Uma grave denúncia envolvendo o diretor de uma escola estadual em Campo Grande traz meandros de uso indevido do dinheiro da comunidade escolar, conversas inapropriadas com alunas e até mesmo assédio sexual contra uma de suas subordinadas. O acusado é diretor da Escola Estadual Marçal Souza Tupã-Y.
O caso foi parar na Justiça após a mulher - que a repórter prefere manter no anonimato - denunciar as irregularidades. Ela teria sido exposta diante da comunidade escolar e exonerada à pedido do diretor. No processo judicial que impetrou após a saída do emprego, ela revelou conversas onde o diretor 'cobrava' nudes da funcionária, ou seja, o envio de fotos nuas. Mesmo com a negativa da mulher, o diretor não desistiu e continuava pedindo as fotos.
Após sua exoneração, os alunos fizeram até um protesto em frente ao colégio pedindo usa volta.
“Ele usava o tom de brincadeira, mas sabemos como os assediadores agem. Tudo começou quando ele usou indevidamente um dinheiro arrecadado com a comunidade escolar que seria utilizado para benfeitorias na escola”, explica o advogado André Luiz Godoy Lopes, que está representando judicialmente a servidora estadual.
A defesa explica que o caso chegou à Secretaria Estadual de Educação e, mesmo assim, a exoneração dela foi publicada quase que imediatamente, depois de um pedido do diretor. “A situação foi exposta a alunas menores de idade, eu sempre levei na brincadeira para não parecer que queria briga. Essa história de pedir nudes, eu ficava sem graça, mas tentava não brigar, só que quando soube que ele estava conversando com adolescentes que estudam na escola, fiquei preocupada”, conta a mulher.
Veja parte das conversas:
Ilegalidades
Outro ponto foi o uso de um valor do caixa escolar de R$ 4,8 mil que deveria ficar em posse da APM (Associação de Pais e Mestres) do colégio, mas que foi usado pelo diretor. O montante só foi devolvido após denúncia junto ao Colegiado Escolar e a Coordenadoria de Gestão Escolar (Coges).
“Ele ficou enrolando, falando que ia devolver, mas a comunidade cobrava aquilo que é de direito”, explica o advogado. As conversas entre a denunciante e o educador mostram a preocupação com o destino da verba que foi arrecada pela própria comunidade escolar. O diretor também retirou uma CPU da escola sem a devida autorização para que fosse feita manutenção.
Agora, a vítima pede na justiça a volta ao cargo que tinha antes, além de investigação criminal e civil sobre o caso. “Ele cometeu várias irregularidades, e a punida foi ela, então o caso deve ser visto do ponto de vista judicial, mas visando o bem estar da comunidade escolar”, diz Godoy Lopes.
Segundo ele, a Secretaria Estadual de Educação tem conhecimento dos fatos. “E há apoio da comunidade escolar para que ela volte ao cargo e continue trabalhando, só que hoje não há mais condições deles trabalharem juntos”, observa.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Governo do Estado explicando o caso e o teor da denúncia, porém não foram enviadas respostas. O primeiro e-mail de contato, conforme preconiza a própria secretaria de comunicação governamental, foi enviado no dia 1° de novembro, tão logo foi feito o acesso aos autos processuais.
Conforme regras do próprio Governo do Estado, servidores estaduais só podem falar com a imprensa mediante prévia autorização da assessoria de imprensa estadual. Três e-mails foram enviados (forma como a administração pública pede a formalização do pedido) com a solicitação de posicionamento, mas não foram respondidos.
Um novo pedido de informações foi reforçado no dia 3, porém até o fechamento desta reportagem não houve resposta. A reportagem questionou se a denúncia já chegou na Secretaria de Educação, se há algum tipo de procedimento administrativo em curso para averiguar o que está acontecendo e quais as possíveis punições caso se comprove a culpa do diretor. O número do celular do diretor só deu caixa-postal.