando”, afirmou.
A vítima também garante não sentir ódio, mas o ressentimento ainda existe. “Eu fico chateada porque ele praticamente tomou quase metade de um ano da minha vida. Eu gostava de fazer minhas coisas e agora tenho que aprender tudo de novo. Às vezes é difícil pra mim. Meu marido pede que eu tenha calma, diz que logo vou voltar a fazer tudo o que fazia antes, mas lá no fundo, às vezes, eu fico com raiva, porque ele tirou tudo o que eu gostava de fazer e enquanto eu estou em cima de uma cama, ele está por aí. Mesmo assim sou grata, muito grata por estar me recuperando. Quando o Adriano me mostrou as fotos e eu vi o jeito que fiquei após o acidente, eu não acreditava que tinha ficado daquele jeito. Mas eu agradeço a Deus pela minha vida porque com tudo o que aconteceu comigo Ele me deixou viver, deve ser porque alguma coisa especial tem para mim. Tenho meus filhos que são tudo pra mim, tenho meu marido que não saiu de perto de mim um só momento, isso tem ajudado a me recuperar”, finalizou.