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Cidades

07/03/2018 07:00

Suposto cartel anula até licitação de cidade de MS e empresário trabalha em prefeitura

Empresa venceu, mas certame foi anulado por influência de empresário que trabalha para município

Suspeita de fraude num processo licitatório por meio do conhecido pregão presencial, regulado pela prefeitura de Brasilândia, no fim do ano passado, vai parar na Justiça.

Motivo: empresa de Campo Grande venceu a disputa, foi anunciada em Diário Oficial como a melhor proposta, mas, depois, por influência de uma concorrente, cujo dono é prestador de serviço da prefeitura, o certame foi extinto, ou seja, a concorrência, embora propagandeada pelo município, deixou de existir.

O serviço disputado era pela contratação de empresa especializada para prestação de serviço de levantamento e criação da base geodésica da cidade. O trabalho é o mesmo que uma sondagem topográfica, que determina os pontos de referência que ajuda a situar os elementos do terreno.

Representante da empresa vencedora, a TOPX Topografia, Douglas Centurião, consultor empresarial, disse ter notado anormalidade na concorrência logo no início. Para disputar o serviço, a prefeitura de Brasilândia exigiu que o engenheiro agrimensor responsável pela empresa devesse ter concluído o curso de especialização em nível de pós-graduação. Para Centurião, a exigência seria desnecessária: “isso [pós-graduação] não consta no artigo da lei 8.666, que é a lei das Licitações”.

O consultor revelou que “informalmente” foi ao Tribunal de Contas, em Campo Grande, saber se, de fato, era preciso ter concluído a formação acadêmica em questão para participar do certame.

A corte, disse Centurião, também informalmente teria, por telefone, avisado a prefeitura de Brasilândia que a pós-graduação exigida, por regra, não era obrigatória. O município, em seguida, acatou a orientação e tirou a cláusula. “A prefeitura reabriu a licitação sem a exigência”, disse o consultor.

Daí, em 5 de dezembro do ano passado, a prefeitura promoveu o pregão que envolvera quatro empresas: a TOPX, Topsat Ambiental, US Serviços de Engenharia e a Sucess. Venceria a empresa que apresentasse a menor proposta, cujo valor do serviço fora fixado em R$ 188.247,00. Ganhou a licitação a TOPX com o lance de R$ 128 mil.

Já perto de assinar o contrato com a prefeitura, segundo o consultor, a Sucess ingressou com recurso pedindo a anulação da disputa. Douglas Centurião sustentou em sua defesa que a empresa empresa perdedora protestou o resultado fora do prazo, ou seja, depois de cinco dias do desfecho da concorrência.

“Logo em seguida recebemos e-mail da prefeitura dizendo que a licitação tinha sido cancelada e nem nos deram o direito ao contraditório e ampla defesa, como exige a lei”, contestou Centurião.

Inconformado, o consultor foi à prefeitura de Brasilândia entender as razões do cancelamento. Lá, disse ele, descobriu que a empresa que manifestou-se pela anulação do certame, a Sucess Sistemas de Gerencialmente Eirelli, propriedade de Celso Rubens Smanioto, com sede em Campo Grande.

“Entrei em todas as salas da prefeitura e, numa delas, vi o Celso [dono da Sucess] cumprindo expediente dentro do núcleo de contabilidade, onde todas as licitações passam antes de acontecer”, afirmou Centurião.

O consultor disse ter descoberto que Smanioto cuida de um sistema que controla as finanças do município por meio de contrato anual no valor de R$ 140 mil.

Para provar sua descoberta, Centurião filmou o dono da Sucess sentado numa das mesas da repartição. "Chamamos uma tabeliã e fizemos uma ata notarial atestando que o mesmo [Celso] estava trabalhando dentro da prefeitura, com espaço, mesa e computador. Tudo certinho. (ver vídeo nesta página)

Para Centurião, Smaniotto não poderia entrar na concorrência por conhecer os planos financeiros do município, incluindo os processos licitatórios
Agora, o consultor prepara um mandado de segurança para garantir o serviço no município conquistado pelo pregão presencial. “Isso [suspeita de fraude] é um ato de improbidade administrativa, é um conluio, um mini cartel”, afirmou.

PREFEITURA NEGA

Douglas Centurião, consultor, que denunciou o caso

A assessoria jurídica da prefeitura de Brasilândia discordou do consultor sobre a exigência de o dono da empresa concorrente ser pós-graduado. Luciane Palhano afirmou que o município retirou a exigência por iniciativa própria, não por orientação do Tribunal de Contas, como disse Douglas Centurião.

Luciane narrou que no recurso, a Sucess pediu a anulação do certame porque a TOPX teria recebido “com  exclusividade informação de suma importância para a elaboração da proposta, imperioso o reconhecimento do vício insanável”. 

Ou seja, o responsável pelo pregão presencial mandou, por e-mail, informação sobre a licitação apenas para a TOPX, não para as outras concorrentes.

Centurião admite que fez questionamentos ao pregoeiro, mas que isso poderia ter sido feito também pelas empresas que entraram na disputa. 

O questionamento tinha relação com o Sistema de Informação Geográfica. 

Diz o recurso da Sucess, que pediu a anulação: “Em resposta, o Ilmo. Pregoeiro disponibilizou a informação que o mesmo [serviço] não precisaria ser desenvolvido em uma plataforma WEB (SIGWEB). Esta informação deveria ter sido repassada a todos os participantes cadastrados previamente a Licitação, para melhor esclarecer o desenvolvimento da ferramenta SIG, pois supõe-se na atualidade que a consulta e uso dos dados vinculados a um SIG Multifinalitário se fariam usando a internet para permitir o compartilhamento de dados e geração da informação georreferenciada”.

De lado o argumento técnico, para o dono da Sucess, com a informação, a TOPX pode reduzir o lance na hora do pregão e que se soubesse o dado especificado pelo pregoeiro também poderia baixar o valor de sua proposta.

A advogada Luciane Palhano admitiu que o empresário Celso Smaniotto mantém contrato com a prefeitura, mas não no setor de licitações. Ela afirmou também que, por lei, o dono da Sucess, mesmo atuando pela prefeitura, poderia entrar na disputa em questão.

Luciane contou que é intenção da prefeitura de Brasilância em retomar a licitação anulada ainda neste ano.
Celso Smaniatto, o que tem contrato com a prefeitura, é engenheiro cartográfico, mestre em ciências cartográficas e professor de universidade.

VEJA O VÍDEO:

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