Abadia Rodrigues Nogueira, mais conhecida como ‘Abadia de Osum’, foi iniciada no Candomblé, religião de matriz africana, há 16 anos, e conta que durante sua caminhada já precisou lidar com diversas situações de preconceito e ignorância por quem desconhece a religião.
Como forma de diminuir essas adversidades, ela decidiu, com a ajuda da Subsecretaria de Segurança Pública para Mulheres, Miriam Pereira, criar o ‘Coletivo Mulheres de Axé’.
“A ideia é conseguir mais espaço dentro da sociedade. Nossa religião sofre muito preconceito. Estamos tentando ganhar mais respeito, ter mais direitos de cultuar nosso sagrado. Às vezes, você sai na rua ou vai fazer algum tipo de trabalho, você vai a caráter e já tem aquele preconceito das pessoas, gente te olhando torto”, relata.
De acordo com a mãe de santo, o preconceito é tão grande que invade até mesmo o ambiente corporativo.
“Até no emprego, você não pode falar qual sua religião que o povo já te repreende, então a gente está nessa luta para ganhar esse respeito. Se você trabalha em um lugar e você fala sua religião, alguns falam ‘ah, por que você conversou com ela?’, ‘ela vai fazer macumba pra você’. Comigo aconteceu esse preconceito, eu trabalhava em um lugar e era responsável por fazer o café, todo mundo sabia que eu era da religião, mas eles não falam que é do candomblé, eles falam macumbeiro. Tinha uns que falavam ‘ah, você vai tomar o café da macumbeira?’, ‘não toma, se tudo mundo não tomar o café da macumbeira, vão mandar ela embora’. Eu já tive essa experiência”, desabafa.
Outra situação, segundo Abadia, é na escola onde a filha estuda. Ela conta que, por mais de uma vez, a filha foi ‘exorcizada’ por colegas, devido à religião. “Colocaram a mão na cabeça dela para expulsar demônios”, lembra.
Focada em mostrar a riqueza do Candomblé e diminuir esses episódios, ela foi até a prefeitura e apresentou a proposta do ‘Coletivo Mulheres de Axe’ ao prefeito Marquinhos Trad (PSD).
“Mostramos, falamos sobre o espaço que queremos, foi bem proveitoso. Ele nos acolheu, pediu para levarmos os projetos, pediu esforço nosso também”, garante.
Ela acredita que disseminando o conhecimento, falando da vertente e de como funciona ao Candomblé, através desse espaço, será uma vitória grande.
“Geralmente quem fala tem uma visão muito voltada que a gente cultua o diabo, só que se estudassem, pesquisassem, entenderiam qual a filosofia da religião, eles não teriam esse pensamento”, finaliza.