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Cidades

há 6 anos

Presbítero tentou suicídio duas vezes e diz que se 'fase ruim' não melhorar prefere a morte

Conheça a história de João, um campo-grandense que mora no meio do mato

João Antônio dos Santos Cardoso, 28 anos, lavador de carros desempregado, pai de três filhos, tentou se matar duas vezes, frustrou-se amorosamente, perdeu o direito de ver as crianças, a casa, o emprego, está sem dinheiro, perspectiva de vida e, agora, "se nada de bom acontecer", de novo, quer morrer.

Hoje, ele vive de favores para comer e mora num matagal situado no Jardim Monte Alegre, arredores do conjunto Iraci Coelho, parte sul de Campo Grande. 

"Não aguento mais viver deste jeito, preciso de dignidade, do contrário, é melhor morrer", diz João, repetidamente, ao narrar ao que ele chama de "inferno de vida" que enfrenta desde agosto do ano passado. 

A vida de João sempre foi apressada. Ela casou-se aos 15 anos de idade e teve três filhos, dois deles com problemas de epilepsia. A ex-mulher dele também sofre com a enfermidade. Ano passado, deixou o casamento.

"A família dela resolveu cuidá-la. Melhor, as crianças também precisam de cuidados especiais", conforma-se João.
Mas a separação não havia mudado sua rotina com os filhos. "Gosto muito de meus filhos, sempre estive ao lado deles", garantiu

Mas o inferno astral, expressão popular de conotação negativa, passou a rondar João, que teve o cotidiano virado de cabeça para baixo.

Em agosto passado, João, que é presbítero (líder de congregação) da Igreja Palavra de Cristo para o Brasil, conheceu uma mulher divorciada, já com duas filhas, 11 anos mais velha que ele. Colega de igreja, João disse que o amor que sentiu foi "fulminante".

"Conhecemos num dia, erramos naquela noite [prática sexual, ato censurado na igreja de João, antes da união] e noutro dia já estávamos juntos", recorda o presbítero, que foi morar com a amada, no bairro São Conrado, logo depois da paixão arrebatadora.


Ia tudo bem, até que uns 20 dias depois, um incauto do tipo: João sentiu-se como se tivesse comprado gato por lebre, segundo ele.
Todos os dias o presbítero retornava do trabalho por volta das 7 da noite, mas, naquele 26 de agosto passado, aniversário de Campo Grande, sem recordar o motivo, saiu três horas antes.

De volta, abriu o portão sem ser notado e logo entrou indo direto para o quarto, onde foi sucumbido por uma perturbadora desilusão.
Na cama, a mulher e um amigo de década, também presbítero. "Cai num desespero. Disse pra ele: você diz ser crente, por que fez isso comigo?".

Estupefato, João voltou para o ponto de ônibus e seguiu rumo ao shopping Campo Grande, onde desceu numa parada antes. "Fui para o viaduto, sabia que pessoas que queriam se matar iam ali. Então, fui também", disse o presbítero.

Foram minutos de agonia, segundo ele. Um oficial do Corpo de Bombeiros tentou tirá-lo de lá. "Pedi que ele ligasse antes para a mulher. A ligação foi feita, em viva voz, e ouvi dela: não quero mais saber dele", lembra João.

Depois de ouvir a negativa, o presbítero despencou do viaduto, um elevado de uns cinco metros. "Não vi mais nada, fui levado para o hospital, onde fiquei no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) por três meses", disse João, que teve a cabeça partida em ao menos quatro partes, mas sobreviveu.

Para salvar o presbítero, os socorristas fizeram no local do incidente uma intervenção cirúrgica em João, a conhecida traqueostomia, abertura na traqueia para a passagem de ar.

Fora do hospital, em outubro, João amargou outras perdas, como o emprego e a casa.
"Fiquei sem onde morar, não pude mais ver meus filhos e minha mulher ainda foi na delegacia e conseguiu uma medida protetiva para que eu não fosse mais na casa dela", narra.

Sem rumo, João foi morar onde costumava ia antes "orar com os evangélicos amigos".
Fica no Jardim Monte Alegre, num terreno da prefeitura, que o chamam de "Monte". É uma mata fechada com vários barracos de lona frequentada por pessoas que vão lá rezar todos os dias.

SEM CASA

Num dos barracos, sem qualquer infraestrutura, mora João, cujo móvel que tem é a apenas um colchão sem lençol.
"Não quero mais isso. Isso não é vida, quero dignidade. Não posso mais ver meus filhos. E se perguntarem para mim: onde você mora? Vou dizer o que? No mato? Não tenho como nem buscá-lo (os filhos e a ex-mulher do primeiro casamento de João moram com parentes)".

Em dezembro passado, João dormia no barraco e, ao acordar viu a  ex-mulher que traíra com o desafeto - os dois também frequentam o "Monte" para atividades religiosas.

"Não aguentei ver aquilo", afirmou João, que deixou o local e foi para o terminal Aero Rancho. Lá, atirou-se na frente ao ônibus e, de novo, sobreviveu.

Ele disse que vive seu pior momento. "Hoje, como se as pessoas me derem, do contrário passo fome. Estava trabalhando para a prefeitura de Campo Grande (Funesp, Fundação Municipal do Esporte), fui demitido, mas não me pagaram os dias trabalhados", disse João, que calcula ter direito a uns R$ 500.

Com o dinheiro, ele planeja alugar um quarto que já viu no valor de R$ 200. "Vou pagar dois meses adiantadas e sair daqui [Monte] por que aqui não é lugar para viver. Quero retomar minha vida, rever meus filhos. Do jeito que está não dá", queixou-se.

Com toda esta trajetória, contudo, João, o presbítero, disse que se a amada quisesse, ele retomaria a relação. "O que senti por ela nunca senti por outra mulher".

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