O ministro do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles, e um grupo de empresários de São Paulo são alvos de investigações da polícia e Ministério Público paulista, por suspeita de duas mortes, além de atentado à bala contra o engenheiro Eduardo Bottura. Conforme apurado até o momento, a motivação para os crimes seria o fato de Bottura e sua família cobrarem na Justiça - e ganharem - dívidas que somam R$ 200 milhões.
Salles e Bottura são desafetos há mais de dez anos. Assim que obteve ganho de causa, o engenheiro, que atuou em Mato Grosso do Sul e hoje mora em Portugal, alega que passou a ser vítima de dossiês, calúnia e difamação por parte do hoje ministro do Meio Ambiente.
Na queixa-crime que apresentou ao Supremo Tribunal Federal contra Salles, recentemente, por calúnia e difamação, Eduardo narra que Ricardo usou de sua influência enquanto secretário pessoal de Geraldo Alckmin (PSDB ) e também titular da pasta do meio ambiente no governo paulista para, junto de autoridades da política e do Judiciário, forçá-lo a fazer acordos em relação às dívidas ou fazê-lo desistir das cobranças contra o grupo que representava.
Porém, o caso não para por aí. Na mesma queixa-crime, Bottura transcreve trechos de investigação da Polícia Civil contra Ricardo e o grupo Bueno Netto. Assim escreveu o Ministério Público:
''A associação [criminosa], conforme a documentação juntada aos autos, possuía um núcleo cuja função exclusiva era a falsificação de documentos e a coação permanente da vitima Luiz Eduardo e de sua família, inclusive com a utilização de sites pagos para difundir noticias desairosas (atacando-os desde 2007), com dossiês, provas e testemunhos falsos''.
Trecho de inquérito reproduzido pelo MP-SP. (Foto: reprodução)
O Ministério Público de SP descreve mais um trecho do inquérito contra Salles.
''Aparentemente, Ricardo [Salles] teria se utilizado de tal prestígio para realizar visitas a gabinetes do Tribunal de Justiça, praticando crime de exploração de prestigio – conforme oficio enviado ao TJSP questionando sobre a presença de Ricardo de Aquino Salles no local (fls. 1106/1111), obtendo-se como resposta assertiva de que era comum ele comparecer ali, com indícios de que tais visitas tinham por finalidade a distribuição de dossiê e acompanhamento dos advogados da Bueno Netto, em que pese não possuir procuração''.
Porém, o fato mais grave atribuído ao ministro estava por vir. Bottura figura como vítima de um atentado à bala, sofrido em São Paulo, ocasião que destaca que só se salvou dos tiros por estar em um veículo blindado.
Atentado
No mesmo documento direcionado ao ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo, Bottura inclui trechos do inquérito contra Salles, onde um delegado, não identificado, descreve que Eduardo Bottura trouxe uma série de provas que ''demonstram que somente essa suposta organização criminosa, é que teria interesse em atentar contra sua vida, num caso em que não houve roubo tentado e sim uma investida contra a sua integridade física mediante “bala”, motivo pelo qual REPRESENTO à Vossa Excelência que sejam acolhidos os pedidos de fls...''
Para dar mais robustez a sua denúncia no Supremo, Eduardo inclui na queixa-crime recorte onde há um pedido de quebra de sigilo bancário, telemático e extratos das contas telefônicas contra o ministro e sua turma.
Polícia pede quebra de sigilo de Ricardo Salles por suposto envolvimento em morte. (Foto: Reprodução)
Gravíssimo
Não bastasse o atentado contra Eduardo Bottura, a polícia suspeita que mais duas mortes, sendo as vítimas testemunhas-chave em um dos processos contra o grupo Bueno Netto, podem ser obra do grupo que chama de ''criminoso''.
As duas mortes ocorreram em 27 de novembro de 2017, na Praia do Ponta do Pirambu, em Natal (RN), em circunstâncias misteriosas. Os locais dos supostos assassinatos foram descritos pelas autoridades como ''desertos''. Uma das vítimas era Olimpio Carlos Teixeira, contador que foi secretário de finanças de Campo Grande e secretário estadual de Privatização. A outra vítima foi o cunhado dele, Vicente de Paschal.
No entendimento policial, as mortes ocorreram exatos cinco dias depois que o grupo de Ricardo Salles descobriu que o MP-SP autorizou busca e apreensão em pelo menos seis escritórios ligados ao grupo. Já o atentado contra Bottura ocorreu dez dias após os afogamentos, no dia 7 de dezembro.
Em sua defesa, Salles afirmou que Bottura é um ''litigante profissional'', ou seja, entra na Justiça com frequência com processos contra quem não atende seus interesses. Conforme Eduardo, essa crítica do ministro foi publicada em 75 jornais e sites de notícias em todo o país e por isso o atual ministro incorre no crime de difamação.
À época, Salles continuou as críticas: ''ele [Bottura] tem predileção por me atacar porque tenho vida pública e agora sou cotado para ser ministro do meio ambiente''.
O TopMídiaNews entrou em contato com o ministério do Meio Ambiente para obter resposta atualizada de Ricardo Salles, mas não houve resposta até agora.